No começo do concerto no Hellfest há alguns anos, e após o seu regresso, marcando o fim das desventuras de Ian Astbury nos reformados The Doors, este dizia perante a plateia de metaleiros de que os Cult poderiam estar um pouco des-situados face ao conceito do festival, pelo facto de não serem uma banda heavy metal. No entanto, uma coisa se seguiu «One thing that's for sure, we like to rock n' roll».
Provavelmente a atitude mais disseminada hoje em dia, e que recebemo-la desde os finais dos anos 50, inícios de 60.
E não é estranho pensar que as bandas que mais continuam a rockar forte e feio, sejam as bandas britânicas. De facto foi do velho continente, particularmente de uma ilha posh que estava ainda a beber e encontrar a sua identidade nos blues amercanos, quando um nigga americano de seattle veio conquistar os antigos donos do mundo. O resultado foi estrondoso, particularmente nos guitarristas desta geração que lentamente começavam a demarcar-se e a encontrar o seu estilo.
As coisas evoluiram, e os Cult continuam a ser uma marca desse legado, e a demonstrar que os velhos continuam a ser bons e a mostrar a muitas bandas novas, para quem o dinheiro representa quase tudo, como é que se compõe o ramalhete. Apesar de serem de uma fase posterior (bem posterior da revolução cultural), directamente saídos dos anos 80 (mas sem sintetizadores, graças a Deus...), os Cult acompanharam a ascensão e declínio de Manchester, apesar de não serem de lá oriundos.
Choice of Weapon é isso mesmo, um regresso às origens. Com um nome a usar uma expressão caricata Weapon of Choice, os Cult invertem as tendências, com um pouco de Sir William Golding no seu pensamento.
Com uma formação renovada e consistente baseada na dupla que continua liderar a banda (Astbury e Duffy), os Cult continuam a demonstrar que são uma banda que não reduz na sua atitude, nem na sua veia artística. E os resultados dessa liberdade e irredutibilidade dão provas de um grande disco, com uma atitude plenamente rocker. Prova disso é a malha infalível de The Wolf, num estilo muito próprio de Billy Duffy, com os arranjos da guitarra a dar mostrar dos seu contínuo emblematismo, muito próximo aliás do seu contemporâneo The Edge, mas mais agressiva claro. Mas isto não se fica aqui, todo o disco é um grande exemplo de excelente trabalho de guitarra, seja no single já lançado - For The Animals - ou mesmo Amnesia ou em Honey From a Knife.
Mas falaramos só das 6 cordas seria redutor. Astbury não é à toa que é um vocalista singular. A sua voz grossa, mas sentida e presente terá, porventura, deixado uma marca para tantos outros vocalistas que se lhe seguiram, Layne Staley é um excelente exemplo disso.
Apesar de estar talhado para as faixas mais agressivas como Lucifer ou A Pale Horse, Astbury dá mostras de uma melancolia profunda e introspectiva, tantas vezes condizente com o grunge como Life >Death, ou Wilderness Now.
E a atitude dos Cult continua lá, muito virada para as raízes e para um certo saudosismo ameríndio, que talvez não seria tão visível no regresso durão de Born Into This. Ao contrário deste último em que os Cult pareciam demonstrar que tinham e sentiam que era seu dever regressar, Choice of Weapon é mais sereno e percorre a sua atmosfera e mitologia, com Astbury a recolher ensinamentos da narração de estórias do seu alma mater dos Doors, Jim Morrison.
Choice of Weapon é, sem dúvida, um dos discos a levar deste ano de crise....
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