sábado, 21 de junho de 2008

Blade Runner - Um futuro próximo?



As obras de arte têm uma tendência para serem apenas apreciadas para além do seu tempo de produção, ou de concepção. tavez porque sejam irreverentes, à frente do seu tempo, ou talvez precisem de tempo para causar o seu fascínio. Blade Runner surge com uma tradução um pouco descabida e um título pouco sugestivo, mas não demorou a que se tratasse de um clássico moderno. A ficção científica estava no auge, tanto pela exploração espacial estar no seu apogeu e a entrada nos anos 80 não dava sinais de abrandar, bem pelo contrário, caso é o da Guerra das Estrelas, não só a saga mas como a política de defesa planetária contra mísseis intercontinentais nucleares e termonucleares, entre então as duas superpotências.

Os realizadores em particular Ridley Scott que ao momento já contava com um êxito também ele de ficção científica, mas com um cunho de terror no seu permeio, Alien o 8º passageiro. E Scott manteve-se fiel ao estilo e decidiu pegar no romance de ficção científica com queda para a filosofia existencialista de Phillip K. Dick «Do the androids dream of electric sheep?». E o problema essencial da obra e posteriormente do filme é como devem advinhar a vida artificial, que acaba por culminar na essencialidade da vida em si, de todas as formas de vida. A entrada do filme é gigante, senão megalomaníaca, mas fascinante, e as alusões filosóficas são fenomenais, senão o olho humano, como uma permanente referência ao argumento do desígnio como prova da existência de Deus. A abertura apoteótica em Los Angeles é algo singular em toda a história do cinema, similar em alguns traços à de Apocalypse Now.

Brilhante também é a concepção futurista da cidade de Los Angeles, em especial as torres de índole Maia da Tyrell Corporation, começando nas torres de petróelo a ejectarem chamas, com um aerocarro a deslocar-se em direcção da câmara o impacto é dislumbrante. Numa entrevista Scott referiu que o detalhe artísitco de cada imagem foi cudadoisamente filmado e captado para que o espectador sentisse estar por completo emerso noutro universo.

Outro ponto de excelência do filme são os diálogos, e o conflito iminente entre os seres humanos reais e artificiais. Os replicants são seres humanos artificiais, escravos, adstritos a serem subordinados a tarefas árduas ou à satisfação das necessidades dos seres humanos naturais. Estes andróides possuem um nível de intelegência artificial equiparado ao nosso, e uma força sobrehumana, capazes de aguentar condições naturais adversas, no entanto, os replicants nasceram com um prazo de validade pré-definido. É aqui que surge Roy Batty e o seu grupo de insurrectos que decidem revoltar-se e voltam à Terra para conseguirem mais vida, ou prolongarem aquela que têm. Para isso precisam de voltar a para o seu criador Dr. Tyrell engenheiro-chefe genético, que está alojado nas célebres torres. Curiosamente existe um traço de divindade que se quer dar ao próprio Dr. Tyrell. A sua magnificiência e megalomania consiste em ultrpassar constatemente os limites do ser humano, e criar seres artificiais perfeitos superiores em tudo aos que Deus criou.

É neste contexto que Harrison Ford assume o papel de Deckard, um polícia especializado em abater e perseguir seres humanos artificiais. Este encontra-se de retiro, e o passado de Deckard é estranho senão vago. É aqui que as visões originale e a integral (a do realizador) divergem culminando em finais diferentes. No decurso da sua investigação Deckard trava conhecimento com Rachel, supostamente sobrinha de Tyrell, até ela descobrir que todas as suas memórias foram gravadas e inseridas, e que o seu passado não existe, mas apenas na sua mente.

Mas o ponto forte do filme e o que lhe concede a sua magia é, para além das concepções das personagens, o cenário deslumbrante. A Los Angeles de 2019 é única e cada cenário cria um mundo envolvente, uma dimensão à parte. Os subúrbios negros, sujos e consumidos pelo industrialismo. A atmosfera de chuva constante e o movimento acelarado da metrópole, com figrantes bastante caricatos, dão-lhe um ambiente de filme noir, bem adequado a um policial. O que é interessante é que Blade Runner é um policial futurista, pelo que adquire um pouco de mistério e a negrura assenta-lhe bem.

O outro ponto forte é como já referi as personagens caricatas, à qual se lhe assenta um visual futurista, sobre tudo no guarda-roupa e maquilhagem. Nos adereços nota-se uma preocupação especial e um detalhe impressionante, ao mesmo tempo que se deixam marcas de um passado, caso do piano na casa de Deckard, e as fotografias que aparentemente ele parece desconhecer, que levanta o problema filosófico bastabnte interessante: terão as nossas memórias sido criadas? J. F. Sebastien é talvez a personagem mais interessante do filme, pelo menos do meu ponto de vista. Ele é um ser solitário, mas amável e gentil. Este surge no filme quando acolhe a replicant Pris em sua casa. Sebastien é um engenmheiro genético e tem uma capacidade extraordinária para criar seres artificais. Contudo é um ser decrépito, e as suas glândulas vão se deteriorando acelaradamente devido ao Sindroma de Matusalém. Nesse sentido ele é afim dos replicants, padecendo de um tempo de vida extraordináriamente curto. A certa altura, Sebastien pede aos Replicants para lhe demonstrarem o que sabem fazer, como se fossem seres autómatos e prontamente obedientes. Batty (Rutger Hauer) responde-lhe «We are people Sebastien. We don't have to do everything you do», demonstrando que a dignidade humana é um sentimento que se extende a qualquer ser humano, quer seja natural ou artificial, o que não significa que por sermos criadores de algo, não quer dizer que deles sejamos senhores.

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