terça-feira, 11 de novembro de 2008

A NAIFA - TRÊS MINUTOS ANTES DA MARÉ ENCHER (2006, ZONA MÚSICA)


Sob o mundo de betão que cobre a nosso quotidiano, a guitarra portuguesa, que já não é o que era, assombra o nosso subconsciente da 1 da Noite às 8 da Manhã. E em cada verbo, cada tom vocal de Maria Antónia Mendes (mais acarinhada por Mitó) está um lado oculto de ser português, uma melancolia e um saudosismo que nos é natural e que se revela descaradamente em cada movimento do dia-a-dia.
Mas não é de poesia e desalento que versam os A Naifa. Eles são para mim a par dos Dazkarieh, a banda mais criativa da nossa cultura, que influenciou certamente grupos que vão geminando e surgindo aos poucos por aí, caso dos Deolinda. A maior surpresa é o fenomenal trabalho que Luís Varatojo conseguiu retirar da guitarra portuguesa. Caso não crêm nestas palavras profanas podem escutar monotone. É tão boa como a música que já não passa na rádio. O trabalho dos A Naifa chega a ser mesmo mordaz, em Fé, com um cunho anti-clerical feroz e o apego à terra que é tão nosso em Antena. Provavelmente nenhum tema dos Diapasão e outros tantos do emanuel chegram à nobreza de um tema que toque tanto aos emigrantes como antena. e os traços vocais de Mitó são incomparáveis, a sua voz a par da guitarra portuguesa de Luís Varatojo são as peças centrais neste quadro de ser protuguês.
As iniciativas de grupos assim são de divulgar e adorar, mais até do que as influências estrangeiras, de conseguir conjugar e reinventar aquilo que nos é auctótone, com o eléctrico, numa tentativa que os Madredeus já tinham ensaida em eléctrico, e também com o electrónico pelos trbalhos de Rodrigo Leão dentro da célebre banda. Apesar de calmo e pesaroso a secção rítmica dos A Naifa com João Aguardela no Baixo e Vasco Vaz na Bateria é tão notório e melancólico como o dueto voz-guitarra em Quando os Nossos Corpos se Separam.
As letras são pintadas de tristeza, mas isso apenas acontece porque o Fado remonta ao século XIX do Romantismo e, por isso, o fatalismo que nos é inerente. Influências românticas que José Luís Peixoto fez questão de transmitir em Todo O Amor do Mundo não foi suficiente, que os A Naifa encarnam de uma maneira soberba «O amor nãoserve de nada». Continuem a exultar e a elevar o espírito português.

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