quinta-feira, 5 de julho de 2012

FIONA APPLE - THE IDLER WHEEL (2012, CLEAN SLATE/EPIC RECORDS)

De facto o título é bem mais extenso do que está acima mencionado. O seu real nome de baptismo é The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do. Mas tratemo-lo (e certamente assim ficará para a História) como The Idler Wheel.
Certamente qualquer disco de uma pessoa que tem uma verdadeira faceta artística, para além dos seus olhos encantadores, Fiona Apple regressa com um álbum há muito esperado, e claro, difícil de ouvir. Idler Wheel, creio, pode ser ouvido e interpretado de diferentes maneiras.
Quase como se de um álbum para crianças se tratasse, pelo menos para mim, Idler Wheel reflecte uma visão de uma criança, enquanto adulta. Quase que o livro de James Joyce invertido. O artista que regressa à sua infância. Um exercício não fácil de compreender, e ainda menos de fazer.
Every Single Night por exemplo, para além da leitura subliminar que possamos sempre fazer, reflecte antes de tudo um conflito entre o eu e o seu subconsciente, e para os problemas que os pesadelos sempre levantam na tranquilidade dos mais pequenos, e que com certeza se arrastam de idades mais precoces até à maturidade.
E se há algo que conhecemos da visão artística de Fiona, é certamente o amadurecimento precoce. E isso passa por enfrentar os demónios em Daredevil ou Werewolf, ou a solidão em Left Alone. Tudo remete para um conceito de infância perturbadora. Ou pelo menos assim o vejo.
E instrumentalmente, tudo se constrói numa atmosfera onde a voz tem o particular, e atmosfera é densificada por uma instrumentalidade tudo menos linear. Contratempos bizarros e percussões aceleradas, como se tivéssemos numa cena assustadora de um filme de Karloff. Lef Alone demonstra esse mesmo drama.
Werewolf por sua vez, bem mais calmo do que se faria supor, realça a afinidade que Apple teve e tem pelo seu piano. E claro está a sua voz com um barítono grave, traça uma marca na sua criação que lhe dá a singularidade que lhe é apreciada, e uma narradora de estados de espírito.
A voz para além de ter uma expressão tão importante ao verbalizar as letras cresce com um verdadeiro insturmento (veja-se Periphery ou Every Single Night). E apesar de pouca versatilidade, a voz de Apple expande-se de uma maneira bem interessante ao longo de todo o disco, fazendo dela uma presença constante.
Apesar de tudo, não é um álbum que ultrapasse outras incursões pela alma anteriores de Apple, como a saudosa Shadowboxer. Mas não deixa de ser um convite à reflexão e um regresso à nossa infância num movimento introspectivo....

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