E tal como uma mudança d'estações, os Anathema encontram-se a explorar uma mudança de paradigma. Ainda mais profundo que outras bandas. E pelo contrário não foi uma viragem comercial, tendenciosa, com um propósito discográfico qualquer. Os Anathema estão a colher os frutos do seu próprio retiro espiritual, algo que faz lembrar a quase súbita viragem dos Beatles a leste, e de repente, vieram Revolver, Sgt. Pepper & White Album.
Os Anathema são uma experiência quase oposta e ambivalente, mas ao mesmo tempo simbiótica. O próprio reverso do seu Yin & Yang. Poucas bandas são aquelas que se mantêm fiéis ao estilo, duros, quase fundamentalistas, e até mesmo dogmáticos. Para alguns, essas bandas são fortes, autênticas fortalezas. Mas para muitos, são incapazes de se recriar, de se revolucionar de trazer algo novo. E aqui surge a virtude do movimento progressivo - transpor barreiras.
Os Anathema encontraram outras musas, e em boa hora o fizeram. Nos últimos dois anos lançaram 3 álbuns de originais, um feito igulável ao experimentalismo dos anos 60 e 70, quando a música viajava a mil à hora.
E não é de estranhar, porque a música que têm feito é de uma beleza e uma inspiração imensurável, e um ponto de viragem abismal na sua carreira. Como se tivessem gasto anos e anos da sua carreira no doom metal. Revisitando os Pink Floyd de Meddle e Atom Heart Mother, e a corrente espiritualista dos Sigur Rós, só que compreensíveis.
A dualidade que falava há pouco reverte-se em tantos aspectos, mormente a polaridade voz masculina e feminina. E a parte vocal é algo de sentido muito forte e presente, que não pode ser descurado, num estilo que se pode apresentar tantas vezes com queda instrumentalista. E algo com que nos podemos esquecer é a importância das 6 cordas. Muitas vezes em forma de harpejo, podem esquecer os solos extensos, porque o importante é criar o ambiente certo. A atmosfera começa pausada, crescendo paulatinamente..... subitamente, aquela voz. Weather Systems tem vários exemplos desta construção, a começar por Untouchable Pt.1 ou Lightning Song.
A maneira como as letras e a música se conjugam é estrondosa, capazes de impor um ritmo da batida de um coração (The Strom Before The Calm), culminando num final épico. Em toda a parte vemos a importãncia que assumem as teclas na construção destes espaços imensos, compensados pelas guitarras crescentes, e a bateria rufante. A construção base é a mesma, mas a susceptibilidade de nos levarmos, de viajarmos por estas faixas ao centro de nós mesmo é avassaladora. Somos induzidos à introspecção.
Apenas The Storm Before The Calm, apresenta Os Anathema no seu cenário mais electrónico possível, uma viragem tão significativa quanto a dos Radiohead em Kid A ou OK Computer.
Tivesse surgido mais cedo, a nova corrente do anathema de We're Here Because We're Here, Falling Deeper, e Weather Systems teria presença obrigatória ao lado dos hi-fi's nas lojas de electrónica.
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