DAZKARIEH - HEMISFÉRIOS (2009, SONS DA MÚSICA)
Foi com alguma estranheza que em meados de Agosto de 2008, em pleno Castelo de Sesimbra, vi os Dazkarieh pela 1ª vez, em muito tempo, depois de uma forte digressão pela Europa Central e de Leste. Vasco Ribeiro Casais tinha cortado a sua farta cabeleira, Baltazar Molina tinha saído, e o conjunto de percussão tinha sido substituído, vejam lá, por um arrajo de bateria. Um jovem de Viseu, contava Vasco em pleno concerto, tinha aparecido nas audiências para um substituto de Baltazar. A mudança deixou-me um pouco apreensivo, e o som da tarola deixou-me um pouco fora do ambiente tradicional dos Dazkarieh. Não podemos negar que, apesar da mudança, o grupo adaptou-se bem à nova secção rítmica.
Cedo soubémos que a folga não era prolongada, com o grupo tradicional a querer ingressar já no estúdio para compor novos temas. O experimentalismo e as novas tendências no seio do grupo, com Vasco e Luís Peixoto a aproveitarem as capacidades distortivas dos instrumentos semi-acústicos, a calmaria deixou de ser o paradigma, para o ruído ser incorporado, paulatinamente e até abruptamente no som do grupo. Os bouzoukis e os cavaquinhos passaram a ter um vertente cura e despida, e quem pensaria sacar aquelas malhas de baixo em Lua Imersa.
Contudo, nem tudo é mudanças, que nem sempre são positivas. A atitude de Joana Negrão e o respeito perpétuo pela Língua Portuguesa permanece, fazendo um levantamento louvável dos cantares que permanecem na nossa cultura popular e tradicional, com especial destaque para as Adufeiras da Beira Baixa, pela qual Joana nutre um grande influência.
Se Caminhos Turvos, entoa uma raiva melancólica, num desespero, Lua Imersa, apela ao misticismo popular caracterísitco, que dá uma certa nostalgia mísitca pela cultura popular portuguesa. E mesmo assim Vasco Riberio Casais consegue incoporar a distorção em pleno, mais o seu camarada Luís com os acordes acústicos. Tal como Varatojo se esforçou por dominar e electrizar a eterna Guitarra Portuguesa, Vasco e Luís fizeram-no pelo Cavaquinho.
Mas se Incógnita Alquimia tinha uma certa queda para a instrumentalidade, Hemisférios aproveita as capaciades vocais pelnas de Joana Negrão e o estreante André Silva faz um bom trabalho em incoporar-se na sonoridade do grupo, de um modo bem orgânico. Os fãs de Rosa de Lava não terão dificuldade em aceitr as novas virtudes da mísitca do grupo, em que tanto sabe dar presença, como deixar preencher o espaço na medieval Longe, em Segredo, que merece um Convento de Cristo para a receber.
Como sabemos, a ligação dos Dazkarieh à nossa cultura. Este duplo cd, reserva «uma metade do cérebro» para a exploração das sonoridades tradicionais do nosso povo. Este levantamento reciraitvo dos Dazkarieh, merece por si só o nosso aplauso, com harpejo e melodias que aos nossos ouvidos nos vão parecer estranhamente familiares. Estas sonridades percorrem todo o rectângulo lusitano e alguns são exclusivamente dedicados ao entoar de instrumentos clássicos já esquecidos, como a Sanfona. Assim temos a Ode burlesca de Eras Tão Bonita ou o tradicional Baile da Meia Volta. Ou até mesmo o enbriante Borda D'Água, tão caracterísitco do nosso quotidiano popular. Por reiventarem aqilo que é tão nosso e tão esquecido, os Dazkerieh merecem os nossos maiores louvores.