terça-feira, 15 de setembro de 2009

PORCUPINE TREE - THE INCIDENT (2009, ROADRUNNER RECORDS)

Em várias entrevistas, sucessivas por acaso, Steven Wilson eterno líder dos Porcupine Tree foi confrontado com a questão de estes serem os herdeiros dos Pink Floyd para o século XXI. As comparações são extremas e várias. Wilson respondeu que não gosta de ser comparado e afimrado no mundo da música como herdeiro de alguém ou estando na sombra de alguém. Apesar de ser um bom argumento para a afirmação de um artista, não podemos dizer que as comparações sejam descabidas. Mais até é uma comparação honrosa, tendo em conta que os Pink Floyd são consideradas entre uma das melhores bandas de todos-os-tempos. De certeza que Wilson levará isso em linha de conta.
A sua personalidade musical é tão forte que ele consegue ser um David Gilmour em voz e guitarras, um Roger Waters na composição (em especial a paixão por álbuns conceptuais), e ainda um Fernando Pessoa, com uma multiplicidade de facetas musicais extraordinária. Que eu saiba não é esquizofrénico, mas o seu poder criador não pode ser menosprezado.
Também não podemos ser redutores. Há mais pessoas que compôem os Porcupine Tree, tanto que Wilson fez questão de separar os seus projectos a solo da sua banda principal. Tanto que todos eles são marcas da corrente progressiva. Richard Barbieri foi teclista dos Japan ao lado de David Sylvian e Gavin Harrison integrou recentemente ao lado de Tony Levin e o mestre fundador Robert Fripp nos King Crimson.
As sessões de gravação começaram logo após a última digressão europeia que os trouxe cá em duas datas, nas quais Wilson desenvolveu o seu trbalho a solo e aproveitou para produzir mais alguns álbuns, inclusive Opeth. Barbieri produziu também o seu trbalho a solo, Harrison colaboru com os OSI e Colin Edwin foi pai. Foi logo em Fevereiro que a banda declarou que já estava a trabalhar no novo álbum. Como é natural nos Tree, todos os álbuns obedecem a um conceito base, a uma estrutura comum. Neste caso, Wilson continua a preferir abordar a vidfa humana através de uma lente crítica de uma psicologia comportamentalista (ou behaviorista). Com um começo um bocado caótico em Occam's Razor, não deixa de ser um bocado irónico que ao contrário do princípio da parcimónia (ou Navalha de Occam) a vida é sempre vista de uma prespectiva mais complexa ou complicada. O que se confirma em The Blind House «Free Love to all my sisters [....] You don't need to Know the secrets/Believe me».
Mais à frente Wilson assume uma postura bem mais introspectiva e reveladora do que seria de esperar noutros álbuns, por exemplo a solo. Normalmente Wilson tende a assumir a posição do hipnoterapeuta, mas em Time Flies fala-se da falta de tempo, da dele e de todos e da incapacidade de completar todos os nossos desejos, e das referências musicais. Não deixa de ser estranho como a referência a Sgt. Pepper dos Beatles pareça despropositada, apesar de ser uma referência fulcral a qualquer músico contemporâneo.
No épico, que não podia faltar, há espaço para a guitarra se soltar, como já acontecia em Anesthetize de Fear of a Blank Planet. As similitudes com a guitarra ecoante de Gilmour são nítidas, ou não se chamassem solos à Gilmour.
A falha parece ser a dificuldade de as melodias encarrilarem. A métrica parece estar desajustada, e por isso talvez possa demorar a encontrar a afinidade musical no meio do caos. Talvez essa seja mesma a impressão que queriam deixar ficar. Mas a faceta mais agressiva dos Tree não ficoud e fora, aliás remistura-se com as facetas mais calmas, num movimento contínuo. Octane Twisted é a oportunidade para rasgar e a distorção se soltar. Não deixa de ser curioso que Wilson faz questão que a sua voz seja melodiosa e contraste com o instrumental.
O disco parece um pouco disperso e coeso. Esperemos que seja daqueles que se vá entranhando com o tempo.
Ainda contém quatro músicas que foram escritas entre o período de digressão e gravação, Flicker, Black Dahlia, Bonnie The Cat e a excelente Remember me Lover.

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