segunda-feira, 18 de junho de 2012

PATTI SMITH - BANGA (2012, COLUMBIA RECORDS)

Patti Smith é daquelas artistas, tal como Bruce Springsteen, Neil Young ou Leonard Cohen, que se recusa a desaparecer do mapa, a cair no esquecimento da nostalgia. Para aqueles que acham que estes paladinos, poetas guerreiros das palavras, que mais não fazem do que repetir-se ao longos das décadas cujo um tempo seu já está longe e ultrapassado... Desenganem-se. Ainda bem que há músicos que continuam a produzir as mais belas articulações de palavra, com um contexto rock. Impossível dissociar esta atitude tão latente em Tarkovsky (The Second Stop is Jupiter) com a clássica Celebration of the Lizzard dos Doors.
Banga é um disco exuberante, e a celebração de uma artista que se recusa a morrer. Banga é um nectar para os nossos ouvidos, como se precisassem desesperadamente de sons harmónicos que os preenchessem de harmonias e sons galantes.
O instrumental acompanha e cria a atmosfera adequada para que Patti narre a sua história. Longos são os tempos do proto-punk e da música de três acordes. Hoje Patti parece ir buscar bem mais influências ao contry, folk e música tradicional índia, com cânticos fortes, uma guitarra presente, graças ao trabalho bastante competente de Lenny Kaye, companheiro de armas de Smith, o qual já compartilha o trabalho de escrita como de produção. O trabalho de guitarra é particularmente importante em Nine, como na evocação quase virgiliana do Imperador Romano Constantino, em Constantine's Dream. A versatilidade de Kaye faz lembrar Robby Krieger, suportado pelo não-tão-bom-quanto-Ray-Manzarek mas a-par-de-um-John-Paul-Jones, Tony Shanahan.
Como um artista no auge do seu amadurecimento, Banga reflecte os pensamentos de Patti sobre o mundo moderno. Tendecialmente, a idade leva um refriamento dos ânimos e as posturas bem mais reflectidas, e pensadas. Produto, em parte, da geração revolucionária dos anos 60, Patti exprime os seus receios desconcertantes face ao futuro ecológico do planeta. E isso é visível no original de Neil Young revisitado - After the Gold Rush, com o futuro da humanidade em pano de fundo.
Mas não é ao globo que se resumem as inquietações. Amerigo mostra os receios face ao futuro da América, mas também esperança no renascimento do sonho americano «I saw the new incostant shifthings of fortune»... E mesmo assim esta esperança não morre, e continua nas «Words of the New World» e são épicas. A faceta lírica de Smith é tão inatingível e bela capaz de incitar aos mais puros sentimentos dentro de cada um. Só na faixa de abertura Smith consegue fazer um brilhante retrato nostálgico, mas também épico, e é magnífico.
Mas se a grandeza se atinge, chega também a reverência aos novos mártires da música moderna, ao qual os anciãos avistam com tristeza um fim anunciado. This is The Girl é a ode a Amy Winehouse, cujo talento ficou retido no gargalo de uma garrafa de uísque, que provavelmente tantos sentimentos contraditórios lhe trouxe.
No meio destas esparsas, Smith consegue prestar ainda o seu tributo ao romantismo com uma música bastante aprazível April Fool, na qual o baxista de Smith teve o seu cunho especial. Mais uma vez, a banda de Smith mostra que tem um papel importante a desempenhar, particularmente como construtores de canções.
Outra faixa inultrapassável do sagrado Banga, que não deixa de ter um conotação indissociável da mitologia ocidental, passa pela passagem a oriente em Fuji-San, na qual o ambientalismo e, uma vez mais, a filosofia ameríndia sem demostram em todo o seu esplendor.
Banga, como Wrecking Ball, mostra que os da velha guarda, estão aí para as curvas, e recomendam-se.....

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