sexta-feira, 6 de março de 2009

ALMA LUSITANA#1: JOÃO AGUARDELA 1969-2009 - A MÚSICA POPULAR PORTUGUESA REINVENTADA

Esta rúbrica nasceu para dar um impulso aos artistas nacionais que pela importação excessiva de cultura estrangeira são, por vezes, um pouco negligenciados.
Outra das razões foi para prestar tributo a João Aguardela que tem sido, recentemente um dos génios e maiores contribuidores para a evolução da música tradicional portuguesa.
Poucos o conhecem pelos Sitiados, projecto que fundou com a sua companheira e acordeonista da banda Sandra Baptista. Para mim, no entanto, os Sitiados nunca foram o projecto de maior relevância. Foi com a sua última banda - A Naifa - que eu vim a admirar o seu trabalho, criativo, inspirador e profundamente português e uma das colaborações mais geniais que alguma vez houve na música portuguesa Aguardela/Varatojo.
Acabou por ser um fatídico cancro no estômago que terminara com uma banda que ficará marcada como de culto para sempre.
Curiosamente, os Sitiados foram um projecto familiar, a relação Aguardela-Sandra Baptista era o coração deste projecto. começaram por ter um sucesso muito grande, demasiado grande para Aguardela. Etiquetados para sempre como a banda de Vida de Marinheiro, Aguardela esforçava-se por mostrar e promover outros temas da banda. Alguns ainda sairiam do armário como Vamos ao Circo, ou a recriação do tema do Bailinho da Madeira.
Em 1998, surgiu o projecto Megafone. Foi a partir desta altura que Aguardela viria a estabelecer um relação duradoira com um colega de fundo do rock da «geração rasca», ex-peste & sida/despe & siga, Luís Varatojo. O pano de fundo, o tema preferido de Aguardela, a música tradicional portuguesa. O experimentalismo fez regressar a electrónica e os instrumentos vanguardistas que nunca foram relevantes para os Sitiados. Lançaram apenas dois álbuns. PO ideal deste projecto era fazer do ano 1998, um complemento musical da exposição dos Oceanos, cuja memória permanece uma nostalgia recente do nosso passado. Mas volvidos estes anos todos, a liberdade revolucionária de Abril foi sempre um marco na personalidade de Aguardela que aliado ao seu comamarada Varatojo, constituíram os Linha da Frente. Colaborando com vários segmentos da música portyuguesa desde Rui Duarte dos Ramp, Viviane dos Entre Aspas e até Janeçlo dos Kussondulola, Aguardela coordenou mais um leque de talentos estrondosos, que cooperaram no seu experimentalismo.
Mas foi nos últimos anos que Aguardela criou um dos seus melhores projectos. Tal como Rodrigo Leão descobriu a maigia vocal e Teresa Salgueiro para os Madredeus Mitó (Maria Antónia Mendes) foi a pérola dos A Naifa. Com o seu camrada Varatojo a assumir a guitarra portuguesa, que se esforçou por dominar, Aguardela assumiu a secção rítmica através de um baixo tudo menos indifirente e sentido. O fado nunca foi visto por este prisma e que prisma. aliado à boa música pop, a guitarra portuguesa conseguiu fácilmente substituir qualquer guitarra eléctrica fazendo dos A Naifa uma verdadeira banda de culto inovadora. Chegaram a lançar um dos melhores álbuns de 2006 e, certamente de 2008. Todos os três álbuns de originais foram abertamente aclamados pela crítica e bem recebidos. Já na última digressão, Aguardela dava sinais de fraqueza, conjuugando os tratamentos ao maldito cancro do estômago, com concertos sucessivos. Morreu no dia 19 de Janeiro, no Hospital da Luz com 13 álbuns em 17 anos. Tens razão Mitó, um legado dificíl de ultrapassar. Um génio criativo, sem dúvida.
Ficam as saudades.

3 comentários:

ricardo disse...

:)

excelente homenagem!
bem-hajas!

abraço,
r.

odete almerinda disse...

:)

Anónimo disse...

a naifa é e será a minha banda portuguesa, nada se compara.
fiquei tão triste com a notícia como se tivesse perdido alguém conhecido.