terça-feira, 4 de setembro de 2012

MARK KNOPFLER - PRIVATEERING (2012,MERCURY RECORDS)

Mark Knopfler é daqueles artistas, agora com uma carreira a solo, que nunca se poderá desprender da banda que liderou e lançou para o estrelato, os Dire Stratis. Poder-se-á dizer agora com um sólida carreira a solo, mais vasta e, talvez, igualmente rica à da sua banda, não chega para ultrapassar o nome dos gigantes dos blues dos anos 80, mas coloca-o lado a lado numa digressão europeia conjunta com o colosso americano Bob Dylan, a propósito do seu mais recente lançamento Tempest.
E o título não poderia ser menos sugestivo. Privateering designa o acto de voluntariado ou de recrutamento para um navio particular de auxílio ao Estado em momentos de guerra. Apesar de privado, é um acto de serviço público, uma requisição civil voluntária se quisermos. Hoje poder-se-á ler como juntar-mo-nos a uma banda para demarcar uma posição no mundo à tua volta. Será um apelo às Pussy Riot??!?!!! Para mim, as semelhanças aproximam-se muito àquilo que os Black Keys representam hoje. A começar pela capa de El Camino, com a qual se parece terrivelmente.
Knopfler fez um movimento que poderíamos dizer tanto ousado, como arriscado. Lançar um duplo sobretudo quando a indústria discográfica está em profunda depressão. Mas já percebemos que não são as estratégias de marketing que fazem mover um artista como Knopfler. A sua criatividade frenética, e sobretudo a sua capacidade para lançar faixas icónicas que o puxa adiante, e leva o ouvinte a deambular por uma variedade imensa de estilos musicais.
Apesar de ser uma das lendas do Roque, Mark Knopfler faz aquilo que diríamos ser um passeio pela memória, e sobretudo pelas suas influências, e versatilidade do rock. Podemos assim visitar o folclore celta em Haul Away, um Jazz ambiente em Hot or What, ou Ambiente clássico de Radio City Serenade, ou um Blues do Delta «I Used to Could». Com uma voz cada vez mais amadurecida, há quem o compare a um Leonard Cohen, mas as letras estão longe de ser influenciadas pelo poeta canadiano. Hot or What, por exemplo, mantém viva a sexualidade masculina de Money For Nothing, enquanto Radio City Serenade assemelha-se, por sua vez, muito mais a um estilo Tony Bennett, ideal para uma paisagem nova-iorquina de inverno, com um toque folk.
E é nesta faixa que o tom crítico de Knopfler mais se faz transparecer. Em vez da exuberante vida citadina, Knopfler frisa as vicissitudes, e sobretudo os «senãos» desta vida galanteosa, "You've got to have no credit cards, to know how good it feels", ena mesma senda segue-se «Used to Could», que aborda temas como as adversidades e dificuldades da vida, e em particular o reverso da medalha das crises. E não podemos deixar de pensar em muitas das alegorias igualmente transmitidas pelas metáforas naturais de «Bluebird».
Num aspecto mais técnico, não deixa de ser curioso que, muito embora a guitarra seja a força instrumental, existe igualmente espaço para outros instrumentos brilharem. Seja o piano, ou as gaitas de fole, ou as harmónicas, Knopfler distancia-se da visão de outros congéneres que destaca puramente as 6 cordas.
Em vez disso Knopfler opta por uma visão de canta-autor, que lhe fica definitivamente melhor do que o virtuoso.

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