quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

THE WRESTLER (O LUTADOR) DE DARON ARONOFSKY (2009, FOX SEARCHLIGHT STUDIOS)


Ora aqui está mais um dos filmes que ficou renegado para o pequeno ecrã. Com os gostos a serem cada vez mais selectivos e o tempo mais restrito a essas opções. The Wrestler faz-me lembrar um filme português em formato documentário, muito decadente - Belarmino. É um típico filme de género, mas inovador à sua maneira. E aqui Aronofsky passa completamente a sua faze ficção científica revolucionária em The Fountain para uma mais modesto rwalismo quotidiano.
Não se poderia arranjar alguém melhor para tal papel do Mickey Rourke. Um homem que sofreu na pele - literalmente - as cicatrizes da vida de um lutador. É com a cara meio desfigurada, que se faz uma interpretação actualista de todos aqueles filmes lados negros de Rocky, como O Campeão, por exemplo. Aqui tal como o circo de Roma, o mundo do espectáculo violento tem o seu preço a pagar, chegando mesmo ao custo da vida humana. Randy The Ram vem a saber isso depois de alguns excessos no ringue. Vivendo uma vida amarguarada, como um herói puxado para o esquecimento, o seu velho corpo, com miopia grave, próteses e tudo o mais, leva mais um bypass para o seu coração já moribundo. Tudo isto implantado durante o seu sono induzido.
Este é o reflexo de 20 anos de carreira, com os dissaborosos anos 90 a mediar todo esse período. Para representar esse revivalismo de Randy, Aronofsky vai buscar os melhores hits dos anos 80, seja os Ratt que serve de deixa para uma tampa cujos corações velhos têm dificuldade em aguentar, ou Motorhead, e o regresso ao activo com os AC/DC. Tudo o que o glam metal tem de melhor.
Tudo isto está envolto num certo ambiente agri-doce, com uma pitada de humor. Humor esse, bem ao estilo infantial do «jackass» que se reflecte no modo como os lutadores combinam entre si esfolar-se e depois toca de mamar umas jolas. Esta combinação entre o humor e a tragédia acaba por fazer parte do realismo que está em voga hoje, e aqui para nós, ainda bem.
Randy descobre que está no fim da vida e descobre que não terá ninguém para cuidar dele. A única filha que tem não quer nenhum, nem qualquer relacionamento com ele. Randy sabe que mais tarde ou mais cedo, o tempo há-de esgotar-se e a morte se encontrará com ele no fim, mas será uma morte solitária. Irónico ser rodeado de tantos, e viver na solidão.
Randy procura deseperadamente conforto nas mulheres que perderam interesse nele, uma carcaça abandonada, parecendo para estas desprovida de humanidade. Apenas Pam «Cassidy», uma stripper de um clube local, que também ela sente o peso da idade e da decadência. Justamente quando este eleva o seu interesse para além do carnal, Pam recusa o seu afecto, justamente pelas cicatrizes que estão vincadas no seu passado. Cassidy é mãe, e uma mulher, pelo que muitos vêm apenas o seu objecto e esquecem a dignidade. Brilhantemente, Aronofsky tenta captar no dilema destas duas personagens, que acaba por ser um dilema de linguagem e desentendimento e desencontros. A falta de tolerância, muitas vezes legítima, leva a que Randy uma pessoa boa e cheia de boas intenções, a um fim triste.


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