quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

TANTRA - HOLOCAUSTO (1979, VALENTIM DE CARAVALHO)

Depois de um grande álbum de estreia, se bem que eclético e um pouco avant-garde para os ouvintes lusos, Manuel Cardoso, líder e um dos fundadores da banda, teve de se ver a par com a saída do teclista Armando Gama. Os músicos talentosos em Portugal têm uma tendência para degenerar para a música pop e, por isso, Armando Gama prosseguiu mais a sua esposa Valentina Torres para tentar a sua sorte no Festival da Canção.
Apesar disso, integrou-se no quarteto até então um tipo perfeitamente desconhecido, Pedro Ayres Magalhães, que se apelidava, na altura, pela alcunha de «Dedos Tubarão».
Como era de prever, Portugal andava sempre a reboque atrasado do que se sucedia lá fora, foi assim, que a vertente mais crua e dura d0 rock pelo punk se começava a apoderar das novas tendências musicais, pelo que se pode dizer que o rock progressivo em Portugal teve pouca duração, muito menos do que nos restantes países da Europa. Mesmo assim 1979 ainda nos ofereceu bons álbuns progressivos nacionais, Holocausto é um verdadeiro clássico do que melhor se fez em Portugal desta natureza e ainda deu álguns frutos por parte dos Petrus Castrus.
Holocausto não muda significativamente de estrutura face ao seu antecessor. Por quem acabara de perder o mentor das teclas com sons etéreos e futuristas provenientes de um dos melhores sintetizadores. Continua curto e conciso e com algumas canções épicas, e muito instrumental, tal como Mistérios e Maravilhas. OM abre o mote para a paranóia, que encaixaria bem numa das melhores secções instrumentais dos Yes. Apesar da ausência de Armando Gama, a mesma é quase imperceptvel, e a meudança de ritmo e contra-tempo continua bem visível. OM é a típica canção esquizofrénica, com um cadência tão supreendente como Close to the Edge ou The Suppe's Ready. Manuel cardoso disse recentmente aquando do restauro de Mistérios e Marvilhas que o treino era um imperativo da banda, para além da formação técnica da banda. O nível de cada um melhora visívelmente e mantém uma correspondência ao anterior.
Também se mantêm as letras espirituais e metafísicas de Manuel Cardoso. A sua inspiração oriental pelo Yoga que pratiava mantém-se com naturalidade, como os Yes ous os Pink floyd no seu auge. Contudo, holocausto é bem mais carregado e negativo. As alusões a um mundo artificial, estilo Matrix, já se notavam em mistérios e Maravilhas, o apocalypse vem em Holocausto, e de uma maneira lunática e paranóica, Último Raio do astro mostra bem essa herança dos Genesis, e até dos Gentle Giant. Manuel cardoso fez por reforçar o seu contributo vocal de maneira significativa, assim como os seus dotes na guitarra. Não há, ainda, uma faixa que tenha contribuído mais para a universalidade da banda, os Tantra permaneceram fiél ao seu estilo e nem as faixas mais curtas como Zephyrus ou Ara, ou as velhinhas Novos Tempos ou Alquimia de Luz conseguiram reaproximar a banda de uma audiência mais abrangente. Tudo isso se deve à determinação e liderança dos Tantra que, apesar de tudo, conseguiram encher o Coliseu de Lisboa em pleno Novembro de 77, período pós-revolucionário. Os Tantra permanecerão como um banda de culto, num estilo de culto no nosso país, mas são-no merecidamente, uma banda bem reconhecida no exterior.
1979 acabou por ser uma óptima colheita.

2 comentários:

ricardo disse...

...gostei de saber! grande post!
abraço,
r.

Elemento Musical disse...

De facto, o meu disco preferido (paralelamente com o disco Mistérios e Maravilhas)