terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

PETRUS CASTRUS - ASCENSÃO E QUEDA (1978, SASSETTI)

Portugal é, de facto, um país com imensos tesouros e talentos, alguns ainda por descobrir. importamos tanta cultura estrangeira que, granfde parte das vezes, ignoramos a nossa. Muitos pensam que (até eu próprio há uns tempos) o movimento progressivo passou apenas pelos magníficos Tantra e pelo lapso genial de José Cid. Mas não culmina aí. Em pleno Marcellismo, Portugal já demonstrava pontos de contatco com o exterior e forças para romper com a censura estabelecida.
Os irmãos José (teclados, baixo e vocais) e Pedro Castro, guitarrista/ baixista e voclaista (este último cujo nome em versão latina deu origem à banda), juntaram-se ao ainda incógnito Júlio Pereira, que hoje é um dos mestres do bandolim, mas naquela altura rendia-se aos encantos mágicos da guitarra eléctrica. A estes juntou-se Rui Reiss dos Play Boys no órgão e para completar o quinteto João Seixas na percussão e bateria.
O rock progressivo dominava as visões futuristas britânicas, que era o mote para praticamente tudo, desde o erudismo musical, às viagens pelo espaço-tempo, como por mundos fantásticos de Tolkien e da mitologia clássica. Ocasionalmente, e de uma maneira muito lírica e inspiradora, o movimento progressivo criticava de uma maneira alegórica, as instituições políticas e sociais. Os Genesis fizeram-no no brilhante Selling England By The Pound, e os Pink Floyd a partir de Dark Side of The Moon, graças às visões agudas e concisas de Roger Waters.
Foi destes dois que os Petrus Castrus receberam grande parte das suas influências, principalmente dos Floyd. Meddle tinha sido um álbum excelente em todos os aspectos, e catapultou os Floyd para o conhecimento geral dos ouvintes. Ainda que filtrado, o trabalho deestas bandas havia de chegar a solo luso e inspirar uma nova geração de músicos. Infelizmente, a censura abalou a recpetividade que o álbum de estreia dos Petrus Castrus haveria de ter - Mestre - editado em 1973. O abalo foi tão forte que ainda hoje o álbum não foi convertido em cd.
Ascensão e Queda editado em 1978 conseguiria ter mais um pouco de reconhecimento, ainda que pouco. Desta feita, a banda decidiu fazer um álbum conceptual. Acaba por ser uma crónica aos ideias revolucionários e o seu consequente declínio civilazional. As primeiras músicas são dedicadas a essa ascensão quase épica de um movimento, que depois se corrompõe e culminam no colapso, à medida que a tonalidade musical, mais grave e melancólica, reflecte esse mesmo colapso.
Os coros vocais dos irmãos Castro demonstram uma nítida influência de bandas como os Yes, e a importância dos teclados e dos órgãos demonstram um apelo ao génio musical de Keith Emerson tanto em The Nice como em ELP. Apesar de um trabalho significativo, nota-se ainda um ingenuidade no trabalho e alguma falta de produção, pois o som, para além de não ser remasterizado, reflecte as dificuladades da época da produção do álbum. As letras, ainda que interessantes, não são nitidamente audíveis, e a excelência técnica de Júlio Pereira fica ainda por escutar.
Apesar de poderem usufruir da aclamada liberdade de expressão do período pós-revolucionário, os Petrus Castrus acabaram por ser vítimas do mercado quando o singles que se sucederam a Ascensão e Queda, Cândida e Agente Altamente Secreto, pouco ou nenhum impacto tiveram nas audiências. Fica assim para os curiosos musicais e fãs de rock nacional, do bom.

Sem comentários: