sexta-feira, 22 de junho de 2012

THE OFFSPRING - DAYS GO BY (2012, COLUMBIA RECORDS)

Foi com uma surpresa renascida que vi os re-chamados deste ano para o 2º dia do Rock In Rio 2012 (repetindo quase a papel químico o alinhamento de 2010, exceptuando Muse).
Os Offspring são provavelmente das bandas que trago comigo de um passado mais distante. Desde os tempos em que o punk virou pop, e Americana alcançava os tops das tabelas.
De uma certa maneira, esta crítica em um sabor nostálgico, muito embora hoje signifiquem muito pouco.
Os Offspring são daquelas bandas que se recusam a desaparecer, mas cujo estatuto de dinossauros não se equipara aos colossos (Metallica, Pearl Jam entre outros). Isto leva-me a concluir que cada vez mais a música é para os músicos encarada como uma profissão e de facto assim. Estas pessoas fazem isto como ganha-pão. Mas o senão é que quando se prossegue uma carreira artística estritamente como obrigação, a inspiração e a criatividade surgem com menos frequência. E a pressão para lançar para alimentar máquina é constante.
Tal facto, explica a razão de o sucessor Rise and Fall, Rage and Grace ter demorado tanto tempo a surgir (a meu ver pelo menos). Tal hiato deu para várias digressões (no meio das quais Days Go By surgiu), e ainda para uma compilação de sucessos - Happy Hour!.
Days Go By tal como o próprio título sugere é uma especulação sobre o impacto da passagem do tempo, à qual os Offspring não são diferentes. E com a passagem do tempo vem a decadência. E para quem pode pensar que os Offspring tiveram um declínio, muito por culpa da atitude sell-out, especialmente a partir de Smash..... bem essa atitude virou imagem de marca.
Desconheço o material posterior a Americana, e sinceramente nem me interessa, porque para mim os Offspring pouca coisa tiveram a acrescentar desde então. Simplesmente são daquelas bandas que se mantém na estrada porque têm de o fazer. E carregar esse fardo torna-se mais fácil, a partir do momento que o fazemos com os colegas de liceu, que conhecemos há quase 30 anos, e que as coisas marcham bem entre nés.
Porém a criatividade (ou falta dela) pode afectar, e o facto de se revisitar o clássico Dirty Magic de Ignition revisitado (num álbum original que é algo que me causa muita estranheza, mas não são os únicos) prova isso mesmo. Os Offspring foram daqueles que, e se calhar muitos dirão que fazer êxitos comerciais são grandes feitos, pegaram no pós-punk rock (sobretudo o ligado ao movimento skateboarding), e deram-lhe uma dinâmica mais pop. Ao passo que outras bandas como Pennywise ou Dead Kennedys nunca deram grandes vazas nessa matéria.
E assim chegamos ao desenvolvimento de uma atitude, que vem desde os gloriosos dias de Smash, e resultou em malhas mesmo «lames» como OC Guns, que realmente não têm nada que ver com nada (a não ser referências aos gangs hispano-americanos). Vá lá, podemos dizer que, pelo menos, eles tentaram agarrar-se ao seu bqackground. Mas para além disso, pouco mais há a haver, ta como Days Go By nada mais é do, que uma tentativa copiosa do que o êxito Times Like These dos Foo Fighters.
Como não podia deixar de ser, há sempre aqueles temas da adolescência, que lembram NO FX, mas que a maturidade já não deixa apreciar, ou até mesmo a mais speedada, tipicamente punk, Dividing By Zero.
Quanto mim, sinto-me mais confortável em rever Dirty magic, que até me espicaçou para voltar a ouvir Ignition, mas tirando isso, Days Go By é exactamente isso, tão passageiro quanto os dias......

quinta-feira, 21 de junho de 2012

JACK WHITE - BLUNDERBUSS (2012, THIRDMAN RECORDS/XL RECORDINGS)

Aos 36 anos Jack White (nascido John Anthony Gillis) é já um acontecimento musical, uma lenda do rock.
Membro de 3 grandes projectos musicais (um deles está findo, é certo); Dono da sua própria discográfica que encetou um ciclo de produção de discos contra-corrente (3rd Man Records só trabalha com vynis); está pronto a relançar a sua carreira musical a solo, e toda a gente quer trabalhar com ele, até os Radiohead estão radiantes com isso e anunciaram-no publicamente durante um concerto.
Já para não falar que White é um dos músicos mais talentosos, tecnicamente arrojado, e inovadores que existe actualmente.
White foi inclusivamente nomeado embaixador musical de Nashville.
O que acho mais interessante em White é a capacidade peculiar que ele tem de juntar o moderno e o clássico, e isso é notório em Blunderbuss.
Para começar pelo próprio nome retirado de um Western reinventado, esta espingarda de cano largo reflecte a energia explosiva do álbum, mas também o lugar especial que as armas de fogo representam na mitologia norte-americana. E Jack White agarra-se isso. Melhor, ele é parte disso.
Em Blunderbuss temos oportunidade de reescutar a concepção musical de white que, aliás não se distancia muito dos White Stripes. Está lá tudo. A guitarra frenética, o organito, talvez com um pouco de toque mais sulista, ao jeito de Nova Orleães [Trash Tongue Talker ou Hip (Eponymous) Poor Boy], e uma bateria não tão minimalista. Mas todos nos habituámos ao som característico de White, seja a nível instrumental, ou vocal.
E Blunderbuss está cheio de grandes malhas, algumas para rasgar audiências como a introdutória Missing Pieces (que me faz inevitavelmente lembrar Raconteurs), ou a já clássica Sixteen Saltines e Love Interruption.
Mas White demonstra que não só vive letras e atributos vocais. Muitos consideram um dos guitarristas mais criativos e emblemáticos modernos, e Freedom at 21 é prova disso mesmo.
Recentemente, e com o fim anunciado dos White Stripes, um dos grupos incontornáveis dos últimos anos, falava-se da substituição pelos Black Keys, um espécie de Doppleganger, sobretudo depois do afastamento dos White Stripes.
Mas o que a música prova todos os dias, é que há espaço e sucesso para todos aqueles que, de facto, têm uma veia artística. E tanto White como os Black Keys tem o seu espaço merecido no sucesso, bem como as sua criatividade dá-lhes muito mais reconhecimento de que a sombra que poderiam criar uns sobre os outros.
Blunderbuss permitiu a White cimentar o seu espaço e abrir o livro sobre os White Stripes, facto que deixou o mundo em choque em Fevereiro de 2011. Não foi uma jogada fácil revelou White, mas o facto é que Meg não conseguiu no final lidar com a pressão, e com a falta de confiança na sua performance como baterista. Essa situação levou a própria a um cenário depressivo que acabou por comprometer a presença da banda.
Julgo que os White Stripes era o projecto de vida de White em determinado sentido. E ele sabe também que não o podia prosseguir sem Meg, que é inevitavelmente parte da identidade da banda. Com este espaço, White é a presença de um homem que já fez o Grand Slam da música, e não dá sinais de afastamento, tal como os residentes de Nashvillhe continuam a fazer o seu El Camino.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

SMASHING PUMPKINS - OCEANIA (2012, EMI/CAROLINE DISTRIBUTION/MARTHA'S MUSIC)

Aos 45 anos, Billy Corgan é um homem capaz de carregar consigo um projecto de uma vida inteira. Um Axel Rose de uma maneira muito própria (só que musicalmente mais bem sucedido... e podemos dizer íntegro), Billy Corgan poder-se-á dizer é os Smashing Pumpkins.
Já sem qualquer dos companheiros de fundação do quarteto de Chicago, Billy Corgan segue o seu caminho, um pouco como os Killing Joke ou os Cult que se recusam a ser riscados do mapa musical.
Em Abril de 2012. Corgan falava sobre lançar um álbum dentro de um álbum. Ao contrário do que aconteceu em 2009 com Teargarden by Kaleidyscope, cujas músicas foram sendo lançadas uma por uma através do site oficial da banda (reflexo da crise discográfica que o mundo da música hoje atravessa), Oceania foi lançado numa apresentação mais coesa, mas nem por isso menos dispersa. Aliás, este era para ser lançado exactamente no mesmo formato, mas Corgan acabou por hesitar no fim porque a estratégia de marketing que havia sido produtiva no passado, inclusivamente com outras bandas (caso dos Radiohead) se havia esgotado.
Este tipo de atitude reflecte não só as discográficas, mas também da parte dos próprios músicos, (e talvez no limite até os próprios ouvintes) em saírem do formato LP. Conceito a que toda a indústria se tem agarrado desde meados dos anos 50, quando a música começou a representar um fenómeno social significativo.
Mas olhando para o álbum, com efeito, não distinguimos um fio condutor, nem uma marca especial que se realce nestes álbuns tão-pouco. Na verdade, todos os álbuns produzidos e escritos pelos Smashing Pumpkins, desde o fim do hiato de 5 anos em 2007, têm dificuldade em ultrapassar o simbolismo de Mellon Collie ou The Siamese Dream, as referências por excelência dos Smashing.
Oceania é um álbum sobretudo introspectivo, sobretudo calmo, mas com diferentes tonalidades, algumas até, quer-me parecer, estranhas a atitude dos Smashing. Vemos algumas reminiscências do passado como Pale Horse, ou The Chimera (talvez aquela que mais lembre os clássicos) e claro a faixa de longa duração Oceania. Mas também um importante pendor electrónico desconcertante, com se os Smashing devessem alguma coisa à pop, ou a busca aí de um cunho qualquer. Exemplos severos disso serão, talvez, Pinwheels, Violet Rays, One Diamond, One Heart.
Tirando, talvez, a faixa de abertura - Quasar - que acaba por ser um falso mote, que irrompe pelo álbum como uma tempestade marítima. Ficamos surprenndidos como o álbum de repente, desacelera, e torna-se numa calma atmosfera marinha. O nome poderá mesmo sugestionar um calmo e tranquilo passeio vespertino (ou matinal conforme a preferência) pela costa oeste do norte (considerando que terá sido este o ambiente de inspiração para Corgan).
Por outro lado ao nível das letras, há aqui um trabalho desenvolvido por Corgan, ainda que no âmbito da narração de estórias, não se demonstre nada. Oceania é mais um relato de estados de espírito, passado num ambiente bucólico onde se expressa amor platónico (My Love is winter) e uma absorção do individuo pela natureza, numa paixão muito camoniana (Wildflower).
Oceania é um álbum mediano, que acaba por ser um resultado de demonstrar trabalho, e alguma falta de inspiração real, para dar cor aos grandes feitos do passado.

terça-feira, 19 de junho de 2012

SIGUR RÒS - FJÖGUR PÍANÓ

Shia LaBoeuf despe-se para os Sigur Rós. Este rapaz tem vei artística. 4 pianos é o nome da faixa do último álbum, concebido exclusivamente para constituir de música de inspiração a imagens cinematográficas.
CIRCUS MAXIMUS - NINE (2012, FRONTIERS RECORDS)

Os Circus Maximus são daquelas bandas que facilmente poderiam ser confundidas como uma banda de tributo. Bizarro é, que eles também não fazem muito por se descolar desse rótulo. Provavelmente nem o querem tão-pouco.
Quando me apercebi da sua existência, (ainda me lembro da primeira vez que ouvi o tema forte Imperial Destruction, que aparece como faixa bónus de 1st Chaopter) parecia que estava a ouvir um lado B, ou um tesouro perdidos dos Dream Theater, em todos os sentidos. O som límpido e cristalino, a guitarra tecnicamente rebuscada, os teclados virtuosos, o baixo melódico e bateria construída a compasso e contratempo.
Só quando a voz entre, percebemos que o LaBrie trabalhara demasiado as suas cordas vocais, para ser ele próprio.
Eu tento pensar que os Circus Maximus levam as suas influências muito a sério, só que para quem os escuta, parecem copiosamente,de uma forma criativa (no sentido de que não plagiam escandalosamente), os Doppleganger de uns Dream Theater. É impressionante.
Mais interessante ainda é que apesar de todas estas circunstâncias, os Circus Maximus conseguem ser apelativos. E isso é notório na faixa introdutória - Forging - e a épica que se lhe segue - Architect of Fortune.
Porém, toda esta atitude musical, tem um reverso que é, a procura de identidade, para além do facto de poderem ser colados à sombra de um gigante do género (musical). Esta atitude reflecte a dificuldade em encontrar um espaço próprio. Penso que esse facto explica em muito o período de tempo entre o último LP e o anterior, Isolate, ainda que não tenha surtido efeito. No fundo, os Circus Maximus ficam para quem quer mais do mesmo, ou do parecido.....
Depois de um hiato tão grande a banda anunciou num concerto privado de que iria lançar o seu terceiro disco (cujo nome seria radicado por 2).
O guitarrista Mats Haugen, força criativa por detrás do novo álbum, disse que a orientação seria mais virada para as 6 cordas. O que não admira, dadas as rivalidades tão grandes na composição e performance entre as guitarras e os teclados, o equilíbrio tombou a favor de quem conseguiu compor.
A mim quer-me parecer que o paradigma por detrás do novo álbum parece bem mais electrónico e claramente numa postura mais melódica.
Como seria de esperar, a proximidade com os rapazes de Long Island é inevitável. Não sei se se deve ao facto de a minha mente estar formata, mas as semelhanças com «A Dramatic Turn of Events» são visíveis, e não me admira que tenha rodado muito naquele estúdio de gravação. Architect of Fortune, por exemplo, parece-se perigosamente com Breaking All Illusions.
No entanto e apesar de comparação ser inevitável, a faixa é um tema poderosíssimo. Muito eclética, com um bom trabalho de arranjos por detrás.
Quem busca como eu a postura agressiva e trepidante, com um riff bem sacado, encontrá-lo-á em Nine. Um bom exemplo encontra-se em «Game of Nine» que tem uma arquitectura da excelência da guitarra, bem como postura harmónica bastante interessante dos teclados.
Directamente de Nine sai a balada directamente para as rádios do género - Reach Within. [Coisa que aliás fazia falta em Portugal, rádios especializadas ou orientadas para determinados tipos de música]
A faceta mais pop mantém-se em I am, Used, ou The One, e que constituem aquelas mais descartáveis. Mas a marca de Nine continua a ser a alusão aos irmãos Cohen em «Burn After Reading», com um bom trabalho vocal por parte de Mike Eriksen, suportado pelos momentos criativos do guitarrista Mats Haugen, que se apresenta como uma máquina de criar riffs. Suportado claro está pela secção rítmica de formação clássica Glen Cato Møllen no baixo e Truls Haugen na bateria.
Nota-se ainda algum desalinho na ordenação e construção das faixas e de um disco como um todo. Não se compreende como uma faixa forte como Namaste, ou Game of Life, que introduzem o tal «nervo psicológico» de riff, num afinação muito própria da distorção da guitarra (na melhor linha da tal música de referência Imperial Destruction), se siga à faixa épica, que ficaria melhor a rematar o final do álbum.
Todavia, quem fugiu aos Dream pela dificuldade em ouvir James LaBrie, encontra em nos Circus Maximus um vocalista com uma versatilidade não menos abrangente. Apesar da nitidez, e da limpidez vocal, Mike Eriksen sofre do mesmo problema de LaBrie, um timbre vocal pouco versátil, capaz de dar tonalidades diferentes à música. Ora com uma postura mais agressiva, ou mais melódica. O meu paradigma neste sector continua a ser, indelevelmente, o vocalista dos Symphony X, Russell Allen que consegue imprimir uma voz mais rouca, mais agressiva, característica do heavy ou trash metal, conciliando a uma visão mais clássica e harmónica.
Last Goodbye é aquela música que tem tudo para ser um clássico, tirando, claro alguma pobreza lírica, mas que instrumentalmente está muito bem conseguida, e um refrão, podemos dizer um bocado lame....
Olhando para todo este cenário, a comparação é inevitável.....
MEGADETH - A TOUT LE MONDE

Grande balada poderosa, com um toque frenchy....

segunda-feira, 18 de junho de 2012

IGGY POP - REFLEXÕES SOBRE O NOVO DISCO APRÈS
A propósito das novas aventuras musicais de Iggy Pop.... Iggy mostra-se mais romântico e no seu lado mais sensitivo. La vie en rose pour Iggy
PATTI SMITH - MOSAIC
 
Grande malha da Senhora com a colaboração de Jay Dee Daugherty.
PATTI SMITH - BANGA (2012, COLUMBIA RECORDS)

Patti Smith é daquelas artistas, tal como Bruce Springsteen, Neil Young ou Leonard Cohen, que se recusa a desaparecer do mapa, a cair no esquecimento da nostalgia. Para aqueles que acham que estes paladinos, poetas guerreiros das palavras, que mais não fazem do que repetir-se ao longos das décadas cujo um tempo seu já está longe e ultrapassado... Desenganem-se. Ainda bem que há músicos que continuam a produzir as mais belas articulações de palavra, com um contexto rock. Impossível dissociar esta atitude tão latente em Tarkovsky (The Second Stop is Jupiter) com a clássica Celebration of the Lizzard dos Doors.
Banga é um disco exuberante, e a celebração de uma artista que se recusa a morrer. Banga é um nectar para os nossos ouvidos, como se precisassem desesperadamente de sons harmónicos que os preenchessem de harmonias e sons galantes.
O instrumental acompanha e cria a atmosfera adequada para que Patti narre a sua história. Longos são os tempos do proto-punk e da música de três acordes. Hoje Patti parece ir buscar bem mais influências ao contry, folk e música tradicional índia, com cânticos fortes, uma guitarra presente, graças ao trabalho bastante competente de Lenny Kaye, companheiro de armas de Smith, o qual já compartilha o trabalho de escrita como de produção. O trabalho de guitarra é particularmente importante em Nine, como na evocação quase virgiliana do Imperador Romano Constantino, em Constantine's Dream. A versatilidade de Kaye faz lembrar Robby Krieger, suportado pelo não-tão-bom-quanto-Ray-Manzarek mas a-par-de-um-John-Paul-Jones, Tony Shanahan.
Como um artista no auge do seu amadurecimento, Banga reflecte os pensamentos de Patti sobre o mundo moderno. Tendecialmente, a idade leva um refriamento dos ânimos e as posturas bem mais reflectidas, e pensadas. Produto, em parte, da geração revolucionária dos anos 60, Patti exprime os seus receios desconcertantes face ao futuro ecológico do planeta. E isso é visível no original de Neil Young revisitado - After the Gold Rush, com o futuro da humanidade em pano de fundo.
Mas não é ao globo que se resumem as inquietações. Amerigo mostra os receios face ao futuro da América, mas também esperança no renascimento do sonho americano «I saw the new incostant shifthings of fortune»... E mesmo assim esta esperança não morre, e continua nas «Words of the New World» e são épicas. A faceta lírica de Smith é tão inatingível e bela capaz de incitar aos mais puros sentimentos dentro de cada um. Só na faixa de abertura Smith consegue fazer um brilhante retrato nostálgico, mas também épico, e é magnífico.
Mas se a grandeza se atinge, chega também a reverência aos novos mártires da música moderna, ao qual os anciãos avistam com tristeza um fim anunciado. This is The Girl é a ode a Amy Winehouse, cujo talento ficou retido no gargalo de uma garrafa de uísque, que provavelmente tantos sentimentos contraditórios lhe trouxe.
No meio destas esparsas, Smith consegue prestar ainda o seu tributo ao romantismo com uma música bastante aprazível April Fool, na qual o baxista de Smith teve o seu cunho especial. Mais uma vez, a banda de Smith mostra que tem um papel importante a desempenhar, particularmente como construtores de canções.
Outra faixa inultrapassável do sagrado Banga, que não deixa de ter um conotação indissociável da mitologia ocidental, passa pela passagem a oriente em Fuji-San, na qual o ambientalismo e, uma vez mais, a filosofia ameríndia sem demostram em todo o seu esplendor.
Banga, como Wrecking Ball, mostra que os da velha guarda, estão aí para as curvas, e recomendam-se.....

sexta-feira, 15 de junho de 2012

MARS VOLTA - COLISEU DOS RECREIOS 14 DE JUNHO DE 2012

Depois de uma actuação estrondosa em Paredes de Coura, e de serem anunciados como um dos cabeças de cartaz dos Festival Paredes de Coura 2008, os Mars Volta regressam em nome próprio, e com um banda bastante modificada. Já não seria de estranhar que a banda de apoio dos Mars Volta mudasse, porque afinal os Mars Volta são um dueto, ao fim e ao cabo. Mas na digressão de Noctourniquet apresentaram-se como quinteto.
Sucede pois que as duas vezes que nos visitaram, as coisas não correram de feição. A questão é que os Mars Volta têm um ego artístico muito forte, e como tal, não cedem a pressões....
Primeiro foi porque não podiam fechar a noite, tendo que ir tocar para o caiar do sol, perdendo assim uma hora de actuação. Quem acabou por salvar a noite foram os Wraygunn. Tudo por causa da logística, diziam eles...
Desta vez, depois de entrarem às 22:15/20, mais coisa menos coisa, estes meninos foram se deitar sem sequer haver encore. Muita gente ficou especada à espera que regressassem, a puxar, valentemente, mas foi sol de pouca dura, pois estes meninos estavam com sono, e ficaram de enfiar a viola no saco muito cedo porque o vitinho já estava a passar. Confesso que nesse dia até estava deveras cansado, mas puxa, todos gostamos quando se esforçam por dar um bom espectáculo.
Quem conhece Mars Volta sabe que o assunto não se arruma por aqui. Estes texanos são o jazz, que viaja ao espaço e regressa ao México em forma de chicano rock. Bem é quase isso..... porque há muito ácido à mistura. Os Mars Volta são uma banda diferente, disso não há dúvida. E fazem questão de o transparecer em palco, sob a forma de improvisação, que deixa a audiência no sentimento de Mas que ca****o!!!!.... Pera aí é agora.... Epá é aquele riff. Até que no fim só dizemos: «Epá toca aquela!!!!». Eu compreendo que pessoal instrumentista goste de tocar música improvisar, criar uma mística. Mas pergunto: «Qual é o sentido?» quando se tem tão bons discos e quando os álbuns já têm tanta mélange e bizarria à mistura.
Especialmente quando estiveram ausentes destas paragens tanto tempo, podiam revisitar Octahedron, e tocar mais músicas de Amputhectures, e prestar mais atenção ao Bedlam in Goliath que tão boas malhas tem. No fim de deambularem por Noctourniquet, que explora o fauvismo e o cubismo musical ao limite, e que facilmente é ultrapassado pelos anteriores, os Mars Votla preferiram deambular pelas várias faixas do disco, até que a adesão da audiência só se aprecebeu e aderiu ao movimento com The Malkin Jewel.
No fim de contas quem se esforçou para dar um espectáculo interessante foi a banda de abertura. Mais um acto suportado pelo pequeno génio musical de Omar Rodriguez-Lopez. Apesar de o proto-punk pós-moderno não ser da minha afinidade, o empenho da vocalista e da baterista foram notáveis. Desconhecidas, mas esmeradas, verificou-se que a preparação do público para o acto final foi um acto que levaram bastante a sério. O mesmo não poderemos dizer  dos anfitriões.
Claro houve sempre tempo para a actuação especial do vocalista Cedric Bixler-Zavala, com os seus impulsos frenéticos, num Jim Morrison e Elvis reinventado. Tirando o resto fiquei um bocado receoso pelos 30€..... que voaram pela carteira. Bem, se calhar, fica a lição dada, ou talvez não.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

JOE WALSH - ANALOG MAN (2012,

Joe Walsh é sem que saibamos, uma lenda das 6 cordas. E há muitos por aí que tentam sê-lo, mas de facto Walsh nos seus quase 65 anos é digno dono do troféu. E calro está esta fase da vida não é indiferente a mutias artistas que viveram a sua vida ao máximo nos verdes anos.
Claro Walsh passou ali ao lado da geração hippie, e isso trouxe uma postura bem diferente para estes cotas que têm a atitude still hangin'.
Muitos de nós conhecem-no, provavelmente, pelo lançamento dos Eagles para o estrelato universal em Hotel California ou (como eu que primeiro estabeleceu contacto com ele na excelente banda sonora do grande jogo Grand Theft Auto San Andreas). E houve mesmo que tivesse experienciado os seus dotes na visita ao pavilhão atlântico. Mas se quiserem conhecer o talento, terão mesmo de se debruçar sobre este tour de force do blues/rock. só é pena que a voz que tanto tem de carismática, não tenha de emblemático. às vezes até parece que estamos a ouvir uma sobreposição dos Marretas ou da Rua Sésamo, especialmente na nova Spanish Dancer. Mas não faz mal, até tem o seu encanto, às vezes.... Mas o que se perde em garganta, ganha-se em instrumentalismo.
Joe Walsh vem da América profunda, e como é natural, o country não lhe é alheio. E claro está, filosofia saloia, o que comparado connosco está bem acima. Mas não sejamos demasiado duros com as concepções de vida de cada um, até porque Joe Walsh é um cara bem instalado na vida, grato por tudo aquilo que a vida lhe trouxe, - Life's Been Good - mas que não se contenta com os grandes sucessos do passado. Chamem-lhe um epicurismo pós-moderno, One Day At a Time, que quase faz lembrar o Take It Easy dos Eagles. Mas como estava a dizer, o americano do interior tem fortes convicções sociais e políticas, e Joe não é diferente.
Daí virem as sátiras caricaturais às sociedades modernas que Walsh olha, quem sabe, com estranheza numa perspectiva quase camoniana, ou quem sabe mórmon. No fundo, a crítica contra-corrente nem é assim tão descabida, e acaba por lançar o paradoxo do mundo digital, o distanciamento das pessoas, não obstante a proximidade das redes digitais.
Mas as incursões sobre o sentido da vida não terminam por aqui. E parece que este tema não é assim tão controverso para Joe, até porque, ao que parece, este regular Joe está bem grato pela vida. Desde que continue a rockar. E o exemplo está em The Band Played On e Family, duas faces da mesma moeda para os músicos, ou melhor duas famílias do mesmo artista.
E não fosse o sentido demolidor, lá tinha de estar um dos símbolos inegáveis da corporate america - a Wrecking Ball, mas não tão faustosa como a Springsteen, não deixa de representar o seu carisma mais speedado.
Mas quem quer ouvir Walsh, quer é guitarradas, e Walsh não se esqueceu de vós meus caros. Não é à toa que este velhote é 56º na lista da Rolling Stone para os melhores guitarrista.
Em Analog Man, Walsh continua a trazer grandes riffs e malhas do melhor que o country rock tem para oferecer. Agrada-me particularmente, a faixa inicial e o riff de contra tempo de Spanish Dancer.
E a versaitlidade, apesar da américa profunda, de Band Played On, mostra a faceta eclética de Walsh, tal como na instrumental harriosoniana India, que faz lembrar os momentos mais fervorosos de The Bomber.
Apesar de ser mais uma colectânea de umas malhas «fixes», Analog Man é um álbum em contra-corrente. Traz do antigo é que é bom, aliás, revisita o seu velho Rocky Mountain Way e Life's Been Good, com uma roupagem pouco diferente, e muita nostalgia no bolso. Deve ser a Alzheimer que afectou a criatividade do nosso compadre. quem é que se lembra de pôr clássicos num álbum de originais. Só mesmo quem ou quer encher chouriços, ou ter desculpas para andar na estrada... Mas para isso hoje não é necessário lançar novos discos!
Pelos bons velhos tempos, os cotas regressam.....

quarta-feira, 13 de junho de 2012

BLACK SABBATH - 4 PRIMEIROS DISCOS


Os primeiros 4 álbuns revisitados. Há quem diga que isto é heavy metal. Mas não há nada mais heavy do que stoner rock... garanto-vos!!!! Stoner....
FLYING COLORS - FLYING COLORS (2012, PROVOGUE RECORDS)

Há pessoas que circundam os meandros da música, que têm uma atitude eclética e abraçam a música como modo de vida, e necessitam de trabalhar com outros companheiros, que admiram, e respeitam. Podia dar alguns exemplos, mas um deles é certamente Mike Portnoy.
Fustigado pela máquina dos Dream Theater, Mike Portnoy libertou-se do fardo e do colosso que criou, e passou a dedicar-se aquilo que parecia há algum tempo querer dedicar-se, trabalhar com outros músicos.
Cada projecto a que se dedica, fá-lo com dedicação e quase como que uma curiosidade científica, de experimentar novas sonoridades com diferentes músicos, com historial e influências diferentes.
No final do ano passado saiu a experiência pelas incursões do trash metal/hard rock, com o grande Russell Allen. (O que me lembra que tenho algo a dizer a esse respeito. E ainda não o fiz).
O seu camarada Neal Morse é já quase convidado permanente. Mas estava-se mesmo a ver que só lhe faltava trabalhar com o ilustre desconhecido Dave LaRue (que aliás Portnoy já actuara, pelo menos, no G3 de Tokyo com o seu irmão dos DT Petrucci), e claro o mestre do 6 cordas Steve Morse.
O resultado uma mélange de influências estrondosa e é curioso, com uma enorme inclinação para o pop. Mas uma pop de elevado nível técnico.  Músicas curtas e concisas mas com um toque de Beatles que se encontram com os Led Zeppelin e os Deep Purple. Et voici Messieurs, vous avez des morceaux estrondeuses.
Feitas as apresentações, bem... quase. Falta a revelação deste quinteto. Portnoy que é sobejamente conhecido pela postura de agente, e actuante de bastidores, depressa foi buscar a revelação vocal (quase que num gesto à Ídolos) Casey McPherson, um cantor sulista, de timbre vocal próximo e harmónico com a postura de Neal Morse por sinal. Este que por sinal deu um enorme contributo para as letras. A atitude Beatleana polvilha praticamente todas as faixas. e quem os ouvir, parece revisitar Morse tanto a solo, como nos Transatlantic em todas as formas.
É interessante ver a maravilha de Blue Ocean, ou mesmo até Everything Changes, e para uma banda com um pendor instrumental tão significativo, encontrar um registo vocal tão grande. Tanto em letras, como em vozes, com Casey McPherson a ser auxiliado por tanto Morse, como Portnoy.
Ao passo que LaRue e Morse, dueto de Cordas, bastam para preencher o cenário instrumental de todas as vozes. E quem ouve o solo de guitarra de Everything Changes, pergunta-se onde é que eu já ouvi este Pertucci. Bem, quem ouve DT é que poderia fazer a pergunta de modo inverso. Alguém convidou Roine Stolt para o fim da faixa?
Mas se penso qu'isto aqui é só faixas alegres e sem speed enganam-se. Podem sentir o apelo do público em faixas potentes como Shoulda Coulda Woulda (que só tenho a lamentar o refrão que me parece mais pobre) ou Forever In A Daze (que tem um groove de baixo, f***-se!!!!).
E claro está quem é instrumentista e do prog, apesar da orientação mais pop deste supergrupo, não podia faltar a faixa de longa duração e têm-na na referência emblemática de Infinite Fire.
Claro está, Flying Colors é como aquelas equipas galáticas (à excepção dos DT mas isso é outra história), cheias de promessa, e até correspondem é claro, mas trata-se mais de uma aventura musical, do que de facto uma equipa. No fundo é mais uma experiência de criação musical, e parece ser mais daqueles projectos paralelos, uma raridade encerrada em si mesma. Faz-me lembrar os Them Crooked Vultures. Por isso quem tiver oportunidade de os ver, não deixe fugir essa chance, pois poderá não os rever. Eu é o mais certo.

terça-feira, 12 de junho de 2012


Os Sigur Rós são, para mim, o grupo que mais me custa opinar. Existe, desde logo, a barreira linguística e como tal, decifrar o que dizem pode ser complicado. E não se fica por aqui, pois o Islandês, para além de ser reconhecido por poucos, mais se agrava com o dialecto que eles próprios desenvolveram.
Depois existe a abordagem vocal. Uma musa vocal em sim mesmo, o cantor Jón Þór “Jónsi” Birgisson, mantém o registo, o timbre de voz, e o registo vocal de sempre.
Quem conhece Sigur Rós sabe que Valtari não é uma aventura diferente. Aventura musical leia-se. E confortável também.
Valtari significa cilindro, e aparentemente nada me faz lembrar um enorme rolo compressor. Aliás, o vocábulo pode muito bem ser descrito como o seu antónimo, ou melhor, a ideia oposta. A música dos Sigur Rós exprime espaço, tranquilidade, e desacelera o tempo ao seu ritmo mais melodramático. Um som nostálgico da infância. Um som que facilmente se imbui na paisagem e no processamento arguto dos estados de espírito.
No fundo, Valtari é um registo que puxa pela nossa imaginação. Numa casa de campo, quem a tiver ( e não muito valiosa, caso contrário vão ter de largar o couro para pagar o IMI), e num quarto confortável, pode impor os seus auscultadores, deitado num quarto com águas-furtadas, um fio de parta a entrar pela janela do telhado, somos convidados à meditação.
«Ég anda»  é o mote para abrandarmos a nossa respiração ao compasso de um batimento cardíaco. Lentamente, somos tomados pelo silêncio - Ekki Múkk -  inspirador, e submergido na meditação, e na viagem interior. A atmosfera mantém-se e sobrevoa os nossos corações no leito do descanso eterno de Dauðalogn - Morte tranquila. Valtari é quase que como aqueles álbuns desconhecidos Zen que vemos nas montras de alguns supermercados, um convite ao revisitar interior. E pode parecer foleiro, e até pejurativo dizer-se isto, mas a comparação não me parece, de todo, despropostiada. Primeiro porque  esse tipo de música é, frequentemente, olhado de soslaio, ou mesmo desdenhada injustamente, e depois porque Valtari é uma representação disso mesmo. Uma atmosfera envolvente, um som introspectivo. Mesmo as músicas que poderiam sugerir algo mais agressivo como  "Varúð"/Cautela, ou Rembihnútur/ Apertado, matém esse espírito bucólico e melancólico, seguindo a matriz dos próprios Sigur Rós.
Foi esta matriz que levou os Sigur Rós a convidarem vários realizadores a materilaizarem, ou melhor a personificarem os estados de espírito de Valatri nas suas mais amplas concepções gráficas. Este projecto teve o nome bastante sugestivo de The Valtari Mystery Film Experiment, o que acaba por dizer tudo. Não é verdade.
No fundo Valtari, é uma banda sonora à espera de filme, e a primeira a encetar a odisseia gráfica foram as irmãs de Jónsi, Lilja and Inga Birgisdóttir. A primeira estrela de capa do álbum de estreia - Von.
FRAMEPICTURES - SPIRAL LADDER
A mais progressivas das nossas bandas regressa com um ar muito portuense no peito.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

PROMETHEUS, DE RIDLEY SCOTT (2012, 20th CENTURY FOX)

Todos aqueles que se lembram do clássico de ficção-científica de 1979, e se perguntaram quem seria aquele alienígena, pilotando aquela nave bizarra, que Kane, Dallas e Lambert se confrontaram. Toda a história seguiu o caminho daquela criatura que punha um ovo dentro de um hóspede, rompendo do peito, matando-o, e tornando-se uma máquina de matar.
Interpelado numa entrevista Ridley Scott que revisita o género que desenvolveu e impulsionou - terror/ficção-científica -a prequela, ou o spin-off como gostam de o chamar, veio de uma pergunta simples, quem era aquela estranha criatura, e porque razão levava ovos consigo. E na verdade a interpretação final que subsistiu é de que se tratava de um cargueiro, e tal como os space truckers da Nostromo, levava aqueles ovos para um destino.
Assim está feito o mote para explorar mais um franchise, desta vez por quem está mais do que creditado para isso. Por falar nisso, já que estamos numa de explorar clássicos de ficção científica, a sequela de Blade Runner.
Ridley Scott queria um blockbuster, tal como os clássicos Alien e Aliens, digno da série, mas o problema central estava no argumento/guião, e Sir Ridley foi buscar um baluarte na cena Damon Lindlelof, que trabalhara na série Perdidos.
A ideia era, com efeito, explorar a personagem do Space Jockey. Quem era aquele ser, que fazia ele ali, e porque pilotava aquela nave. e num tom muito Lindlelof, tinha de haver revelação e reviralho à mistura. E podemos afirmar que o fizeram muito bem. De facto, se repararmos ao longo da série Alien, porque é que os tipos da Companhia Weyland-Yutani e, posteriormente o governo inter-galático pretendiam aquela espécie, para a divisão de armas biológicas. Lindlelof consegue criar assim o elo entre a espécie humana, o space jockey e o alien, em que no fundo este último tem origem numa arma de destruição maciça criada pelos «Engenheiros»  aka Space Jockey. E claro lança as tais questões metafísicas e inquietantes que qualquer clássico de ficção científica lança. Só que desta vez o confronto entre a humanidade e os seus criadores lança o grande enigma, porque é que criador e criado se querem destruir. No fundo, acaba por se tornar uma espécie de Exterminador revisitado. Se atentarmos que David coloca exactamente a mesma questão ao Dr. Holloway. E é curioso durante um diálogo entre Elizabeth Shaw e Dr. Holloway como a busca científica da humanidade pode ser uma busca incessável, porque uma vez chegados à questão de quem nos fez, perguntamo-nos quem criou o nosso criador?
Penso que Prometheus se trata de uma verdadeira prequela, e no fundo como qualquer clássico de ficção-científica, que não tenho dúvidas que se torne, mistura uma boa dose de mistério, filosofia, imaginação científica, e perguntas por resolver? No fundo resume-se a uma boa visão artística do realizador, um bom argumento, e dinheiro claro está.
Não é de estranhar que Scott ao revisitar o seu clássico de 1979 tenha entendido uma aproximação diferente. Desta vez inteligentemente decidiu filmar nos exteriores, fora do estúdio aproveitando as belas paisagens da Islândia, e Escócia para recriar uma terra primitiva, com condições propícias para albergar vida. Apenas se lamenta o facto de a participação de Giger ser reduzida. Apesar de se recolher ainda migalhas do seu brilhante trabalho inicial, Gïger fez um excelente trabalho criativo, criando algo nunca antes visto. E provavelmente mais teria para dar. Os artistas gráficos tentaram manter-se fiéis à sua filosofia é certo, mas muitas divergências foram tomadas, e algo de pouco Gïgeriano se revela.
Tirando isso, é um excelente filme, e espectacularmente bem produzido. Pode ser um prenúncio dos bons filmes de sci-fi, e aqueles que nos deixam realmente a pensar. E quem deseja terror, terá a sua dose, como é óbvio.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

BRUCE SPRINGSTEEN - WRECKING BALL (2012, COLUMBIA RECORDS)

SAUDADES DE MEMÓRIAS NÃO VIVIDAS

Bem sei que este é mais uma das minhas opiniões que vem tardiamente, e acaba por ser tanto poético, como fatídico. O Bossera o verdadeiro artista que queria ter visto no Rock In Rio, mas que, infelizmente, não se proporcionou, e mais angustiado fiquei quando soube que foi um concerto memorável. Quem o viu fez parte da história. E a história não concede segundas oportunidades.
No fundo, Bruce Springsteen foi mais um dos legados que o meu pai deixou. Desde pequeno recordo-me de ouvir em alta rotação The Streets of Philadelphia, longe de imaginar o significado e o poder lírico daquelas palavras.
Springsteen nunca foi um homem de deixar palavras ao acaso, de se alhear do que o rodeia, de fazer música fácil, muito embora o seu sucesso seja estrondoso.
Ouvi-lo recordo-me da sátira, da mensagem subliminar, mas de uma maneira bem mais cuidada, bem mais poética, num estilo tão caacterístico a si próprio, e seguido pela sua companheira d'armas Patti Smith, que veio a ser seguida pelos Rage Against The Machine, se bem que com uma abordagem bem diferente.
Mas o espírito é o mesmo. Um olhar patriótico, mas crítico e atento, de um cidadão maduro, na melhor tradição de intervenção de Dylan e Baez, até Woody Guthrie.
Wrecking Ball não foge a este registo. Símbolo da destruição, da machination capitaliste por excelência, e começa com o tom irónico «We take care of our own» em que Springsteen revisita o fantasma recente do Katrina e o facto de o Estado não ter estado lá quando as pessoas mais dele precisavam, ironizando «Wherever this flag's flown/We take care of our own».
Mas o ataque crítico de Springsteen mantém-se e desfere-se sobretudo ao culminar da depressão sobre todos os aspectos. Os agiotas, os abutres que procruam dinheiro fácil bem latente em «Easy Money» e «Jack of All Trades». Esta última assume um radicalismo maior, quase poderíamos dizer ao estilo do Zé Povinho vingativo, em que Springsteen apela à 2ª Emenda e ao recurso às armas: «If I had me a gun, I'd find the bastards and shoot 'em on sight,». A qual tem um solo de guitarra épico e evocativo, no auge da música.
Mas o que acho mais interessante é a maneira com Springsteen busca as várias influências da cultura musical americana, articulando-as, desde as descendências do folclore irlandês em «Death to My Hometown» e «American Land», brilhantemente bem orquestrado, até ao Gospel e Soul de Shackled and Drawn. Já para falar do country de «Wrecking Ball». E no topo do bolo, de músicas genialmente construídas, vêm as letras sublimes. Dá para invejar um poeta destes dos tempos modernos. Quem ouve Wrecking Ball consegue sumarizar o espírito americanao na sua virtude, na sua tristeza, na sua profundidade e seu pesar. A traição do sonho americano em «Land of Hopes and Dreams», e o flagelo das crises do capitalismo na magnânime «Death to My Hometown».
 Ouvir Springsteen e a sua brutal E-Street Band é como passear nos campos da glória, atravessando as adversidades, os temores e os medos, e terminar como heróis e Wrecking Ball não é excepção. Uma lenda viva sem dúvida.
«Hard Times Come and Hard Times Go», a crise está aqui, mas havemos de a ultrapassar, olhando-a nos olhos, «givin' our best shot, puttin' out our wrecking ball». Como um profeta, o Boss encanta sempre com uma postura imaculável gerações e gerações de ouvintes.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

OFFSPRING - DAYS GO BY Admira-me como é que os Foo Fighters ainda não reagiram......
RUSH - CLOCKWORK ANGELS (2012, ROADRUNNER RECORDS)

Quase 40 anos de carreira, um dos primeiros trios poderosos da história da música, aliaram o hard rock ao prog rock, e já contam com 19 álbuns na sua discografia.... Quem diria.
Muito incógnitos nestas paragens, mas mereciam final de noite num dos alinhamentos no Rock in Rio. E tinham uma boa desculpa para isto. Fizeram um concerto memorável no Rock in Rio, inclusivamente lançado em DVD, e com um título bastante sugestionável - Rush in Rio.
Mas quem conhece a organização do RIR, sabe que é o potencial comercial do alinhamento que fala mais alto. Assim se conheceu o cartaz de 2010. Mas não denigramos muito, pois 2012, foi um ano estrondoso no RIR. E ficará certamente a mágoa no meu pensamento de ter perdido uma hipótese memorável de ver o «Boss». E por aí estamos conversados.
Bem... voltando ao que interessa. Os Rush estão 40 anos mais velhos. 38 anos desde que lançaram o poderoso homónimo Rush, e decidiram voltar-se para as raízes.... isto é hard rock do bom, poderoso, e extremamente bem executado. Snakes & Arrows não foi diferente, e estes cavalheiros não dão sinais de abrandar. Quem ouvir Caravan ou a faixa homónima Clockwork Angels perceberá o que quero dizer.
Outra faceta deste álbum é o impacto que o regresso às digressões teve na força criativa do trio. Ao contrário do passado em que os Rush criavam álbuns de originais como quem lança novas colecções, agora naturalmente mais pausados, os álbuns saem mais planeados e com as interrupções de uma idade que parece querer acusar. E sim, parecer é o predicado adequado. A vitalidade dos Rush mantém-se, e não lhes falta o ecletismo e a pujança. Geddy Lee mantém o seu forte cunho vocal, e o seu baixo não lhe fica atrás. Aliás, Lee é o alicerce que explica a capacidade de um trio poder ser uma banda progressiva, compor aquelas músicas épicas. Este baixo não é uma 2ª guitarra (ouçam Headlong Flight), é um instrumento que preenche e tem o seu próprio protagonismo. E essa característica é visível desde sempre. Mas se prestamos tributo a Lee, não nos podemos esquecer da importância dos outros elementos, um génio em cada área. Lifeson mantém o virtuosismo de outras áreas, e destas 6 cordas saíram alguns dos riffs mais memoráveis de sempre. E quem ouve a introdução de Carnies ou até de Seven Cities of Gold, parece quase Lado B de Working Man. Ao vivo esta faixa é um estrondo, e a bateria de Neil Peart é seguramente uma das melhores que já foram tocadas. Sinceramente quem os ouve percebe a presença e a importância que os Rush têm na música.
Como estava a dizer, este álbum surgiu como uma enorme surpresa, e temos de nos ir habituando. Pois revela-se uma estratégia com alguma eficácia para a disseminação na internet que arruína as vendas das discográficas. Lee que em 2010 reconhecia uma crise de falta de inspiração, conseguiu compor umas 6 faixas em poucas semanas. Mesmo assim, e apesar de porem à disposição as faixas de Bu2b2 e Caravan às audiências, o resto do álbum levou o seu tempo a produzir. Tal se deveu ao tempo que os Rush têm vindo dedicando à estrada, situação que implicou o adiamento do álbum. Não admira que Lifeson recusasse um álbum conceptual. Clockwork Angels, ao contrário do que o título pode sugerir, é uma boa colecção de músicas, Rush style. E podem crer que o estilo dos Rush está bem presente. E há uma marca que acompanha desde Snakes & Arrows. Portanto como vos disse, é Rush eléctrico no verdadeiro sentido. Se quiserem revisitar Rush era sintetizadores, podem contentar-se com Halo Effect.
Dito isto pergunto, quando é que a magia dos Rush toca em Portugal?

terça-feira, 5 de junho de 2012

ANATHEMA - WEATHER SYSTEMS (2012, KSCOPE RECORDS)

E tal como uma mudança d'estações, os Anathema encontram-se a explorar uma mudança de paradigma. Ainda mais profundo que outras bandas. E pelo contrário não foi uma viragem comercial, tendenciosa, com um propósito discográfico qualquer. Os Anathema estão a colher os frutos do seu próprio retiro espiritual, algo que faz lembrar a quase súbita viragem dos Beatles a leste, e de repente, vieram Revolver, Sgt. Pepper & White Album.
Os Anathema são uma experiência quase oposta e ambivalente, mas ao mesmo tempo simbiótica. O próprio reverso do seu Yin & Yang. Poucas bandas são aquelas que se mantêm fiéis ao estilo, duros, quase fundamentalistas, e até mesmo dogmáticos. Para alguns, essas bandas são fortes, autênticas fortalezas. Mas para muitos, são incapazes de se recriar, de se revolucionar de trazer algo novo. E aqui surge a virtude do movimento progressivo - transpor barreiras.
Os Anathema encontraram outras musas, e em boa hora o fizeram. Nos últimos dois anos lançaram 3 álbuns de originais, um feito igulável ao experimentalismo dos anos 60 e 70, quando a música viajava a mil à hora.
E não é de estranhar, porque a música que têm feito é de uma beleza e uma inspiração imensurável, e um ponto de viragem abismal na sua carreira. Como se tivessem gasto anos e anos da sua carreira no doom metal. Revisitando os Pink Floyd de Meddle e Atom Heart Mother, e a corrente espiritualista dos Sigur Rós, só que compreensíveis.
A dualidade que falava há pouco reverte-se em tantos aspectos, mormente a polaridade voz masculina e feminina. E a parte vocal é algo de sentido muito forte e presente, que não pode ser descurado, num estilo que se pode apresentar tantas vezes com queda instrumentalista. E algo com que nos podemos esquecer é a importância das 6 cordas. Muitas vezes em forma de harpejo, podem esquecer os solos extensos, porque o importante é criar o ambiente certo. A atmosfera começa pausada, crescendo paulatinamente..... subitamente, aquela voz. Weather Systems tem vários exemplos desta construção, a começar por Untouchable Pt.1 ou Lightning Song.
A maneira como as letras e a música se conjugam é estrondosa, capazes de impor um ritmo da batida de um coração (The Strom Before The Calm), culminando num final épico. Em toda a parte vemos a importãncia que assumem as teclas na construção destes espaços imensos, compensados pelas guitarras crescentes, e a bateria rufante. A construção base é a mesma, mas a susceptibilidade de nos levarmos, de viajarmos por estas faixas ao centro de nós mesmo é avassaladora. Somos induzidos à introspecção.
Apenas The Storm Before The Calm, apresenta Os Anathema no seu cenário mais electrónico possível, uma viragem tão significativa quanto a dos Radiohead em Kid A ou OK Computer.
Tivesse surgido mais cedo, a nova corrente do anathema de We're Here Because We're Here, Falling Deeper, e Weather Systems teria presença obrigatória ao lado dos hi-fi's nas lojas de electrónica.

sexta-feira, 1 de junho de 2012


ANDREW BIRD - EYEONEYE


Aqui está o novo teledisco de Andrew Bird. Por alguma razão a capa faz-me lembrar Americana. Nada a ver.....