sábado, 8 de agosto de 2009

INIMIGOS PÚBLICOS DE MICAHEL MANN (2009, INDEPENDENTE)
Adoro os filmes de Micahel Mann. Simplesmente adoro. Ele é simplesmente daqueles realizadores como uma visão clara e concreta do que quer e pretende fazer. Com uma visão determinada e recta da sua arte. Acredito que ele será um dos realizadores que será objecto de culto daqui por uns anos, e fará jorrar algumas obras sobre as suas técnicas. Muitos traços dos seus filmes são tão marcantes, que muito possivelmente, dentro de algum tempo, breve espero eu, este terá o seu próprio prémio carreira enquanto realizador, o seu próprio óscar.
Até lá, consegue supreender, fazendo pouco mas bem.
O último trabalho foi Miami Vice. Muitos foram os incrédulos que pensaram tratar-se de uma adaptação ao grande ecrã de uma série dos anos 80, linear, básixa e hoje conseiderada vulgarmente de pirosa. Pois poucos foram os que não ficaram surpreendidos com esta longa metragem. Com uma excelente prestação de Colin Farrell e a já conhecida colaboração com Jamie Foxx, os policiais tornaram-se o género por excelência de Micahel Mann. Mas não se trata de um policial qualquer. Trata-se de policiais com densidade psicológica profunda. Com drama social e pessoal. Com uma estranha cadência Shakespeareana. Nãso é de estranhar que todos os filmes de Mann tenham o seu cunho pessoal no guião. Ele tenta abordar o lado mais humano dos personagens, e o casting não é feito por acaso. Parece que cada actor é adeuqado para aquele traço psicológico. Se estudarmos a vida de John Dillinger, vemos como o talento de Johnny Depp é perfeito para o encenar e devolver à vida uma lenda dos anos 30. Cada personagem não é deixada ao acaso, e Mann rompe facilmente com o preconceito tradicional americano de «good and bad guys», que é obviamente errado, e que parte de uma falsa interpretação de uma teoria conseuquencialista da moral, com misturas de deontologia kantiana. Do género, nós estamos do lado certo da lei, pelo tudo justifica a nossa posição.
O filme desenrola-se no mítico cenário temporal dos anos 30, que parece nunca cair em desuso. Os primeiros anos da década de 30 foram muito difíceis e árduos. Como em todos os períodos de precariedades económicas, o crime e a insegurança tendem a alastrar-se. É neste contexto que nasce o Federal Bureau of Investigation, uma agência federal de combate ao crime. Tratava-se de uma situação sem precedente, daí que J. Edgar Hoover tivesse que lutar nos seus congérneres meandos burocráticos para resolver a eterna questão política americana da soberania estadual vs. soberania federal. Porque as forças de segurança interna e política contra o crime fora sempre um domínio reservado dos Estados e das suas forças policiais. Até estes ser virem sem forças para lutar contra o crime organizado que atravessava as fronteiras dos Estados e se aproveitava das suas limitações de jurisdição. O filme capta liminarmente essa luta política em Washington e em Chicago para criar o contexto da cena Gangster, até porque, como sabemos, Dillinger é morto pelo FBI.
Por se tratar de um filme histórico, todos sabemos como culmina, e pode-se dizer que Mann fez um excelente trabalho. O detalhe histórico é impressionante, mesmo nas cenas de perseguição, no histórico das personagens. Poucos devem ser os pormenores que escaparam aos argumentistas. até porque o filme é baseado num livro não-ficcional.
Excelente é também a prestação dos restantes protagonistas. Eu não me arrisco a referir o antagonista - Melvin Pervus (Christian Bale) - porque para além de ele representar o lado feroz da lei, que tinha de combater com mão-de-ferro a criminalidade violenta organizada, como Hoover afirmou na célbre expressão italiana «tirar as luvas brancas», mas porque para combater os gangsters, foi preciso muita dureza. Marion Cotillard, estrela gaulesa que vestiu a Pele de Edith Piaf teve também uma soberba representação. Billie Frechette foi a eterna companheira de Dillinger que passou anos numa dura prisão do Illinois (nessa altura o sistema penal era mais suave para as mulheres, do que para os homens) por ter pactuado com os cirmes de Dillinger.
Escusado será dizer o nível de detalhe e aperfeiçoamento que tiveram os guarda-roupas, ao ponto de os célebres chapeús de feltro terem sido fabricados numa fábrica de S. João da Madeira. Os adereços, entre os quais os carros, as metralhadoras, os casacos, os óculos e os chapéus de palha, foram todos recuperados para recriar esta época mítica. Todos estes componentes e mais alguns fazem deste um grande filme. Com a marca de qualidade de Michael Mann.

1 comentário:

André Sousa disse...

Ora Aí está o melhor filme deste Verão! Gostei imenso