quinta-feira, 6 de setembro de 2012

DIABO NA CRUZ - ROQUE POPULAR (2012, MURMÚRIO)

Quando apareceram em 2009, os Diabo na Cruz (que sempre foi um projecto de vida do então já sólido cantor a solo Jorge Cruz), representaram uma autêntica lufada de ar fresco na cena musical portuguesa.
Quando questionado sobre o seu projecto, Jorge Cruz afirmou que os Diabo na Cruz representavam o roque (sim rock, mas mesmo lusitano) português. Tal como os Brasileiros haviam arranjado maneiras de reinventar a bossa nova com novas musicalidades, assim se propuseram também os Diabo na Cruz.
Para mim, soou como música estridente, e o brilhante Virou! explodiu, ainda que subrepticiamente, na cena musical portuguesa, e na minh'alma lusitana. Precisávamos de uma banda assim e talvez de muitas outras. Virou! em simultâneo com o combate EP, posteriormente reeditado em formato especial, sabia a tudo, até a pouco. As músicas muito bem, construídas, tinham um ar irreverente, roqueiro, e sobretudo, bem português.
Isso foi o que mais me apelou em Diabo na Cruz, o sentimento de pertença e de identidade que se demarca em toda a sua força e plenitude. As letras são belas, coerentes, e denotam que de facto, o português é uma língua bela e com aptidão musical, capaz de ter uma atitude bem roqueira, sem soar a foleirice. E apesar de apreciar o valor artístico de certos músicos portugueses, há que admitir que o contributo de bandas como os Diabo na Cruz é maior do que o dos rendidos à cultura externa.
E para quem poderia pensar que estava aqui sol de pouca dura, eis que os Diabo na Cruz voltam com Roque Popular, e com uma tarefa tudo menos fácil - igualar Virou!.
A vantagem surpresa, estava à partida ultrapassada, e já com B Fachada fora do barco (para se dedicar aos seus álbuns cada vez mais merdosos e que também já em nada contribuía para a viola braguesa), Roque Popular acabou por se revelar uma pérola, um clássico da nova música portuguesa. Porquê?
Bem, podemos dizer que de facto Jorge Cruz é um tipo que se interessa mesmo pela música portuguesa, e com a colaboração preciosa dos dois Feromona João Gil nas teclas (simplesmente fenomenal), e Bernardo Barata no baixo, as coisas tornam-se mais fáceis. Aliados à bateria omnipresente e plenamente adaptada ao folclore português de João Pinheiro, estão no caminho certo para continuar a cruzada.
A acompanhar a saída de Fachada, para a Viola Braguesa, e para a percussão, foram os recém-chegados Márcio Silva e Manuel Pinheiro, ambos com um currículo respeitável.
Sete Preces, primeiro single de estreia, mostra que os Diabo na Cruz não são bandas para fazer compromissos, nem precisam tão-pouco. A sua música reflecte a sua natureza. E se Sete Preces são uma reflexão sob a natureza portuguesa, já Luzia é uma manifestação da nossa melancolia natural... «Vim às Festas da Sra. da Agonia».
Bomba-Canção é, por sua vez, a abertura  em força do novo disco, o qual já deu lugar ao seu próprio teledisco. Intermitente e poderosa, mais parece a banda sonora de uma feira popular. Já Baile na Eira, associa-se a uma congregação bairrista, e Estrela da Serra uma revisita ao folclore.
Descortinar estas músicas pode ser difícil. Elas imbuem-se no nosso espírito como povo, narra a história de que nós somos, e o reflexo de que vivemos, de uma maneira lírica muito particular. Situação esta que, aliás já acontecia com Virou!. E no seguimento desse mesmo espírito Jorge Cruz e companhia sucedem bem no seu propósito. Agora resta aguardar de ver e ouvir em 3D.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

ZZ TOP - LA FUTURA (2012, AMERICAN RECORDINGS)

De todas as bandas sulistas, os ZZ Top são para mim aqueles que têm maior significado pessoal. Com uma atitude muito simples e directa, eles fundem o blues com o rock da melhor maneira, e sempre com perspectiva muito fronteiriça, quase mexicana, que distanciam-nos um pouco dos red necks puros e duros.
Para além disso são uma banda sólida, com um estatuto lendário, e uma imagem confundível, os ZZ Top podiam encostar-se calmamente, e gozar o resto da reforma ao som La Grange ou Tush (para mim, claro, tem de lá estar Brown Sugar). Sobretudo depois dos depressivos anos 90, em que os grandes dinossauros do passado foram arrecadados, a vaga revivalista de meados dos ano 00 trouxe-os de volta à baila e para o palco principal do rock. No entanto, no que toca a lâminas, nem pensar.....
La Futura, (antecedido pelo EP de aquecimento Texicali) é um álbum muito ortodoxo, e muito clássico no sentido mais apurado do termo. Aliás para quem já vai no seu 15º álbum e com quase 40 anos de carreira, inovar não é pórpriamente o seu lema.
No seu próprio sentido, pode-se dizer que não fogem àquilo que os sempre caracterizou, e definiu, até mesmo na afinação dos instrumentos, particularmente da guitarra... a omnipresente guitarra 
Em primeiro lugar, a capa, mais parece saída de dois rabis e um franciú, que vão passar umas férias ao México, demonstra aquilo que estre trio representa, e o que os faz continuar.... um colectivo bastante coeso.
I Gotsa Get Paid podia ser um álbum directamente extraído The First Album, ou Tres Hombres. Com um riff muito bem construído por Gibbons, ao típico estilo blues rock sulista.
Quando convidado a falar sobre o álbum, Billy Gibbons falou da diferente aproximação imposta por Rick Rubin. Em vez de cada instrumento gravar a sua parte, e a voz por sua vez. Ao invés disso Rubin propôs que os ZZ Top se apresentassem como eles próprios, todos juntos a tocar numa sala, sob uma luz vermelha.
Rubin já tinha travado contacto com Billy Gibbons no passado, mas nunca houve a oportunidade de fazerem uma colaboração efectiva. Quando Rubin disse que queria os velhotes do Texas a trabalhar (como se fossem suas bitches), Gibbons ficou surpreendido com a ideia, e apresentou-os aos outros camaradas.
Volvidos 9 desde Mescalero, os Rangers pareciam estar a precisar de retomar a sua actividade.
Consumption, que já vinha sendo tocada ao vivo há algum tempo, parece disparada directamente do First Album. Tal como Brown Sugar, com um tom funky, mas mais leve, as músicas demonstram exactamente a força e o carisma de Billy Gibbons, com uma voz rouca e preenchida, tipicamente blues, aliada a uma guitarra de sonho. Heartache in Blue, por sua vez, revive o toque da harmonica,
Mas nem só de Blues vivem os ZZ Top, Fly High mostra a faceta mais roqueira dos texanos, que ironicamente fez a sua estreia ao mundo pela mão do astronauta da NASA Mike Fossum, apesar de It's too Easy Mañana se aproximar bem mais do space rock, com o solo fenomenal de Gibbons do que esta.
Em suma La Futura é mais um marco na carreira dos ZZ Top, o símbolo do que eles representam, e sobretudo um reflexo no espelho daquele trio que parece sobreviver ao teste do tempo.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

MÚSICA DO DIA... TEM DIAS#6 WHITE STRIPES - DEATH LETTER
Tenho um respeito crescente e cada vez maior por este grande guitarrista dos nossos tempos. Este homem abusa nas 6 cordas e tem um voz do caraças....
MARK KNOPFLER - PRIVATEERING (2012,MERCURY RECORDS)

Mark Knopfler é daqueles artistas, agora com uma carreira a solo, que nunca se poderá desprender da banda que liderou e lançou para o estrelato, os Dire Stratis. Poder-se-á dizer agora com um sólida carreira a solo, mais vasta e, talvez, igualmente rica à da sua banda, não chega para ultrapassar o nome dos gigantes dos blues dos anos 80, mas coloca-o lado a lado numa digressão europeia conjunta com o colosso americano Bob Dylan, a propósito do seu mais recente lançamento Tempest.
E o título não poderia ser menos sugestivo. Privateering designa o acto de voluntariado ou de recrutamento para um navio particular de auxílio ao Estado em momentos de guerra. Apesar de privado, é um acto de serviço público, uma requisição civil voluntária se quisermos. Hoje poder-se-á ler como juntar-mo-nos a uma banda para demarcar uma posição no mundo à tua volta. Será um apelo às Pussy Riot??!?!!! Para mim, as semelhanças aproximam-se muito àquilo que os Black Keys representam hoje. A começar pela capa de El Camino, com a qual se parece terrivelmente.
Knopfler fez um movimento que poderíamos dizer tanto ousado, como arriscado. Lançar um duplo sobretudo quando a indústria discográfica está em profunda depressão. Mas já percebemos que não são as estratégias de marketing que fazem mover um artista como Knopfler. A sua criatividade frenética, e sobretudo a sua capacidade para lançar faixas icónicas que o puxa adiante, e leva o ouvinte a deambular por uma variedade imensa de estilos musicais.
Apesar de ser uma das lendas do Roque, Mark Knopfler faz aquilo que diríamos ser um passeio pela memória, e sobretudo pelas suas influências, e versatilidade do rock. Podemos assim visitar o folclore celta em Haul Away, um Jazz ambiente em Hot or What, ou Ambiente clássico de Radio City Serenade, ou um Blues do Delta «I Used to Could». Com uma voz cada vez mais amadurecida, há quem o compare a um Leonard Cohen, mas as letras estão longe de ser influenciadas pelo poeta canadiano. Hot or What, por exemplo, mantém viva a sexualidade masculina de Money For Nothing, enquanto Radio City Serenade assemelha-se, por sua vez, muito mais a um estilo Tony Bennett, ideal para uma paisagem nova-iorquina de inverno, com um toque folk.
E é nesta faixa que o tom crítico de Knopfler mais se faz transparecer. Em vez da exuberante vida citadina, Knopfler frisa as vicissitudes, e sobretudo os «senãos» desta vida galanteosa, "You've got to have no credit cards, to know how good it feels", ena mesma senda segue-se «Used to Could», que aborda temas como as adversidades e dificuldades da vida, e em particular o reverso da medalha das crises. E não podemos deixar de pensar em muitas das alegorias igualmente transmitidas pelas metáforas naturais de «Bluebird».
Num aspecto mais técnico, não deixa de ser curioso que, muito embora a guitarra seja a força instrumental, existe igualmente espaço para outros instrumentos brilharem. Seja o piano, ou as gaitas de fole, ou as harmónicas, Knopfler distancia-se da visão de outros congéneres que destaca puramente as 6 cordas.
Em vez disso Knopfler opta por uma visão de canta-autor, que lhe fica definitivamente melhor do que o virtuoso.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

MÚSICA DO DIA.... TEM DIAS#5: RED FANG - MALVERDE As bandas promovem-se umas às outras, e esta não foi excepçõ. Advinhem lá a que é que isto soa e descobrirão, como a descobri.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

THE GASLIGHT ANTHEM - HANDWRITTEN (2012, MERCURY RECORDS)

Encarados como promessas de um certo movimento revivalista, e amplamente patrocinados pela Uncut, os Gaslight Anthem apresentam-se como esperanças vazias de um regresso ao vynil e ao rock das massas do passado, com claras reminiscências country.
Herdeiros da música versão Tom Petty, os Gaslight Anthem dão um ar indie, e revivalista ao rock country. Apesar do seu reconhecimento, e a sua veia poética, a qual é subtilmente representada pelo tema «Handwritten». No entanto, bnão os consigo ver para além de uma banda sonora dos liceus americanos (em particular dos estados do interior), onde os jovens, não tão OC, vão deambulando pelos corredores, retirando objectos dos cacifos.
Sinceramente, talvez por que seja eu um estreante, não consigo encontrar tanto encanto na banda do tipo-que-é-capaz-de-ter-relações-familiares com um grande comediante americano. 45 entra-me pelo ouvido como se se tratasse da abertura dos novos filmes da Disney, e então a homónima Handwritten nem se fala, com os habituais coros «wo'oh» que cheiram e destilam a abuso por tantos artistas a longo dos anos.
Apesar de não ser um grande fã, respeito Tom Petty. E ao que parece também Brian Fallon, que até lhe dedicou uma versão da sua música, que surge no final do disco «You got Lucky». Mas se isto é influências, valha-nos Deus. Do criador de Free Fallin', vejo pouco ou nada.
Realmente o que se pode aproveitar de Handwritten é a voz, mas mesmo esta nada tem de original, a não ser restícios dos tempos das vozes esganiçadas e sujas do grunge, o qual reverteu num espírito de rua que os Gaslight Anthem se querem fazer representar. Homens do povo, quase se poderiam chamar. Aliás, apesar de quererem parecer horizontias, e um grupo coeso, sem espaço para individualidades, mas a voz e a guitarra rítmica de Fallon são tãpo omnipresentes, que nem dão espaço para os outros instrumentos respirarem.
A bateria de Benny Horowitz marca compasso, ao passo que o baixo de Alex Levine é completamente abafado pelo som das guitarras. Até mesmo a guitarra de Alex Rosamilia é incapaz de trazer algo de novo. Até porque Handwritten, pode mesmo vir do coração (talvez), mas é talhado para a pop, e isto que se fez já está muito batido.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

CULT - CHOICE OF WEAPON (2012, COOKING VYNIL RECORDS)

No começo do concerto no Hellfest há alguns anos, e após o seu regresso, marcando o fim das desventuras de Ian Astbury nos reformados The Doors, este dizia perante a plateia de metaleiros de que os Cult poderiam estar um pouco des-situados  face ao conceito do festival, pelo facto de não serem uma banda heavy metal. No entanto, uma coisa se seguiu «One thing that's for sure, we like to rock n' roll».
Provavelmente a atitude mais disseminada hoje em dia, e que recebemo-la desde os finais dos anos 50, inícios de 60.
E não é estranho pensar que as bandas que mais continuam a rockar forte e feio, sejam as bandas britânicas. De facto foi do velho continente, particularmente de uma ilha posh que estava ainda a beber e encontrar a sua identidade nos blues amercanos, quando um nigga americano de seattle veio conquistar os antigos donos do mundo. O resultado foi estrondoso, particularmente nos guitarristas desta geração que lentamente começavam a demarcar-se e a encontrar o seu estilo.
As coisas evoluiram, e os Cult continuam a ser uma marca desse legado, e a demonstrar que os velhos continuam a ser bons e a mostrar a muitas bandas novas, para quem o dinheiro representa quase tudo, como é que se compõe o ramalhete. Apesar de serem de uma fase posterior (bem posterior da revolução cultural), directamente saídos dos anos 80 (mas sem sintetizadores, graças a Deus...), os Cult acompanharam a ascensão e declínio de Manchester, apesar de não serem de lá oriundos.
Choice of Weapon é isso mesmo, um regresso às origens. Com um nome a usar uma expressão caricata Weapon of Choice, os Cult invertem as tendências, com um pouco de Sir William Golding no seu pensamento.
Com uma formação renovada e consistente baseada na dupla que continua liderar a banda (Astbury e Duffy), os Cult continuam a demonstrar que são uma banda que não reduz na sua atitude, nem na sua veia artística. E os resultados dessa liberdade e irredutibilidade dão provas de um grande disco, com uma atitude plenamente rocker. Prova disso é a malha infalível de The Wolf, num estilo muito próprio de Billy Duffy, com os arranjos da guitarra a dar mostrar dos seu contínuo emblematismo, muito próximo aliás do seu contemporâneo The Edge, mas mais agressiva claro. Mas isto não se fica aqui, todo o disco é um grande exemplo de excelente trabalho de guitarra, seja no single já lançado - For The Animals - ou mesmo Amnesia ou em Honey From a Knife.
Mas falaramos só das 6 cordas seria redutor. Astbury não é à toa que é um vocalista singular. A sua voz grossa, mas sentida e presente terá, porventura, deixado uma marca para tantos outros vocalistas que se lhe seguiram, Layne Staley é um excelente exemplo disso.
Apesar de estar talhado para as faixas mais agressivas como Lucifer ou A Pale Horse, Astbury dá mostras de uma melancolia profunda e introspectiva, tantas vezes condizente com o grunge como Life >Death, ou Wilderness Now.
E a atitude dos Cult continua lá, muito virada para as raízes e para um certo saudosismo ameríndio, que talvez não seria tão visível no regresso durão de Born Into This. Ao contrário deste último em que os Cult pareciam demonstrar que tinham e sentiam que era seu dever regressar, Choice of Weapon é mais sereno e percorre a sua atmosfera e mitologia, com Astbury a recolher ensinamentos da narração de estórias do seu alma mater dos Doors, Jim Morrison.
Choice of Weapon é, sem dúvida, um dos discos a levar deste ano de crise....

quinta-feira, 12 de julho de 2012

MÚSICA DO DIA... TEM DIAS#4: BRUCE SPRINGSTEEN - AMERICAN LAND

Uma música linda e inspiradora, com uma melodia irlandesa da qual sou fã e umas letras inspiradoras. Não fosse ele o Boss

quarta-feira, 11 de julho de 2012

MÚSICA DO DIA... TEM DIAS #3: METALLICA - I DISAPPEAR

Provavelmente odiada pelos fãs dos Metallica, esta é uma música que recordo com agrado e nostalgia.... o puto que começou aouvir Metallica. Mas claro que isto não é trash. Hard Rock quanto muito!!!!

terça-feira, 10 de julho de 2012

MÚSICA DO DIA... TEM DIAS: #2 CULT - THE WOLF

Uma velha balhada feita em nova. O velho que regressa novo, é sempre um grande regresso e esta é uma malha. Substituia-a pela For The Animals. The Wolf acho que era um single com um potencial bem mais adequado para ser single....

segunda-feira, 9 de julho de 2012

SUPER BOCK SUPER ROCK - DIA 7 DE JULHO, HERDADE DO CABEÇO DA FLAUTA, PRAIA DO MECO



Peter Gabriel Setlist Super Bock Super Rock 2012 2012, New BloodParti para este SBSR um pouco de surpresa e sem grandes expectativas. Poucas foram as experiência de acampamento, se bem que recompensadoras algumas, ou as longas jornadas de festivais. Hoje, a palavra de ordem de contenção da bolsa ordenou que fosse um dia, e graças à contribuição de alguém muito especial pude ir ver a experiência única daquela que para mim é a derradeira voz dos Genesis - Peter Gabriel.
Mas haveria bons e mais momentos para partilhar neste dia na herdade da Casa Branca.
Enquanto fazíamos o percurso de carro, ironicamente (ou nem tanto) Bebe, a espanhola indomável dava a sua entrevista no irredutível castelhano. Sabe bem, até porque hoje em dia estamos assoberbados por tudo quanto é lado de inglês. E esta falta de diversidade linguística, claro está, irrita-me. Cansa-me mesmo.....
Para além disso houve a excelente surpresa que foi Aloe Blacc.
Curto mas intenso, mesmo sem ter visto tudo, fomos para uma paragem na rotina e no desgaste do trabalho para o qual é, crescentemente difícil encontrar motivação. Esta pequena interrupção ajudou-nos noutra perspectiva a retirar frustração do quotidiano. Bem foi um serão engraçado, apesar de não estar dentro do espírito do festival.
Bem, como referi há pouco, a recepção esteve a cargo da Bebe, uma espanhola muito, muito selvagem. Ou pelo menos a demonstrar o verdadeiro sangue latino.... quente e indomável. Ao passo que nas nossas paragens as mulheres primam por serem conhecidas por recatadas, e melancólicas... Bebe demonstra o verdadeiro sangue valenciano, veio mostrar aos seus vizinhos lusitanos o seu novo disco Un pokito de Rocanroll.
A maioria da gera ainda regressava da praia, mas esta mulher não se demoveu. Aliás, o toque feminino e a sua irreverência ficaram marcados nesse dia, mas já lá iremos.
Sempre com a sua calma, e a sua personalidade vincada, Bebe não arredou pé até que o pessoal começasse a descolar do chão. Ela própria o afirmou, estava aqui para aquecer o pessoal para o que viria. E o que viria seria bem menos sexual.
Com certeza o festival tinha diferentes dinâmicas, mas a organização em entrevista à TSF manifestou isso mesmo, que as diferentes dinâmicas e nomes era o que faziam o conceito deste festival reinventado. Para mim, Super Bock Super Rock nunca foi praia, sol e rock. Sempre foi distorção e rock triunfante e poderoso. Mas a filosofia do dinheiro e de render as bilheteiras rapidamente monopolizou os intuitos das organizadoras, e agora a Música no Coração só vê mesmo areia, cerveja e bandinhas (claramente Incubus foi apostar no cavalo errado). A seguir segue-se o Sudoeste que é o esterco que se conhece aka, festival de iniciação, e oportunidade para pôr termo à virgindade, física e mental.
Depois veio um momento muito esperado. Por esta altura já nos aperceberamos de que o palco estava bastante adiantado. E mais tarde perceberíamos porquê. Já com um buraco num estômago e após uma mudança do palco, foi altura de sermos recebidos pelo grande Aloe Blacc. Apenas com um disco no reportório, Aloe Blacc foi perfeito para antecipação do climax que encerraria com uma mélange de todo estranha nessa noite - Skrillex (um nome deveras profuso e perturbador).
A acompanhar este grande nigga (com imenso estilo diga-se) estavam uma banda tipo rock, com guitarra eléctrica, baixo, teclados e bateria, mas em tudo ajustado à versatilidade de Blacc. Bastante competentes, comum grau técnico respeitável, ainda que um pouco introspectivos pois a exibição era do mestre de cerimónias - Aloe Blacc.
Com um registo vocal impressionante, limpo e seguro, Blacc pôs a audiência a curtir o funky. Muitas malhas desconhecidas, mas com uma interactividade espectacular, pudémos revisitar o soul, o gospel, o Rn'B, blues, com um toque de Jazz, e claro está a faixa hip hop. Terminou muito bem com a Hey There Brother, com mensagens muito originais, e com uma empatia muito bem construída com o público. Obviamente faltava ainda a música da crise, e a malta esqueceu a crise, como disse Blacc, e entoou a desolação financeira em grande força.
Faltava o prato forte da noite. A bifana de Vendas Novas que está a ter um sucesso estrondoso, só que custa €3,50..... Não admira que o pessoal se retraísse, até mesmo a assistência foi menos que em anos anteriores. Simbólicos 25.000.
Mas a estratégia transversal passava por captar os gostos mais diversificados possíveis. Daí termos artistas tão diversos, mas minimamente compatíveis como Lana Del Rey e Incubus, ou M.I.A. (que tão nova e ainda verde, já est. Como se advinha, tudo isto centra-se na pop.
Pasava das 10 p.m., 10:22 (lá se foi a pontualidade britânica) quando a cortina de luzes, montada num placard muito pomposo, se levantou. A New Blood Orchestra encheu o palco para demonstrar o seu rock reinventado.
Gabriel não foi certamente o primeiro, já lá vão mais de 40 anos desde que Jon Lord, teclista dos Deep Purple propôs ao seu companheiro Ritchie Blackmore uma experiência do género. Mas Gabriel inovador como sempre no seu estilo e atitude não mistura uma orquestra sinfónica com uma banda de rock, mas faz antes de uma orquestra a sua banda de suporte. Esta colaboração que começou com uma ideia muito básica, e até, diríamos, muito pouco nobre de quid pro quo, You Scratch my Back,,, that I'll scratch yours, evoluiu para um colabroaçõ que começa a dar os passos definitivos da sua sedimentação.
Pois assim sucede que Gabriel começa nem com um dos seus temas originais. Heroes de David Bowie foi a música de recepção. Sempre no seu estilo irreverente, e ainda a querer dar surpresas para um espectáculo que podia ser previsível, Gabriel teve tempo para: rectificar erros; ler em português num estilo muito eddie-vedderiano, se bem que pouco compreensível; e ainda numa colaboração improvisada mas majestosa com Regina Spektor em palco com um original Après Moi a mesma. Com esta última Gabriel mostra que ainda se dedica às músicas do mundo, e embora já não descubra talentos como fez nos anos 80, faz por respeitar e prestar tributo aos grandes novos talentos que vão surgindo. Revisitou Solisbury Hill Diggind in the Dirt, e culminou no epítomo Don't Give Up, muito bem trabalhada. Fez falta no entanto Sledge Hammer, mas como disse Gabriel numa entrevista à BBC 6 e ao guitarrista dos Elbow «Não é fácil pôr uma Orquestra a ser Funky»....
A noite, porém, estava longe de estar terminada. Apesar de ser o ponto alto do dia, e até mesmo do Festival, não coube a Gabriel encerrar.... como seria expectável, e acabou por saber a pouco. Esta coube aos Skrillex no palco principal (trabalho funesto para um banda depois de um predecessor destes).
Partimos para o Palco secundário EDP onde St. Vincent já malhava nas 6 cordas. Sim, digo bem, malhava que nem um Jimi Hendrix. Pois é, St. Vincent parece (e é) um Guitar Heroe, com atitude punk, e cheio de novos electronicismos. Eu só conhecia o tema cruel, mas Anne Clark tem muito mais e sobretudo uma atitude para com a sua alma gémea, a guitarra eléctrica.
Cansado, deste dia... Regressei para casa com os Allstar com areia e com marcas de areia e muita poeira pelo nariz. Foram visíveis os esforços do Montez para melhorar o espaço, até porque têm um grande negócio com a Câmara de Sesimbra.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

MÚSICA DO DIA.... TEM DIAS: #1 FIONA APPLE - SHADOWBOXER
Vinha a ouvir outro dia no rádio.... e passei-me!!! Linda e inspiradora!!!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

FIONA APPLE - THE IDLER WHEEL (2012, CLEAN SLATE/EPIC RECORDS)

De facto o título é bem mais extenso do que está acima mencionado. O seu real nome de baptismo é The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do. Mas tratemo-lo (e certamente assim ficará para a História) como The Idler Wheel.
Certamente qualquer disco de uma pessoa que tem uma verdadeira faceta artística, para além dos seus olhos encantadores, Fiona Apple regressa com um álbum há muito esperado, e claro, difícil de ouvir. Idler Wheel, creio, pode ser ouvido e interpretado de diferentes maneiras.
Quase como se de um álbum para crianças se tratasse, pelo menos para mim, Idler Wheel reflecte uma visão de uma criança, enquanto adulta. Quase que o livro de James Joyce invertido. O artista que regressa à sua infância. Um exercício não fácil de compreender, e ainda menos de fazer.
Every Single Night por exemplo, para além da leitura subliminar que possamos sempre fazer, reflecte antes de tudo um conflito entre o eu e o seu subconsciente, e para os problemas que os pesadelos sempre levantam na tranquilidade dos mais pequenos, e que com certeza se arrastam de idades mais precoces até à maturidade.
E se há algo que conhecemos da visão artística de Fiona, é certamente o amadurecimento precoce. E isso passa por enfrentar os demónios em Daredevil ou Werewolf, ou a solidão em Left Alone. Tudo remete para um conceito de infância perturbadora. Ou pelo menos assim o vejo.
E instrumentalmente, tudo se constrói numa atmosfera onde a voz tem o particular, e atmosfera é densificada por uma instrumentalidade tudo menos linear. Contratempos bizarros e percussões aceleradas, como se tivéssemos numa cena assustadora de um filme de Karloff. Lef Alone demonstra esse mesmo drama.
Werewolf por sua vez, bem mais calmo do que se faria supor, realça a afinidade que Apple teve e tem pelo seu piano. E claro está a sua voz com um barítono grave, traça uma marca na sua criação que lhe dá a singularidade que lhe é apreciada, e uma narradora de estados de espírito.
A voz para além de ter uma expressão tão importante ao verbalizar as letras cresce com um verdadeiro insturmento (veja-se Periphery ou Every Single Night). E apesar de pouca versatilidade, a voz de Apple expande-se de uma maneira bem interessante ao longo de todo o disco, fazendo dela uma presença constante.
Apesar de tudo, não é um álbum que ultrapasse outras incursões pela alma anteriores de Apple, como a saudosa Shadowboxer. Mas não deixa de ser um convite à reflexão e um regresso à nossa infância num movimento introspectivo....

quarta-feira, 4 de julho de 2012

HEADSPACE - I AM ANONYMOUS (2012, INSIDEOUT MUSIC)

Headspace poderá para aqueles que se movimentam fora do movimento progressivo, como mais uma daquelas bandas de tótós, alunos de conservatório, e todos aqueles geeks que se dão ao trabalho de não ouvir música mainstream.
Pois bem, o movimento progressivo continua a senda capaz de entregar aquilo que sabe melhor fazer - narrar estórias. Os Headspace fazem-no bem, e aprenderam com os melhores. Aquilo que podia muito bem ser um argumento de um filme distópico, apresenta-se como a banda sonora do armagedão.
Portanto, estamos perante um disco muito ortodoxo, muito fiel ao estilo que se quer fazer representar. Os Headspace são, por isso, uma banda que não procura o seu estilo. Já o encontraram e fizeram uma obra-prima do género. Mas esta obra não nasce do nada. Traz consigo alguns dos genes dos melhores talentos do género. A bordo desta aventura, Adam Wakeman, 2º filho do célebre teclista dos Yes, Rick Wakeman, está responsável pelos teclados. E Stalled Armageddon,  demonstra o compromisso de Adam para o género. Temos um bom trabalho por partes das guitarras é certo. Mas os teclados é que pintam o quadro de um futuro aterrador em I am Anonymous. Mais adaptado ao metal progressivo, do que propriamente o rock sinfónico a que o pai estava habituado. Mas faz um trabalho bem feito, o que não é de espantar com o currículo que traz na bagagem, desde colaborações com Roger Daltrey até o guru Arjen Lucassen.
Outro talento a expandir-se é a do vocalista Damian Wilson, que demonstra os seus dotes de projecção vocal, e sobretudo um registo limpo e definido, de tenor mais clássico. A voz articula-se bem com os teclados, visível em  In Hell's Name, onde Adam tem o seu mote para se expandir.
Claro que um projecto destes que demorou bastante para se pôr de pé, o EP de lançamento I Am... foi registado em 2006, não se lançaria sem um guitarrista. E apesar de Peter Rinaldi não ultrapassar o brilhantismo de Wakeman, faz um trabalho competente ao sedimentar a paisagem sobre o qual se pinta a história.
I Am Anonymous é como tal um álbum conceptual, e o que se quer veicular é uma história, a já clássica do holocausto da humanidade que entra em guerra total entre si, e de como se tenta sobreviver após o holocausto.
Portanto o cenário é negro, e é aqui que o contributo de Rinaldi entra na sua máxima força. Ao entregar uma atmosfera carregada, e negra. Numa perspectiva mais rítmica, o estilo de Rinaldi assemelha-se  muito ao de John Petrucci dos Dream Theater, o que mais uma vez demonstra a presença, o respeito e iconocidade do quinteto de Long Island no movimento.
A originalidade não é mais uma vez o forte deste álbum. E talvez soar como outras bandas talvez seja o seu maior defeito. Mas também não é isso que os Headpsace pretendem, soar a algo de novo. I Am Anonymous é um produto de um estilo, e não se quer fazer passar por outra coisa diferente. Por isso quem procura algo de novo, de fresco não o encontrará aqui....

terça-feira, 3 de julho de 2012

BLUR - UNDER THE WESTWAY LIVE AT WAR CHILD 2012

Nova música dos Blur, num regresso aguardado.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

MANOWAR - LORD OF STEEL (2012, MAGIC CIRCLE MUSIC RECORDS)

Provavelmente de todas as bandas de metal que há, os Manowar são aqueles que tratam o legado deste com maior respeito, religiosamente mesmo. Muitos falam de que o heavy metal nunca tem tido o tratamento que merece, nem tão-pouco recebido o crédito que lhe é devido. E se há banda que eleva o metal a estatuto de legião, e simboliza mesmo a congregação da nação «metálica», quase como que um movimento proletário - Metaleiros de todo o mundo uni-vos.... (E Gringo volta a demonstrá-lo) Se há banda que se esforça por isso, são sem dúvida os Manowar. E já lá vão 30 anos de batalha, e honradamente aqueles que carregam o estandarte diante das legiões de metaleiros,  a banda que toca com os maior volume de decibéis no mundo (embora não tenha oficialmente ultrapassado os The Who) lança o seu 11º disco de carreira.
E no fundo, poucas são as bandas que mantêm o registo irredutível, de não ceder a compromissos, e que mantêm aquela indentidade inabalável, o célebre «uncompromise».
Para quem está de fora, parece 11 missas, mas de facto, os Manowar são uma religião, os sacerdotes que comandam hordas metaleiras para os campos de batalhados concertos. E esse apelo começa bem cedo com Manowarriors. E quem vira costas a esse juramento, enfrenta uma punição severa pelo «Lord of Steel».
Neste álbum os Manowar continuam o seu registo, com muito speed e power, e cruiosamente sempre distanciado da sonoridade mais característica do metal americano, com mais incidência no trash.
E não é para admirar, pois a afinidade  dos Manowar com as bandas do New Wave of British Heavy Metal sempre foi visível. E essa natureza ortodoxa do metal sempre foi uma marca da sua carreira.
Já lá vão mais de 30 anos que o baixista Joey DeMaio aprendeu com os mestres, nada mais, nada menos que os Black Sabbath, ainda na sua digressão de Heaven & Hell, como é que se elevava uma plateia ao delírio,
Lord of Steel é assim mais um registo de faixas prontinhas para serem lançados aos leões do coliseu sedentos de sangue. E nisso há que reconhecer a força destruidora dos Manowar, uma banda talhada para os movimentos ao vivo. Eles vivem para isso, para puxar o exército e levar para onde ele pertence - o descampado de batalha dos concertos. E há um certo número de faixas construídas justamente para esse efeito. Não há tempo para lamechices (com excepção de talvez de Righteous Glory) , só riffs puros e duros, de Expendable (com uma filosofia muito semelhante a Disposable Heroes), ou Black List (que faz um certo apelo ao Doom Metal).
Mas, como se costuma dizer não ponto sem nó, e talvez este fundamentalismo dos Manowar seja um dos pontos mais criticáveis do Metal, e o certo apelo à violência que muitas vezes está conotado com o Heavy Metal. Faceta que faz muitas vezes todo este culto seja olhado com suspeição.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

THE OFFSPRING - DAYS GO BY (2012, COLUMBIA RECORDS)

Foi com uma surpresa renascida que vi os re-chamados deste ano para o 2º dia do Rock In Rio 2012 (repetindo quase a papel químico o alinhamento de 2010, exceptuando Muse).
Os Offspring são provavelmente das bandas que trago comigo de um passado mais distante. Desde os tempos em que o punk virou pop, e Americana alcançava os tops das tabelas.
De uma certa maneira, esta crítica em um sabor nostálgico, muito embora hoje signifiquem muito pouco.
Os Offspring são daquelas bandas que se recusam a desaparecer, mas cujo estatuto de dinossauros não se equipara aos colossos (Metallica, Pearl Jam entre outros). Isto leva-me a concluir que cada vez mais a música é para os músicos encarada como uma profissão e de facto assim. Estas pessoas fazem isto como ganha-pão. Mas o senão é que quando se prossegue uma carreira artística estritamente como obrigação, a inspiração e a criatividade surgem com menos frequência. E a pressão para lançar para alimentar máquina é constante.
Tal facto, explica a razão de o sucessor Rise and Fall, Rage and Grace ter demorado tanto tempo a surgir (a meu ver pelo menos). Tal hiato deu para várias digressões (no meio das quais Days Go By surgiu), e ainda para uma compilação de sucessos - Happy Hour!.
Days Go By tal como o próprio título sugere é uma especulação sobre o impacto da passagem do tempo, à qual os Offspring não são diferentes. E com a passagem do tempo vem a decadência. E para quem pode pensar que os Offspring tiveram um declínio, muito por culpa da atitude sell-out, especialmente a partir de Smash..... bem essa atitude virou imagem de marca.
Desconheço o material posterior a Americana, e sinceramente nem me interessa, porque para mim os Offspring pouca coisa tiveram a acrescentar desde então. Simplesmente são daquelas bandas que se mantém na estrada porque têm de o fazer. E carregar esse fardo torna-se mais fácil, a partir do momento que o fazemos com os colegas de liceu, que conhecemos há quase 30 anos, e que as coisas marcham bem entre nés.
Porém a criatividade (ou falta dela) pode afectar, e o facto de se revisitar o clássico Dirty Magic de Ignition revisitado (num álbum original que é algo que me causa muita estranheza, mas não são os únicos) prova isso mesmo. Os Offspring foram daqueles que, e se calhar muitos dirão que fazer êxitos comerciais são grandes feitos, pegaram no pós-punk rock (sobretudo o ligado ao movimento skateboarding), e deram-lhe uma dinâmica mais pop. Ao passo que outras bandas como Pennywise ou Dead Kennedys nunca deram grandes vazas nessa matéria.
E assim chegamos ao desenvolvimento de uma atitude, que vem desde os gloriosos dias de Smash, e resultou em malhas mesmo «lames» como OC Guns, que realmente não têm nada que ver com nada (a não ser referências aos gangs hispano-americanos). Vá lá, podemos dizer que, pelo menos, eles tentaram agarrar-se ao seu bqackground. Mas para além disso, pouco mais há a haver, ta como Days Go By nada mais é do, que uma tentativa copiosa do que o êxito Times Like These dos Foo Fighters.
Como não podia deixar de ser, há sempre aqueles temas da adolescência, que lembram NO FX, mas que a maturidade já não deixa apreciar, ou até mesmo a mais speedada, tipicamente punk, Dividing By Zero.
Quanto mim, sinto-me mais confortável em rever Dirty magic, que até me espicaçou para voltar a ouvir Ignition, mas tirando isso, Days Go By é exactamente isso, tão passageiro quanto os dias......

quinta-feira, 21 de junho de 2012

JACK WHITE - BLUNDERBUSS (2012, THIRDMAN RECORDS/XL RECORDINGS)

Aos 36 anos Jack White (nascido John Anthony Gillis) é já um acontecimento musical, uma lenda do rock.
Membro de 3 grandes projectos musicais (um deles está findo, é certo); Dono da sua própria discográfica que encetou um ciclo de produção de discos contra-corrente (3rd Man Records só trabalha com vynis); está pronto a relançar a sua carreira musical a solo, e toda a gente quer trabalhar com ele, até os Radiohead estão radiantes com isso e anunciaram-no publicamente durante um concerto.
Já para não falar que White é um dos músicos mais talentosos, tecnicamente arrojado, e inovadores que existe actualmente.
White foi inclusivamente nomeado embaixador musical de Nashville.
O que acho mais interessante em White é a capacidade peculiar que ele tem de juntar o moderno e o clássico, e isso é notório em Blunderbuss.
Para começar pelo próprio nome retirado de um Western reinventado, esta espingarda de cano largo reflecte a energia explosiva do álbum, mas também o lugar especial que as armas de fogo representam na mitologia norte-americana. E Jack White agarra-se isso. Melhor, ele é parte disso.
Em Blunderbuss temos oportunidade de reescutar a concepção musical de white que, aliás não se distancia muito dos White Stripes. Está lá tudo. A guitarra frenética, o organito, talvez com um pouco de toque mais sulista, ao jeito de Nova Orleães [Trash Tongue Talker ou Hip (Eponymous) Poor Boy], e uma bateria não tão minimalista. Mas todos nos habituámos ao som característico de White, seja a nível instrumental, ou vocal.
E Blunderbuss está cheio de grandes malhas, algumas para rasgar audiências como a introdutória Missing Pieces (que me faz inevitavelmente lembrar Raconteurs), ou a já clássica Sixteen Saltines e Love Interruption.
Mas White demonstra que não só vive letras e atributos vocais. Muitos consideram um dos guitarristas mais criativos e emblemáticos modernos, e Freedom at 21 é prova disso mesmo.
Recentemente, e com o fim anunciado dos White Stripes, um dos grupos incontornáveis dos últimos anos, falava-se da substituição pelos Black Keys, um espécie de Doppleganger, sobretudo depois do afastamento dos White Stripes.
Mas o que a música prova todos os dias, é que há espaço e sucesso para todos aqueles que, de facto, têm uma veia artística. E tanto White como os Black Keys tem o seu espaço merecido no sucesso, bem como as sua criatividade dá-lhes muito mais reconhecimento de que a sombra que poderiam criar uns sobre os outros.
Blunderbuss permitiu a White cimentar o seu espaço e abrir o livro sobre os White Stripes, facto que deixou o mundo em choque em Fevereiro de 2011. Não foi uma jogada fácil revelou White, mas o facto é que Meg não conseguiu no final lidar com a pressão, e com a falta de confiança na sua performance como baterista. Essa situação levou a própria a um cenário depressivo que acabou por comprometer a presença da banda.
Julgo que os White Stripes era o projecto de vida de White em determinado sentido. E ele sabe também que não o podia prosseguir sem Meg, que é inevitavelmente parte da identidade da banda. Com este espaço, White é a presença de um homem que já fez o Grand Slam da música, e não dá sinais de afastamento, tal como os residentes de Nashvillhe continuam a fazer o seu El Camino.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

SMASHING PUMPKINS - OCEANIA (2012, EMI/CAROLINE DISTRIBUTION/MARTHA'S MUSIC)

Aos 45 anos, Billy Corgan é um homem capaz de carregar consigo um projecto de uma vida inteira. Um Axel Rose de uma maneira muito própria (só que musicalmente mais bem sucedido... e podemos dizer íntegro), Billy Corgan poder-se-á dizer é os Smashing Pumpkins.
Já sem qualquer dos companheiros de fundação do quarteto de Chicago, Billy Corgan segue o seu caminho, um pouco como os Killing Joke ou os Cult que se recusam a ser riscados do mapa musical.
Em Abril de 2012. Corgan falava sobre lançar um álbum dentro de um álbum. Ao contrário do que aconteceu em 2009 com Teargarden by Kaleidyscope, cujas músicas foram sendo lançadas uma por uma através do site oficial da banda (reflexo da crise discográfica que o mundo da música hoje atravessa), Oceania foi lançado numa apresentação mais coesa, mas nem por isso menos dispersa. Aliás, este era para ser lançado exactamente no mesmo formato, mas Corgan acabou por hesitar no fim porque a estratégia de marketing que havia sido produtiva no passado, inclusivamente com outras bandas (caso dos Radiohead) se havia esgotado.
Este tipo de atitude reflecte não só as discográficas, mas também da parte dos próprios músicos, (e talvez no limite até os próprios ouvintes) em saírem do formato LP. Conceito a que toda a indústria se tem agarrado desde meados dos anos 50, quando a música começou a representar um fenómeno social significativo.
Mas olhando para o álbum, com efeito, não distinguimos um fio condutor, nem uma marca especial que se realce nestes álbuns tão-pouco. Na verdade, todos os álbuns produzidos e escritos pelos Smashing Pumpkins, desde o fim do hiato de 5 anos em 2007, têm dificuldade em ultrapassar o simbolismo de Mellon Collie ou The Siamese Dream, as referências por excelência dos Smashing.
Oceania é um álbum sobretudo introspectivo, sobretudo calmo, mas com diferentes tonalidades, algumas até, quer-me parecer, estranhas a atitude dos Smashing. Vemos algumas reminiscências do passado como Pale Horse, ou The Chimera (talvez aquela que mais lembre os clássicos) e claro a faixa de longa duração Oceania. Mas também um importante pendor electrónico desconcertante, com se os Smashing devessem alguma coisa à pop, ou a busca aí de um cunho qualquer. Exemplos severos disso serão, talvez, Pinwheels, Violet Rays, One Diamond, One Heart.
Tirando, talvez, a faixa de abertura - Quasar - que acaba por ser um falso mote, que irrompe pelo álbum como uma tempestade marítima. Ficamos surprenndidos como o álbum de repente, desacelera, e torna-se numa calma atmosfera marinha. O nome poderá mesmo sugestionar um calmo e tranquilo passeio vespertino (ou matinal conforme a preferência) pela costa oeste do norte (considerando que terá sido este o ambiente de inspiração para Corgan).
Por outro lado ao nível das letras, há aqui um trabalho desenvolvido por Corgan, ainda que no âmbito da narração de estórias, não se demonstre nada. Oceania é mais um relato de estados de espírito, passado num ambiente bucólico onde se expressa amor platónico (My Love is winter) e uma absorção do individuo pela natureza, numa paixão muito camoniana (Wildflower).
Oceania é um álbum mediano, que acaba por ser um resultado de demonstrar trabalho, e alguma falta de inspiração real, para dar cor aos grandes feitos do passado.

terça-feira, 19 de junho de 2012

SIGUR RÒS - FJÖGUR PÍANÓ

Shia LaBoeuf despe-se para os Sigur Rós. Este rapaz tem vei artística. 4 pianos é o nome da faixa do último álbum, concebido exclusivamente para constituir de música de inspiração a imagens cinematográficas.
CIRCUS MAXIMUS - NINE (2012, FRONTIERS RECORDS)

Os Circus Maximus são daquelas bandas que facilmente poderiam ser confundidas como uma banda de tributo. Bizarro é, que eles também não fazem muito por se descolar desse rótulo. Provavelmente nem o querem tão-pouco.
Quando me apercebi da sua existência, (ainda me lembro da primeira vez que ouvi o tema forte Imperial Destruction, que aparece como faixa bónus de 1st Chaopter) parecia que estava a ouvir um lado B, ou um tesouro perdidos dos Dream Theater, em todos os sentidos. O som límpido e cristalino, a guitarra tecnicamente rebuscada, os teclados virtuosos, o baixo melódico e bateria construída a compasso e contratempo.
Só quando a voz entre, percebemos que o LaBrie trabalhara demasiado as suas cordas vocais, para ser ele próprio.
Eu tento pensar que os Circus Maximus levam as suas influências muito a sério, só que para quem os escuta, parecem copiosamente,de uma forma criativa (no sentido de que não plagiam escandalosamente), os Doppleganger de uns Dream Theater. É impressionante.
Mais interessante ainda é que apesar de todas estas circunstâncias, os Circus Maximus conseguem ser apelativos. E isso é notório na faixa introdutória - Forging - e a épica que se lhe segue - Architect of Fortune.
Porém, toda esta atitude musical, tem um reverso que é, a procura de identidade, para além do facto de poderem ser colados à sombra de um gigante do género (musical). Esta atitude reflecte a dificuldade em encontrar um espaço próprio. Penso que esse facto explica em muito o período de tempo entre o último LP e o anterior, Isolate, ainda que não tenha surtido efeito. No fundo, os Circus Maximus ficam para quem quer mais do mesmo, ou do parecido.....
Depois de um hiato tão grande a banda anunciou num concerto privado de que iria lançar o seu terceiro disco (cujo nome seria radicado por 2).
O guitarrista Mats Haugen, força criativa por detrás do novo álbum, disse que a orientação seria mais virada para as 6 cordas. O que não admira, dadas as rivalidades tão grandes na composição e performance entre as guitarras e os teclados, o equilíbrio tombou a favor de quem conseguiu compor.
A mim quer-me parecer que o paradigma por detrás do novo álbum parece bem mais electrónico e claramente numa postura mais melódica.
Como seria de esperar, a proximidade com os rapazes de Long Island é inevitável. Não sei se se deve ao facto de a minha mente estar formata, mas as semelhanças com «A Dramatic Turn of Events» são visíveis, e não me admira que tenha rodado muito naquele estúdio de gravação. Architect of Fortune, por exemplo, parece-se perigosamente com Breaking All Illusions.
No entanto e apesar de comparação ser inevitável, a faixa é um tema poderosíssimo. Muito eclética, com um bom trabalho de arranjos por detrás.
Quem busca como eu a postura agressiva e trepidante, com um riff bem sacado, encontrá-lo-á em Nine. Um bom exemplo encontra-se em «Game of Nine» que tem uma arquitectura da excelência da guitarra, bem como postura harmónica bastante interessante dos teclados.
Directamente de Nine sai a balada directamente para as rádios do género - Reach Within. [Coisa que aliás fazia falta em Portugal, rádios especializadas ou orientadas para determinados tipos de música]
A faceta mais pop mantém-se em I am, Used, ou The One, e que constituem aquelas mais descartáveis. Mas a marca de Nine continua a ser a alusão aos irmãos Cohen em «Burn After Reading», com um bom trabalho vocal por parte de Mike Eriksen, suportado pelos momentos criativos do guitarrista Mats Haugen, que se apresenta como uma máquina de criar riffs. Suportado claro está pela secção rítmica de formação clássica Glen Cato Møllen no baixo e Truls Haugen na bateria.
Nota-se ainda algum desalinho na ordenação e construção das faixas e de um disco como um todo. Não se compreende como uma faixa forte como Namaste, ou Game of Life, que introduzem o tal «nervo psicológico» de riff, num afinação muito própria da distorção da guitarra (na melhor linha da tal música de referência Imperial Destruction), se siga à faixa épica, que ficaria melhor a rematar o final do álbum.
Todavia, quem fugiu aos Dream pela dificuldade em ouvir James LaBrie, encontra em nos Circus Maximus um vocalista com uma versatilidade não menos abrangente. Apesar da nitidez, e da limpidez vocal, Mike Eriksen sofre do mesmo problema de LaBrie, um timbre vocal pouco versátil, capaz de dar tonalidades diferentes à música. Ora com uma postura mais agressiva, ou mais melódica. O meu paradigma neste sector continua a ser, indelevelmente, o vocalista dos Symphony X, Russell Allen que consegue imprimir uma voz mais rouca, mais agressiva, característica do heavy ou trash metal, conciliando a uma visão mais clássica e harmónica.
Last Goodbye é aquela música que tem tudo para ser um clássico, tirando, claro alguma pobreza lírica, mas que instrumentalmente está muito bem conseguida, e um refrão, podemos dizer um bocado lame....
Olhando para todo este cenário, a comparação é inevitável.....
MEGADETH - A TOUT LE MONDE

Grande balada poderosa, com um toque frenchy....

segunda-feira, 18 de junho de 2012

IGGY POP - REFLEXÕES SOBRE O NOVO DISCO APRÈS
A propósito das novas aventuras musicais de Iggy Pop.... Iggy mostra-se mais romântico e no seu lado mais sensitivo. La vie en rose pour Iggy
PATTI SMITH - MOSAIC
 
Grande malha da Senhora com a colaboração de Jay Dee Daugherty.
PATTI SMITH - BANGA (2012, COLUMBIA RECORDS)

Patti Smith é daquelas artistas, tal como Bruce Springsteen, Neil Young ou Leonard Cohen, que se recusa a desaparecer do mapa, a cair no esquecimento da nostalgia. Para aqueles que acham que estes paladinos, poetas guerreiros das palavras, que mais não fazem do que repetir-se ao longos das décadas cujo um tempo seu já está longe e ultrapassado... Desenganem-se. Ainda bem que há músicos que continuam a produzir as mais belas articulações de palavra, com um contexto rock. Impossível dissociar esta atitude tão latente em Tarkovsky (The Second Stop is Jupiter) com a clássica Celebration of the Lizzard dos Doors.
Banga é um disco exuberante, e a celebração de uma artista que se recusa a morrer. Banga é um nectar para os nossos ouvidos, como se precisassem desesperadamente de sons harmónicos que os preenchessem de harmonias e sons galantes.
O instrumental acompanha e cria a atmosfera adequada para que Patti narre a sua história. Longos são os tempos do proto-punk e da música de três acordes. Hoje Patti parece ir buscar bem mais influências ao contry, folk e música tradicional índia, com cânticos fortes, uma guitarra presente, graças ao trabalho bastante competente de Lenny Kaye, companheiro de armas de Smith, o qual já compartilha o trabalho de escrita como de produção. O trabalho de guitarra é particularmente importante em Nine, como na evocação quase virgiliana do Imperador Romano Constantino, em Constantine's Dream. A versatilidade de Kaye faz lembrar Robby Krieger, suportado pelo não-tão-bom-quanto-Ray-Manzarek mas a-par-de-um-John-Paul-Jones, Tony Shanahan.
Como um artista no auge do seu amadurecimento, Banga reflecte os pensamentos de Patti sobre o mundo moderno. Tendecialmente, a idade leva um refriamento dos ânimos e as posturas bem mais reflectidas, e pensadas. Produto, em parte, da geração revolucionária dos anos 60, Patti exprime os seus receios desconcertantes face ao futuro ecológico do planeta. E isso é visível no original de Neil Young revisitado - After the Gold Rush, com o futuro da humanidade em pano de fundo.
Mas não é ao globo que se resumem as inquietações. Amerigo mostra os receios face ao futuro da América, mas também esperança no renascimento do sonho americano «I saw the new incostant shifthings of fortune»... E mesmo assim esta esperança não morre, e continua nas «Words of the New World» e são épicas. A faceta lírica de Smith é tão inatingível e bela capaz de incitar aos mais puros sentimentos dentro de cada um. Só na faixa de abertura Smith consegue fazer um brilhante retrato nostálgico, mas também épico, e é magnífico.
Mas se a grandeza se atinge, chega também a reverência aos novos mártires da música moderna, ao qual os anciãos avistam com tristeza um fim anunciado. This is The Girl é a ode a Amy Winehouse, cujo talento ficou retido no gargalo de uma garrafa de uísque, que provavelmente tantos sentimentos contraditórios lhe trouxe.
No meio destas esparsas, Smith consegue prestar ainda o seu tributo ao romantismo com uma música bastante aprazível April Fool, na qual o baxista de Smith teve o seu cunho especial. Mais uma vez, a banda de Smith mostra que tem um papel importante a desempenhar, particularmente como construtores de canções.
Outra faixa inultrapassável do sagrado Banga, que não deixa de ter um conotação indissociável da mitologia ocidental, passa pela passagem a oriente em Fuji-San, na qual o ambientalismo e, uma vez mais, a filosofia ameríndia sem demostram em todo o seu esplendor.
Banga, como Wrecking Ball, mostra que os da velha guarda, estão aí para as curvas, e recomendam-se.....

sexta-feira, 15 de junho de 2012

MARS VOLTA - COLISEU DOS RECREIOS 14 DE JUNHO DE 2012

Depois de uma actuação estrondosa em Paredes de Coura, e de serem anunciados como um dos cabeças de cartaz dos Festival Paredes de Coura 2008, os Mars Volta regressam em nome próprio, e com um banda bastante modificada. Já não seria de estranhar que a banda de apoio dos Mars Volta mudasse, porque afinal os Mars Volta são um dueto, ao fim e ao cabo. Mas na digressão de Noctourniquet apresentaram-se como quinteto.
Sucede pois que as duas vezes que nos visitaram, as coisas não correram de feição. A questão é que os Mars Volta têm um ego artístico muito forte, e como tal, não cedem a pressões....
Primeiro foi porque não podiam fechar a noite, tendo que ir tocar para o caiar do sol, perdendo assim uma hora de actuação. Quem acabou por salvar a noite foram os Wraygunn. Tudo por causa da logística, diziam eles...
Desta vez, depois de entrarem às 22:15/20, mais coisa menos coisa, estes meninos foram se deitar sem sequer haver encore. Muita gente ficou especada à espera que regressassem, a puxar, valentemente, mas foi sol de pouca dura, pois estes meninos estavam com sono, e ficaram de enfiar a viola no saco muito cedo porque o vitinho já estava a passar. Confesso que nesse dia até estava deveras cansado, mas puxa, todos gostamos quando se esforçam por dar um bom espectáculo.
Quem conhece Mars Volta sabe que o assunto não se arruma por aqui. Estes texanos são o jazz, que viaja ao espaço e regressa ao México em forma de chicano rock. Bem é quase isso..... porque há muito ácido à mistura. Os Mars Volta são uma banda diferente, disso não há dúvida. E fazem questão de o transparecer em palco, sob a forma de improvisação, que deixa a audiência no sentimento de Mas que ca****o!!!!.... Pera aí é agora.... Epá é aquele riff. Até que no fim só dizemos: «Epá toca aquela!!!!». Eu compreendo que pessoal instrumentista goste de tocar música improvisar, criar uma mística. Mas pergunto: «Qual é o sentido?» quando se tem tão bons discos e quando os álbuns já têm tanta mélange e bizarria à mistura.
Especialmente quando estiveram ausentes destas paragens tanto tempo, podiam revisitar Octahedron, e tocar mais músicas de Amputhectures, e prestar mais atenção ao Bedlam in Goliath que tão boas malhas tem. No fim de deambularem por Noctourniquet, que explora o fauvismo e o cubismo musical ao limite, e que facilmente é ultrapassado pelos anteriores, os Mars Votla preferiram deambular pelas várias faixas do disco, até que a adesão da audiência só se aprecebeu e aderiu ao movimento com The Malkin Jewel.
No fim de contas quem se esforçou para dar um espectáculo interessante foi a banda de abertura. Mais um acto suportado pelo pequeno génio musical de Omar Rodriguez-Lopez. Apesar de o proto-punk pós-moderno não ser da minha afinidade, o empenho da vocalista e da baterista foram notáveis. Desconhecidas, mas esmeradas, verificou-se que a preparação do público para o acto final foi um acto que levaram bastante a sério. O mesmo não poderemos dizer  dos anfitriões.
Claro houve sempre tempo para a actuação especial do vocalista Cedric Bixler-Zavala, com os seus impulsos frenéticos, num Jim Morrison e Elvis reinventado. Tirando o resto fiquei um bocado receoso pelos 30€..... que voaram pela carteira. Bem, se calhar, fica a lição dada, ou talvez não.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

JOE WALSH - ANALOG MAN (2012,

Joe Walsh é sem que saibamos, uma lenda das 6 cordas. E há muitos por aí que tentam sê-lo, mas de facto Walsh nos seus quase 65 anos é digno dono do troféu. E calro está esta fase da vida não é indiferente a mutias artistas que viveram a sua vida ao máximo nos verdes anos.
Claro Walsh passou ali ao lado da geração hippie, e isso trouxe uma postura bem diferente para estes cotas que têm a atitude still hangin'.
Muitos de nós conhecem-no, provavelmente, pelo lançamento dos Eagles para o estrelato universal em Hotel California ou (como eu que primeiro estabeleceu contacto com ele na excelente banda sonora do grande jogo Grand Theft Auto San Andreas). E houve mesmo que tivesse experienciado os seus dotes na visita ao pavilhão atlântico. Mas se quiserem conhecer o talento, terão mesmo de se debruçar sobre este tour de force do blues/rock. só é pena que a voz que tanto tem de carismática, não tenha de emblemático. às vezes até parece que estamos a ouvir uma sobreposição dos Marretas ou da Rua Sésamo, especialmente na nova Spanish Dancer. Mas não faz mal, até tem o seu encanto, às vezes.... Mas o que se perde em garganta, ganha-se em instrumentalismo.
Joe Walsh vem da América profunda, e como é natural, o country não lhe é alheio. E claro está, filosofia saloia, o que comparado connosco está bem acima. Mas não sejamos demasiado duros com as concepções de vida de cada um, até porque Joe Walsh é um cara bem instalado na vida, grato por tudo aquilo que a vida lhe trouxe, - Life's Been Good - mas que não se contenta com os grandes sucessos do passado. Chamem-lhe um epicurismo pós-moderno, One Day At a Time, que quase faz lembrar o Take It Easy dos Eagles. Mas como estava a dizer, o americano do interior tem fortes convicções sociais e políticas, e Joe não é diferente.
Daí virem as sátiras caricaturais às sociedades modernas que Walsh olha, quem sabe, com estranheza numa perspectiva quase camoniana, ou quem sabe mórmon. No fundo, a crítica contra-corrente nem é assim tão descabida, e acaba por lançar o paradoxo do mundo digital, o distanciamento das pessoas, não obstante a proximidade das redes digitais.
Mas as incursões sobre o sentido da vida não terminam por aqui. E parece que este tema não é assim tão controverso para Joe, até porque, ao que parece, este regular Joe está bem grato pela vida. Desde que continue a rockar. E o exemplo está em The Band Played On e Family, duas faces da mesma moeda para os músicos, ou melhor duas famílias do mesmo artista.
E não fosse o sentido demolidor, lá tinha de estar um dos símbolos inegáveis da corporate america - a Wrecking Ball, mas não tão faustosa como a Springsteen, não deixa de representar o seu carisma mais speedado.
Mas quem quer ouvir Walsh, quer é guitarradas, e Walsh não se esqueceu de vós meus caros. Não é à toa que este velhote é 56º na lista da Rolling Stone para os melhores guitarrista.
Em Analog Man, Walsh continua a trazer grandes riffs e malhas do melhor que o country rock tem para oferecer. Agrada-me particularmente, a faixa inicial e o riff de contra tempo de Spanish Dancer.
E a versaitlidade, apesar da américa profunda, de Band Played On, mostra a faceta eclética de Walsh, tal como na instrumental harriosoniana India, que faz lembrar os momentos mais fervorosos de The Bomber.
Apesar de ser mais uma colectânea de umas malhas «fixes», Analog Man é um álbum em contra-corrente. Traz do antigo é que é bom, aliás, revisita o seu velho Rocky Mountain Way e Life's Been Good, com uma roupagem pouco diferente, e muita nostalgia no bolso. Deve ser a Alzheimer que afectou a criatividade do nosso compadre. quem é que se lembra de pôr clássicos num álbum de originais. Só mesmo quem ou quer encher chouriços, ou ter desculpas para andar na estrada... Mas para isso hoje não é necessário lançar novos discos!
Pelos bons velhos tempos, os cotas regressam.....

quarta-feira, 13 de junho de 2012

BLACK SABBATH - 4 PRIMEIROS DISCOS


Os primeiros 4 álbuns revisitados. Há quem diga que isto é heavy metal. Mas não há nada mais heavy do que stoner rock... garanto-vos!!!! Stoner....
FLYING COLORS - FLYING COLORS (2012, PROVOGUE RECORDS)

Há pessoas que circundam os meandros da música, que têm uma atitude eclética e abraçam a música como modo de vida, e necessitam de trabalhar com outros companheiros, que admiram, e respeitam. Podia dar alguns exemplos, mas um deles é certamente Mike Portnoy.
Fustigado pela máquina dos Dream Theater, Mike Portnoy libertou-se do fardo e do colosso que criou, e passou a dedicar-se aquilo que parecia há algum tempo querer dedicar-se, trabalhar com outros músicos.
Cada projecto a que se dedica, fá-lo com dedicação e quase como que uma curiosidade científica, de experimentar novas sonoridades com diferentes músicos, com historial e influências diferentes.
No final do ano passado saiu a experiência pelas incursões do trash metal/hard rock, com o grande Russell Allen. (O que me lembra que tenho algo a dizer a esse respeito. E ainda não o fiz).
O seu camarada Neal Morse é já quase convidado permanente. Mas estava-se mesmo a ver que só lhe faltava trabalhar com o ilustre desconhecido Dave LaRue (que aliás Portnoy já actuara, pelo menos, no G3 de Tokyo com o seu irmão dos DT Petrucci), e claro o mestre do 6 cordas Steve Morse.
O resultado uma mélange de influências estrondosa e é curioso, com uma enorme inclinação para o pop. Mas uma pop de elevado nível técnico.  Músicas curtas e concisas mas com um toque de Beatles que se encontram com os Led Zeppelin e os Deep Purple. Et voici Messieurs, vous avez des morceaux estrondeuses.
Feitas as apresentações, bem... quase. Falta a revelação deste quinteto. Portnoy que é sobejamente conhecido pela postura de agente, e actuante de bastidores, depressa foi buscar a revelação vocal (quase que num gesto à Ídolos) Casey McPherson, um cantor sulista, de timbre vocal próximo e harmónico com a postura de Neal Morse por sinal. Este que por sinal deu um enorme contributo para as letras. A atitude Beatleana polvilha praticamente todas as faixas. e quem os ouvir, parece revisitar Morse tanto a solo, como nos Transatlantic em todas as formas.
É interessante ver a maravilha de Blue Ocean, ou mesmo até Everything Changes, e para uma banda com um pendor instrumental tão significativo, encontrar um registo vocal tão grande. Tanto em letras, como em vozes, com Casey McPherson a ser auxiliado por tanto Morse, como Portnoy.
Ao passo que LaRue e Morse, dueto de Cordas, bastam para preencher o cenário instrumental de todas as vozes. E quem ouve o solo de guitarra de Everything Changes, pergunta-se onde é que eu já ouvi este Pertucci. Bem, quem ouve DT é que poderia fazer a pergunta de modo inverso. Alguém convidou Roine Stolt para o fim da faixa?
Mas se penso qu'isto aqui é só faixas alegres e sem speed enganam-se. Podem sentir o apelo do público em faixas potentes como Shoulda Coulda Woulda (que só tenho a lamentar o refrão que me parece mais pobre) ou Forever In A Daze (que tem um groove de baixo, f***-se!!!!).
E claro está quem é instrumentista e do prog, apesar da orientação mais pop deste supergrupo, não podia faltar a faixa de longa duração e têm-na na referência emblemática de Infinite Fire.
Claro está, Flying Colors é como aquelas equipas galáticas (à excepção dos DT mas isso é outra história), cheias de promessa, e até correspondem é claro, mas trata-se mais de uma aventura musical, do que de facto uma equipa. No fundo é mais uma experiência de criação musical, e parece ser mais daqueles projectos paralelos, uma raridade encerrada em si mesma. Faz-me lembrar os Them Crooked Vultures. Por isso quem tiver oportunidade de os ver, não deixe fugir essa chance, pois poderá não os rever. Eu é o mais certo.

terça-feira, 12 de junho de 2012


Os Sigur Rós são, para mim, o grupo que mais me custa opinar. Existe, desde logo, a barreira linguística e como tal, decifrar o que dizem pode ser complicado. E não se fica por aqui, pois o Islandês, para além de ser reconhecido por poucos, mais se agrava com o dialecto que eles próprios desenvolveram.
Depois existe a abordagem vocal. Uma musa vocal em sim mesmo, o cantor Jón Þór “Jónsi” Birgisson, mantém o registo, o timbre de voz, e o registo vocal de sempre.
Quem conhece Sigur Rós sabe que Valtari não é uma aventura diferente. Aventura musical leia-se. E confortável também.
Valtari significa cilindro, e aparentemente nada me faz lembrar um enorme rolo compressor. Aliás, o vocábulo pode muito bem ser descrito como o seu antónimo, ou melhor, a ideia oposta. A música dos Sigur Rós exprime espaço, tranquilidade, e desacelera o tempo ao seu ritmo mais melodramático. Um som nostálgico da infância. Um som que facilmente se imbui na paisagem e no processamento arguto dos estados de espírito.
No fundo, Valtari é um registo que puxa pela nossa imaginação. Numa casa de campo, quem a tiver ( e não muito valiosa, caso contrário vão ter de largar o couro para pagar o IMI), e num quarto confortável, pode impor os seus auscultadores, deitado num quarto com águas-furtadas, um fio de parta a entrar pela janela do telhado, somos convidados à meditação.
«Ég anda»  é o mote para abrandarmos a nossa respiração ao compasso de um batimento cardíaco. Lentamente, somos tomados pelo silêncio - Ekki Múkk -  inspirador, e submergido na meditação, e na viagem interior. A atmosfera mantém-se e sobrevoa os nossos corações no leito do descanso eterno de Dauðalogn - Morte tranquila. Valtari é quase que como aqueles álbuns desconhecidos Zen que vemos nas montras de alguns supermercados, um convite ao revisitar interior. E pode parecer foleiro, e até pejurativo dizer-se isto, mas a comparação não me parece, de todo, despropostiada. Primeiro porque  esse tipo de música é, frequentemente, olhado de soslaio, ou mesmo desdenhada injustamente, e depois porque Valtari é uma representação disso mesmo. Uma atmosfera envolvente, um som introspectivo. Mesmo as músicas que poderiam sugerir algo mais agressivo como  "Varúð"/Cautela, ou Rembihnútur/ Apertado, matém esse espírito bucólico e melancólico, seguindo a matriz dos próprios Sigur Rós.
Foi esta matriz que levou os Sigur Rós a convidarem vários realizadores a materilaizarem, ou melhor a personificarem os estados de espírito de Valatri nas suas mais amplas concepções gráficas. Este projecto teve o nome bastante sugestivo de The Valtari Mystery Film Experiment, o que acaba por dizer tudo. Não é verdade.
No fundo Valtari, é uma banda sonora à espera de filme, e a primeira a encetar a odisseia gráfica foram as irmãs de Jónsi, Lilja and Inga Birgisdóttir. A primeira estrela de capa do álbum de estreia - Von.
FRAMEPICTURES - SPIRAL LADDER
A mais progressivas das nossas bandas regressa com um ar muito portuense no peito.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

PROMETHEUS, DE RIDLEY SCOTT (2012, 20th CENTURY FOX)

Todos aqueles que se lembram do clássico de ficção-científica de 1979, e se perguntaram quem seria aquele alienígena, pilotando aquela nave bizarra, que Kane, Dallas e Lambert se confrontaram. Toda a história seguiu o caminho daquela criatura que punha um ovo dentro de um hóspede, rompendo do peito, matando-o, e tornando-se uma máquina de matar.
Interpelado numa entrevista Ridley Scott que revisita o género que desenvolveu e impulsionou - terror/ficção-científica -a prequela, ou o spin-off como gostam de o chamar, veio de uma pergunta simples, quem era aquela estranha criatura, e porque razão levava ovos consigo. E na verdade a interpretação final que subsistiu é de que se tratava de um cargueiro, e tal como os space truckers da Nostromo, levava aqueles ovos para um destino.
Assim está feito o mote para explorar mais um franchise, desta vez por quem está mais do que creditado para isso. Por falar nisso, já que estamos numa de explorar clássicos de ficção científica, a sequela de Blade Runner.
Ridley Scott queria um blockbuster, tal como os clássicos Alien e Aliens, digno da série, mas o problema central estava no argumento/guião, e Sir Ridley foi buscar um baluarte na cena Damon Lindlelof, que trabalhara na série Perdidos.
A ideia era, com efeito, explorar a personagem do Space Jockey. Quem era aquele ser, que fazia ele ali, e porque pilotava aquela nave. e num tom muito Lindlelof, tinha de haver revelação e reviralho à mistura. E podemos afirmar que o fizeram muito bem. De facto, se repararmos ao longo da série Alien, porque é que os tipos da Companhia Weyland-Yutani e, posteriormente o governo inter-galático pretendiam aquela espécie, para a divisão de armas biológicas. Lindlelof consegue criar assim o elo entre a espécie humana, o space jockey e o alien, em que no fundo este último tem origem numa arma de destruição maciça criada pelos «Engenheiros»  aka Space Jockey. E claro lança as tais questões metafísicas e inquietantes que qualquer clássico de ficção científica lança. Só que desta vez o confronto entre a humanidade e os seus criadores lança o grande enigma, porque é que criador e criado se querem destruir. No fundo, acaba por se tornar uma espécie de Exterminador revisitado. Se atentarmos que David coloca exactamente a mesma questão ao Dr. Holloway. E é curioso durante um diálogo entre Elizabeth Shaw e Dr. Holloway como a busca científica da humanidade pode ser uma busca incessável, porque uma vez chegados à questão de quem nos fez, perguntamo-nos quem criou o nosso criador?
Penso que Prometheus se trata de uma verdadeira prequela, e no fundo como qualquer clássico de ficção-científica, que não tenho dúvidas que se torne, mistura uma boa dose de mistério, filosofia, imaginação científica, e perguntas por resolver? No fundo resume-se a uma boa visão artística do realizador, um bom argumento, e dinheiro claro está.
Não é de estranhar que Scott ao revisitar o seu clássico de 1979 tenha entendido uma aproximação diferente. Desta vez inteligentemente decidiu filmar nos exteriores, fora do estúdio aproveitando as belas paisagens da Islândia, e Escócia para recriar uma terra primitiva, com condições propícias para albergar vida. Apenas se lamenta o facto de a participação de Giger ser reduzida. Apesar de se recolher ainda migalhas do seu brilhante trabalho inicial, Gïger fez um excelente trabalho criativo, criando algo nunca antes visto. E provavelmente mais teria para dar. Os artistas gráficos tentaram manter-se fiéis à sua filosofia é certo, mas muitas divergências foram tomadas, e algo de pouco Gïgeriano se revela.
Tirando isso, é um excelente filme, e espectacularmente bem produzido. Pode ser um prenúncio dos bons filmes de sci-fi, e aqueles que nos deixam realmente a pensar. E quem deseja terror, terá a sua dose, como é óbvio.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

BRUCE SPRINGSTEEN - WRECKING BALL (2012, COLUMBIA RECORDS)

SAUDADES DE MEMÓRIAS NÃO VIVIDAS

Bem sei que este é mais uma das minhas opiniões que vem tardiamente, e acaba por ser tanto poético, como fatídico. O Bossera o verdadeiro artista que queria ter visto no Rock In Rio, mas que, infelizmente, não se proporcionou, e mais angustiado fiquei quando soube que foi um concerto memorável. Quem o viu fez parte da história. E a história não concede segundas oportunidades.
No fundo, Bruce Springsteen foi mais um dos legados que o meu pai deixou. Desde pequeno recordo-me de ouvir em alta rotação The Streets of Philadelphia, longe de imaginar o significado e o poder lírico daquelas palavras.
Springsteen nunca foi um homem de deixar palavras ao acaso, de se alhear do que o rodeia, de fazer música fácil, muito embora o seu sucesso seja estrondoso.
Ouvi-lo recordo-me da sátira, da mensagem subliminar, mas de uma maneira bem mais cuidada, bem mais poética, num estilo tão caacterístico a si próprio, e seguido pela sua companheira d'armas Patti Smith, que veio a ser seguida pelos Rage Against The Machine, se bem que com uma abordagem bem diferente.
Mas o espírito é o mesmo. Um olhar patriótico, mas crítico e atento, de um cidadão maduro, na melhor tradição de intervenção de Dylan e Baez, até Woody Guthrie.
Wrecking Ball não foge a este registo. Símbolo da destruição, da machination capitaliste por excelência, e começa com o tom irónico «We take care of our own» em que Springsteen revisita o fantasma recente do Katrina e o facto de o Estado não ter estado lá quando as pessoas mais dele precisavam, ironizando «Wherever this flag's flown/We take care of our own».
Mas o ataque crítico de Springsteen mantém-se e desfere-se sobretudo ao culminar da depressão sobre todos os aspectos. Os agiotas, os abutres que procruam dinheiro fácil bem latente em «Easy Money» e «Jack of All Trades». Esta última assume um radicalismo maior, quase poderíamos dizer ao estilo do Zé Povinho vingativo, em que Springsteen apela à 2ª Emenda e ao recurso às armas: «If I had me a gun, I'd find the bastards and shoot 'em on sight,». A qual tem um solo de guitarra épico e evocativo, no auge da música.
Mas o que acho mais interessante é a maneira com Springsteen busca as várias influências da cultura musical americana, articulando-as, desde as descendências do folclore irlandês em «Death to My Hometown» e «American Land», brilhantemente bem orquestrado, até ao Gospel e Soul de Shackled and Drawn. Já para falar do country de «Wrecking Ball». E no topo do bolo, de músicas genialmente construídas, vêm as letras sublimes. Dá para invejar um poeta destes dos tempos modernos. Quem ouve Wrecking Ball consegue sumarizar o espírito americanao na sua virtude, na sua tristeza, na sua profundidade e seu pesar. A traição do sonho americano em «Land of Hopes and Dreams», e o flagelo das crises do capitalismo na magnânime «Death to My Hometown».
 Ouvir Springsteen e a sua brutal E-Street Band é como passear nos campos da glória, atravessando as adversidades, os temores e os medos, e terminar como heróis e Wrecking Ball não é excepção. Uma lenda viva sem dúvida.
«Hard Times Come and Hard Times Go», a crise está aqui, mas havemos de a ultrapassar, olhando-a nos olhos, «givin' our best shot, puttin' out our wrecking ball». Como um profeta, o Boss encanta sempre com uma postura imaculável gerações e gerações de ouvintes.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

OFFSPRING - DAYS GO BY Admira-me como é que os Foo Fighters ainda não reagiram......
RUSH - CLOCKWORK ANGELS (2012, ROADRUNNER RECORDS)

Quase 40 anos de carreira, um dos primeiros trios poderosos da história da música, aliaram o hard rock ao prog rock, e já contam com 19 álbuns na sua discografia.... Quem diria.
Muito incógnitos nestas paragens, mas mereciam final de noite num dos alinhamentos no Rock in Rio. E tinham uma boa desculpa para isto. Fizeram um concerto memorável no Rock in Rio, inclusivamente lançado em DVD, e com um título bastante sugestionável - Rush in Rio.
Mas quem conhece a organização do RIR, sabe que é o potencial comercial do alinhamento que fala mais alto. Assim se conheceu o cartaz de 2010. Mas não denigramos muito, pois 2012, foi um ano estrondoso no RIR. E ficará certamente a mágoa no meu pensamento de ter perdido uma hipótese memorável de ver o «Boss». E por aí estamos conversados.
Bem... voltando ao que interessa. Os Rush estão 40 anos mais velhos. 38 anos desde que lançaram o poderoso homónimo Rush, e decidiram voltar-se para as raízes.... isto é hard rock do bom, poderoso, e extremamente bem executado. Snakes & Arrows não foi diferente, e estes cavalheiros não dão sinais de abrandar. Quem ouvir Caravan ou a faixa homónima Clockwork Angels perceberá o que quero dizer.
Outra faceta deste álbum é o impacto que o regresso às digressões teve na força criativa do trio. Ao contrário do passado em que os Rush criavam álbuns de originais como quem lança novas colecções, agora naturalmente mais pausados, os álbuns saem mais planeados e com as interrupções de uma idade que parece querer acusar. E sim, parecer é o predicado adequado. A vitalidade dos Rush mantém-se, e não lhes falta o ecletismo e a pujança. Geddy Lee mantém o seu forte cunho vocal, e o seu baixo não lhe fica atrás. Aliás, Lee é o alicerce que explica a capacidade de um trio poder ser uma banda progressiva, compor aquelas músicas épicas. Este baixo não é uma 2ª guitarra (ouçam Headlong Flight), é um instrumento que preenche e tem o seu próprio protagonismo. E essa característica é visível desde sempre. Mas se prestamos tributo a Lee, não nos podemos esquecer da importância dos outros elementos, um génio em cada área. Lifeson mantém o virtuosismo de outras áreas, e destas 6 cordas saíram alguns dos riffs mais memoráveis de sempre. E quem ouve a introdução de Carnies ou até de Seven Cities of Gold, parece quase Lado B de Working Man. Ao vivo esta faixa é um estrondo, e a bateria de Neil Peart é seguramente uma das melhores que já foram tocadas. Sinceramente quem os ouve percebe a presença e a importância que os Rush têm na música.
Como estava a dizer, este álbum surgiu como uma enorme surpresa, e temos de nos ir habituando. Pois revela-se uma estratégia com alguma eficácia para a disseminação na internet que arruína as vendas das discográficas. Lee que em 2010 reconhecia uma crise de falta de inspiração, conseguiu compor umas 6 faixas em poucas semanas. Mesmo assim, e apesar de porem à disposição as faixas de Bu2b2 e Caravan às audiências, o resto do álbum levou o seu tempo a produzir. Tal se deveu ao tempo que os Rush têm vindo dedicando à estrada, situação que implicou o adiamento do álbum. Não admira que Lifeson recusasse um álbum conceptual. Clockwork Angels, ao contrário do que o título pode sugerir, é uma boa colecção de músicas, Rush style. E podem crer que o estilo dos Rush está bem presente. E há uma marca que acompanha desde Snakes & Arrows. Portanto como vos disse, é Rush eléctrico no verdadeiro sentido. Se quiserem revisitar Rush era sintetizadores, podem contentar-se com Halo Effect.
Dito isto pergunto, quando é que a magia dos Rush toca em Portugal?