terça-feira, 29 de maio de 2012

MARS VOLTA - NOCTOURNIQUET (2012, WARNER BROS.)

Volvidos 3 anos desde que Octahedron fora publicado, e começando a estranhar uma demora tão grande para lançar um álbum, os Mars Volta interromperam o seu pequeno hiatus no final de 2011 com o lançamento de Noctourniquet.
Menos estranho não será dizer que houve mutações na Mars Volta band, com a saída dos contributos de estúdio do lendário John Frusciante e do longo companheiro de estrada Isaiah «Ikey» Owens.
Apesar de tantas mudanças, o núcleo duro de Mars Volta mantém-se, assim como a sua identidade.
Na verdade Noctourniquet já estava preparado instrumentalmente imediatamente após o lançamento de Octahedron. O que impediu o seu imediatamente lançamento foi um desentendimento entre Cedric Bixler-Zavala e o seu companheiro Omar Rodriguez-Lopez. Cedric acusou algum desgaste e pressão para ter de lançar material novo, e ter de acompanhar o seu amigo no seu frenesim criativo. Mas ao contrário do que, provavelmente, terá acontecido com Portnoy e seus colegas, Omar soube dar o seu espaço. Só que esta tolerância e compreensão levou dois anos a Cedric que certamente terá o passado no Sofá, a fumar algumas brocas e a comer umas perninhas de frango, pois voltou bem mais gordinho. Até que a este ponto Omar impôs-se e pergunto o habitual «como é que é?».
Ora bem o resultado a não menos estranha que as anteriores, quem teve oportunidade de ouvir Malkin Jewel sabe a que me refiro, e àquilo que representa a força e a visão criativa dos Mars Volta. Quando muita gente se deparou com o electricismo de Octahedron, Zavala rompeu com a complexidade da crítica musical lidar com a falta de rótulos ou a impossibilidade de os empregar.
Os Mars Volta são uma banda musical, sem fronteiras, ponto. Significa que eles atravessam todos os espaços, todas as barreiras musicais, daí que muita gente inevitavelmente os coloquem no plano do progressivo, dadas as longas composições, as métricas complexas, e as longas composições, que eles paulatinamente têm abandonado, bem como os álbuns conceptuais.
Bem neste ponto, o mesmo se pode dizer face aos anteriores. Noctourniquet tem uma linha muito própria, uma estória delicada, um ponto no horizonte. Desta feita viajamos até à mitologia grega e ao conto de Hyacinthus, e como este se relaciona com a visão elitista da vida.
Partindo da balada do Solomon Grundy (e de repente regresso ao Batman Arkham City e volto), Noctourniquet faz incursões etéreas e celestiais pelo subconsciente humano. Nota-se faixas com presença dos teclados, e uma guitarra menos sonante, à excepção da entrada rompante de The Whip Hand. Mas tirando essa abertura quase numa alegoria à influência punk, Noctourniquet é um disco estranho, e como todos os de Mars Volta não é de fácil audição.
A sua métrica estranha, os sons bizarros, o caos dá-lhe uma certa mística, uma estranha curiosidade de nosso subconsciente. Penso ser esse o melhor adjectivo para descrever os Mars Volta, o som do subconsciente mais estranho que possa haver.
Recordo-me com frequência de ouvir Bedlam in Goliath e muitas as vezes as músicas nem sequer coincidirem com as faixas.Aegis e Dyslexicon seguem o mesmo ritmo, e continuamos sem descortinar a narrativa que está por detrás de Noctourniquet. Visão aliás não muito distinta dos anteriores álbuns.
A faixa mais forte do álbum e com maior apetência para a rádio seria certamente «Empty Vessels Make Loudest Sounds» e reparámos como foi Malkin Jewel que foi escolhida. Uma faixa que dá entender que se estão a quebrar as coisas em cacos.
Mars Volta continua a ser um grupo fiel a si próprio, com uma visão muito característica e de não comprometimento.

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