domingo, 9 de outubro de 2011

OPETH - HERITAGE (2011, ROADRUNNER RECORDS)

Numa entrevista a uma célebre revista de Heavy Metal, Mikael Aekerfeldt, inconstestável líder da banda mais proeminente e promissora do movimento progressivo actual, dizia que finalmente se tinha libertado das «correntes do metal». E não é para mais, com um ar sereno e translúcido, com uma camisola dos Jethro Tull, não podíamos negar que, de facto, para Mikael Aekerfeldt e para os restantes Opeth, muita coisa mudara. Não que tenha voltado as costas ao Death Metal, que tanto faz parte da sua personalidade. Mas para quem ouviu Opeth desde sempre, a paizão pelas longas composições, as variações de tempo (e vocais), os arranjos jazzistíscos, não pode negar que a corrente, a veia progressiva, sempre esteve lá. Quem não ouve Heritage, não compreende Damnation ou qualquer outro álbum dos Opeth
Com Heritage, Aekerfeldt não só assume o papel de líder como volta a trabalhar com Steven Wilson, orgulhosamente. O guru do movimento pós-progressivo, que já desempenhara um papel importante na história dos Opeth, teve uma participação principal na remistura de Heritage. Nome este que não é casual.
Apesar de parecer quase que uma inspiração natural, Heritage demorou a ser transcrito para as linhas de pauta,e aquilo que poderia ser apenas mais um álbum dos Opeth, tornou-se um excelente tributo àquilo que o legado do rock dos anos 70 deixou no jovem Aekerfeldt.
Heritage começa com um piano suave, o único contributo do novo teclista Joakim Svalberg para este álbum, já que Per Wiberg foi responsável por revitalizar os hammond organ, os minimog, e os mellotron bem ao estilo de Jon Lord e Rick Wakeman, que tanto ecoaram na mente de Aekerfeldt.
Devil's Ochard foi o tema do álbum, e a sua atitude é difrente, e reflecte uma tendência moderna para o revivalismo e a redescoberta do experimentalismo que tanto rechearam e recheiam os concertos de bandas reunidas e de tributo por esse mundo fora.
Mas, para mim I Feel The Dark é o tema de eleição. Com uma  malha muito prog, muito folk, a lembrar Jethro Tull e Fairport Convention, traz também as memórias de temas como Benighted ou Face of Melinda, do já ido Still Life.
Quando questionado sobre os seus célebres «Goar», Aekerfeldt não esconde esse elemento como sendo característico da sua performance, mas ele não quis esse acto para Heritage. Algo que a banda aceitou profundamente. Apesar de mudanças substanciais, certas coisas não mudaram, como a sua persistência em compor isoladamente, e apresentar posteriormente os temas para a banda em arranjo. Essa valeu-lhe um tributo de Slither, balada muito «Rainbow» em homenagem a Ronnie James Dio que faleceu em Junho de 2010.
Mas as semelhanças com o passado não acabam por aqui. Em Famine, a entrada caótica não é desconhecida para todos aqueles que sofrem de progressivite. A famosa faixa  Silent Sorrow on Empty Boats, do lendário The Lamb Lies Down on Broadway é representativa disso mesmo. Até o próprio recurso à flauta transversal. Heritage não chega a compor a totalidade do espaço do álbum, mas os seus arranjos especiais, a escolha dos níveis de gravação, tudo é pensado ao pormenor, até beber da árvore da vida - uma capa que foge ao tradicional simbolismo gótico - é inovador e mercedor da nossa melhor atenção. Um disco que ficará para a história, um tributo sobre forma de originais. E, de facto, influências, quem as não tem?

Sem comentários: