sábado, 7 de junho de 2008

Rome: Apogeum et Decadentiam


Eu sou fanático das séries da HBO. Pelo simples facto de ser um canal exclusivamente preocupado com a qualidade dos seus conteúdos, não só técnicos como em termos de argumentos. Só os Americanos poderiam e poem ter uma abordagem deste carácter. Entretanto já outros canais se seguem com este tipo e abordagem como a Home Box Office do Grupo time Warner, é o caso da Showtime.
Roma é uma produção conjunta entre a HBO e a BBC, tema aliás que é querido aos ingleses, a Roma clássica. É interessante ver como os argumentistas da HBO se preocupam não só com algum rigor histórico e o retrato fidedigno da sociedade romana como nesta e noutras séries se preocupam em descrever o retrato psicológico da natureza humana. Estes factores, aliados ao rigor técnico que se revê não apenas na imagem, mas também nos guarda-roupas, nos cenários que conseguem envolver por completo as personagens e concebê-los espaço para se desenvolverem.
De facto, quem quiser saber um pouco sobre a sociedade romana pode debruçar-se sobre esta série. Põe-nos até com um sociedade tão corrompida e ausente de padrões morais se constitui uma potência hegemónica em toda a bacia do mediterrâneo. E o que é mais curioso é como em ausência de controlo de poder, o Império se manteve estável por tão longo período de tempo.
No plano político, o assunto-base é a luta pelo poder. Nesta série nota-se, de certa maneira, uma abordagem técnica diferente das que fazem os Ingleses. Estes sabem prolongar bastante os diálogos, à boa maneira Shakespereana, da análise da condição humana. Os Americanos cortam a acção e dão uma certa dinâmica à história. Mas a influência da BBC tende a suavizar essa abordagem e a prolongar o conflito entre as personagens. Aqui nota-se não só a importância do conflito e jogo político entre homens, em particular senadores e generais, mas também as mulheres que nos bastidores servem-se de armas para manipularem. Aqui a hipocrisia é patente, e Roma era uma sociedade extremamente competitiva e forte liberdade do cives (ou seja os cidadãos). Os Cives distinguiam-se em classes sociais, já como acontecia tanto na sociedade etrusca, como na Grécia, que eram os Patrícios (Aristocracia) e os Plebeus, que seriam a populaça. Os patrícios preocupam-se apenas em manter o seu estatuto, por isso a sociedade romana era uma sociedade hierarquizada, e o exercíco da actividade polítca era detido apenas pelos últimos, assim como o acesso a elevados cargos no exército.
No campo social para além da divisão de classes, os argumentistas aproveitaram-se de legionários romanos mencionados nos cadernos de Júlio César para fazer o retrato dos Plebeus. E aqui mostra-se o bonus pater familiae, que era proprietário de toda a família. Ele poderia dispor dos membros da família se quisesse, e isso é bem patente aquando do regresso de Lucius Vorenus da campanha da Gáulia. Esse é um traço característico da sociedade romana, para lém do facto de não haver um sistema público efectivo de justiça, embora houvesse lei, e esta se fizesse prevalecer. Um cidadão quando injuriado poderia fazer justiça pelas suas mãos e punir o seu ofensor. Outro traço muito bem frisado é o esclavagismo. Muitas vezes os escravos eram punidos apenas para ilibar as frustrações dos seus dominii.
A série tem um bom rigor técnico e a base histórica é uma preocupação constante. Embora discorde quanto ao rumo dado a ceros personagens, acho que o retrato global que se quer fazer justifica, e apesar de ter um cunho de violÊncia esta não é gratuita. Trata-se apenas de um reflexo da corrente realista que atravessa as artes cinematográficas e que as enriquecem bastante. É um pouco cara, mas vale a pena.

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