quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A LISTA DE SCHINDLER DE STEVEN SPIELBERG, 1993 UNIVERSAL STUDIOS

Quando comprei o DVD da edição especial deste filme cheio de fascínio. Demorei, todavia, algum tempo até me preparar para o ver. Baseado no romance, de mesmo nome, de Thomas Keneally, o substrato do filme pedia uma abordagem especial. E não era para mais, só faltava ser lançado no dia 1 de Setembro de 1994, o dia da Invasão da Polónia, e o desencadear da II Grande Guerra nos seus 55 anos.
Contudo, o filme é tudo menos comemorativo ou provocador. Aliás, a realização deve ter-se concentrado num carácter cinematográfico mais próximo do documentário do que num filme tout-court. Sim até porque o tema é sensível, e há muitos que discutem ofacto de tudo ter sido um engodo, ou de nunca ter existido. O filme quer contrapor essa abordagem histórica metafísica, sobretudo, de um um holocausto que nunca existiu.
Por isso o filme é filmado de uma maneira fria e muito crua, como se da realidade se tratasse. Nesse sentido, Oskar Schindler (Liam Neeson), um influente membro do partido nazi chega à Polónia durante a invasão com uma prespectiva de lucro fácil. Ele não nutre qualquer simpatia pelos judeus polacos, que desde cedo são sujeitos a um conjunto de leis restritivas não apenas da sua liberdade, mas da sua dignidade inerentes à condição de serem humanos. Schindler tem um olhar lucrativo sobre o aspecto da guerra, e apoveita a mão-de-obra humana barata e, muitas vezes gratuita, dos judeus polacos. Cedo se percebe que a fabricar panelas, tachos e talheres se safavam de um destino funesto, a extradição para campos de concentração, ou serem abatidos a sangue frio.
O filme consegue muito bem transmitir, o rápido evoluir das situações, e muitas vezes o olhar incrédulo dos judeus polacos que pensvam serem indispensáveis como mão-de-obra para a expansão do III Reich, até à suspeição de campos de concentração e as suas câmaras de gás, construídas com o propósito de abater seres humanos, como se fossem uma epidemia.
O facto de ser filmado a preto e branco pode ter muitas conotações, assim como a sua longa duração. Mas penso que Spielberg queria dar-nos a prespectiva de espectador de um documentário, de um retrato fiél e isento. Como se estivéssemos a assistir a um dos elementos de prova apresentados no julgamento de Nuremberga. E escolha de Ralph Fiennes como Amon Goth o capitão nazi e chefe de campo, foi tudo menos aleatória, pois consegue encarnar o sentimento de arrogância e supremacia nietzchaino de que os alemães colectivamente padeciam.
A melhor cena do filme, em termos de diálogo e confrontos entre personagens, é quando Schindler tenta infrutíferamente convencer Göth de que a maior virtude de um homem com poder, é a liberdade de não usar. Ele tem o poder para usá-lo mas não o faz.
Não deixa de ser icónica, em termos visuais, a cena do «capuchinho de vermelho», que deambula pelas ruas de Carcóvia e, finalmente, só vemos perto do final o triste fado, concluindo que na realidade, o capuchinho não escapa da barriga do lobo mau.
A guerra caba por ter um impacto inesperado na humanidade de Schindler, que a meio do filme ele e o seu contabilista Itzhak Stern (Ben Kingsley), estão determinados a salvar o maior número de pessoas possível, assim como evitar cooperar para o prolongamento do conflito bélico, até à total bancarrota perto do final da guerra.
Certamente que A Lista de Schindler é um dos feitos mais importantes na carreira de Spielberg, o qual terá feito deste um projecto de vida. A forma como foi realizado, acaba por ser um filme histórico sem qualquer abordagem parcial. O filme é um relato, e uma descrição fiél do horror que aconteceu, permanecendo bem para lá de qualquer dúvida razoável.

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