Os Sigur Rós são, para mim, o grupo que mais me custa opinar. Existe, desde logo, a barreira linguística e como tal, decifrar o que dizem pode ser complicado. E não se fica por aqui, pois o Islandês, para além de ser reconhecido por poucos, mais se agrava com o dialecto que eles próprios desenvolveram.
Depois existe a abordagem vocal. Uma musa vocal em sim mesmo, o cantor Jón Þór “Jónsi” Birgisson, mantém o registo, o timbre de voz, e o registo vocal de sempre.
Quem conhece Sigur Rós sabe que Valtari não é uma aventura diferente. Aventura musical leia-se. E confortável também.
Valtari significa cilindro, e aparentemente nada me faz lembrar um enorme rolo compressor. Aliás, o vocábulo pode muito bem ser descrito como o seu antónimo, ou melhor, a ideia oposta. A música dos Sigur Rós exprime espaço, tranquilidade, e desacelera o tempo ao seu ritmo mais melodramático. Um som nostálgico da infância. Um som que facilmente se imbui na paisagem e no processamento arguto dos estados de espírito.
No fundo, Valtari é um registo que puxa pela nossa imaginação. Numa casa de campo, quem a tiver ( e não muito valiosa, caso contrário vão ter de largar o couro para pagar o IMI), e num quarto confortável, pode impor os seus auscultadores, deitado num quarto com águas-furtadas, um fio de parta a entrar pela janela do telhado, somos convidados à meditação.
«Ég anda» é o mote para abrandarmos a nossa respiração ao compasso de um batimento cardíaco. Lentamente, somos tomados pelo silêncio - Ekki Múkk - inspirador, e submergido na meditação, e na viagem interior. A atmosfera mantém-se e sobrevoa os nossos corações no leito do descanso eterno de Dauðalogn - Morte tranquila. Valtari é quase que como aqueles álbuns desconhecidos Zen que vemos nas montras de alguns supermercados, um convite ao revisitar interior. E pode parecer foleiro, e até pejurativo dizer-se isto, mas a comparação não me parece, de todo, despropostiada. Primeiro porque esse tipo de música é, frequentemente, olhado de soslaio, ou mesmo desdenhada injustamente, e depois porque Valtari é uma representação disso mesmo. Uma atmosfera envolvente, um som introspectivo. Mesmo as músicas que poderiam sugerir algo mais agressivo como
"Varúð"/Cautela, ou Rembihnútur/ Apertado, matém esse espírito bucólico e melancólico, seguindo a matriz dos próprios Sigur Rós.
Foi esta matriz que levou os Sigur Rós a convidarem vários realizadores a materilaizarem, ou melhor a personificarem os estados de espírito de Valatri nas suas mais amplas concepções gráficas. Este projecto teve o nome bastante sugestivo de The Valtari Mystery Film Experiment, o que acaba por dizer tudo. Não é verdade.No fundo Valtari, é uma banda sonora à espera de filme, e a primeira a encetar a odisseia gráfica foram as irmãs de Jónsi, Lilja and Inga Birgisdóttir. A primeira estrela de capa do álbum de estreia - Von.
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