segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

ÁLBUM DE RECORDAÇÕES#6: THE BEATLES - ABBEY ROAD (1969, EMI/PARLOPHONE)


Este, como vários grandes discos da história, tem uma história carregada de ironia, é o anúncio confirmado de um fim. Muito embora, Let It Be haveria de ser lançado posteriormente, este foi de facto o álbum de despedida dos Garotos de Liverpool.
Eles preconizaram o princípio de uma revolução e o seu auge, mas quando a geração hippie comelou a degenerar num futuro profético dee A Laranja Mecânica, a década de 70 já não haveria de lhes pertencer, mas a uma ficção científica fascinante de uma evolução do rock em várias subespécies de rock, tanto mais progressivo, agressivo ou de fusão. Géneros que directa ou inderectamente se reconduzem ao Quarteto Fantástico Britânico.
Não é por acaso que o nome do estúdio ficou para sempre gravado como uma fabulosa colectânea de músicas contemporâneas. As salas de gravação eram uma 2ª casa e o ambiente familiar dava-lhes um certo conforto para a composição. E talvez, ainda que subtilmente, todo espaço lhes dava tranquilidade ao ponto de se tornar um dos desenlaces mais pacíficos da História da Música. Apesar de internacionais, os Beatles não deixavam de ter aquela postura britânica, que acompanha um «beef» para qualquer lado.
Se calhar por úm fim estar próximo, parece que isso ainda elevou mais o nível de composição. «Come Together», é uma das músicas com mais groove que já se fizeram. Se Paul McCartney não for por isto considerado um dos melhores baixistas que já existiram, não sei o que será. Apesar de suave, a música tem um poder, e como sempre uma conotação subjacente que John Lennon imprimia nas letras. As habituais contribuições isoladas de George Harrison com a sua eterna companheira «guitarra-musa», dá um simbolismo e uma magia às músicas dos Beatles, no meio da coalboração hegemónica Lennon-McCartney. «Something» e «Here Comes The Sun» mostra-nos um Harrison, mais afastado do experimentalismo oriental, mas mesmo assim marcante, junta-se às grandes While My Guitar Gently Weeps ou a posterior I Me Mine.
Maxwell Silver Hammer é o prenúncio da revolução dos Hammond Organs que haveriam de vir, de uma maneira profética, e sobretudo alegre. Onde tal como os Lords Ingleses, os Fab Four mostram-se triunfantes mesmo na derrota, ou melhor no fim. E se anterior, o legado instrumental dos Beatles mostra as suas penas de pavão, Oh Darling! mostra o futuro dos coros. Se calhar poucos reconduzem aos Beatles, mas para mim o início dos arranjos vocais começa com a voz esganiçada de Paul McCartney que à Senhor mostra aqui o sentimentalismo do Cromossoma Y, de uma maneiras extraordinária.
E se as supresas acabavam por aqui somos surpreendidos pela «estado de graça» de Ringo Starr em Octopus's Garden. Que não só se safa na secção rítmica, como faz uns fabulosos arranjos de guitarra e voz.
Mas o tema seguramente mais amado dos Beatles, pelos fãs pelo menos, é dedicado à deusa oriental Yoko Ono. Segundo se diz por aí. Lennon estava tão enamorado, que com o seu velho companheiro de armas McCartney, que acabou por emprestar a densidade vocal de que a música precisava. Da primeira vez que ouvi a música, estranhava a similitude impressionante que Finally Free dos Dream Theater tinha com esta faixa. De facto, esta música está revestida de um mito pouco vulgar, que faz dela uma das canções «de todos os tempos».
Até aqui já estaríamos satisfeitos com um excelente lado A para ourvirmos durante muitas e várias horas sem cansar. Só que a tempestade mental do quarteto ainda estava por acabar. «You Never Give Me Your Money», será mais uma das músicas de sempre com a psicadélica She Came in Through The Bathroom Window, que demarcou, como tantas outras, o contributo das drogas para a história da música moderna, tal como o absinto e o ópio determinaram a música romântica e sucessivamente a música do início do Século XX.
Com um toque de sarcasmo os Fab Four, despedem-se com Carry That Weight, música que junta todo o esforço colectivo vocal, óptima para preencher estádios, coisa que poderiam ter feito, mas o grupo nunca quis; e The End que bem a um jeito hippie é uma faixa bem alegre com um forte cunho instrumental, sobretudo das percussões e da guitarra Harrisoniana. Her Majesty marca o paradoxo internacionalista dos Beatles, que nunca deixaram de ser orgulhosos ingleses.


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