terça-feira, 22 de março de 2011

ROGER WATER - THE WALL LIVE, 21.03.2011 - PAVILHÃO ATLÂNTICO

Quem conhece a História dos Pink Floyd e dos seus vários membros, sabe como The Wall é dos discos, se não o disco mais importante da carreira dos Floyd, e por consequência do próprio Waters. The Wall assume uma importânica tal, e é uma ideia tão forte, que acabou por despoletar uma guerra, ou agravar as tensões já existentes no seio da banda.
De facto estas tensões ainda existem, se bem que já muito cicatrizadas, e já pagadas pelo tempo que teima em levar as vidas destes génios musicais que se uniram num dos melhores colectivos que a música contemporânea já produziu. No entanto, Waters continua a apelidarThe Wall como seu filho, esquecendo-se de todo o contributo musicalfeito por Gilmour e de arranjos musicais e de produção, para o qual todo o colectivo dos Floyd colaborou. Mas diria , que tudo isso são águas passadas, cheiram mal é certo. Mas há que olhar para The Wall como o derradeiro espectáculo do rock.
Tão cinematográfico, tão psicológicamente denso, abordado temas tão fulcrais como educação, guerra, loucura, e a influência anestética e alienante de um concerto de rock que Pink vem à rua em In The Flesh? tomar as rédeas de um estado totatlitário. No fundo the Wall é uma revolta interior entre o indivíduo e tudo o que constitui um rótulo, ou uma «brand» (será essa a ideia na mente anglofona de Waters) de uma qualquer estrutura colectiva. Qase diríamos que The Wall é um rebeldia anárquica, sem estampas de esquerda ou de direita. Waters pegou nessa ideia e desenvolveu-a hoje para uma qualquer forma de revolta política, económica e social. De facto, The Wall é tudo e é nada, e o seu misticismo ultrapassa todas as outras encenações operáticas de uma banda de rock. E acreditem, que as outras, Tommy, Quadrophenia e The Lamb Lies Down on Broadway tem o seu valor e sgnificado bem profundos.
Entre os 30 anos que já distanciam a digressão original e os 20 da recriação berlinense, Waters viu numa legião de velhos e novos fãs, obcecados tanto pelo saudosismo como o vazio do impacto do universo vasto, mas coeso do art rock, representado numa pouca série de bandas reduzidas ao anonimato ou ao exacerbado empenho técnico, incapaz de cativar as grandes massas, voltaram-se para os clássicos, que por esta altura, já tinham a sua carga mística intensa e imaculada. As novas gerações, como eu, olhavam para o passado com fascínio e curiosidade, longe dos palcos fantásticos e lendários, que preencheram a mente de gerações de jovens em plenas revoluções sociais, e faltaram por mero acidente temporal, a esses momentos históricos.
E como não há bandas de tributo que possam jamais substituir o original (ainda que em formto parcial), cliché, mas para quem adora música, bem verdade, lá fui encantado assistir à repetição da história. A lição gravada na minha mente como uma tatuagem - já que Is There Anybody Out There? The Wall Live 80-81 é um dos meus discos preferidos de sempre e para mim o verdadeiro formato do The Wall- . E o alinhamento não enganou, só há 30 anos. The Wall foi tocado quase, tal e qual, arriscaria a dizer como foi tocado no formato acima referido. E ainda bem, não queria que me faltasse o inédito What Shall We do Now? que tanta intensidade e enfâse dá à interlocução Empty Spaces. Nem mesmo a faixa Last Few Brick que é uma variante instrumental de várias músicas, nomeadamente as já referidas Empsty Spaces ou Young Lust, como Another Brick in The Wall.
E Waters é um homem de palavra e fiél ao seu trabalho. Registos que olhando para trás e, mesmo não sendo apenas dele (volto a frisar esta ideia), foram recriados. Digam-no, o Prof. a Mãe, a namorada, o porco, o spitfire, e aproveitando e aprofundando há já sua orientação poltica Orwelliana. Valeu o dinheiro, e quem assite entende o seu valor. Aspecto aliás que já não é novo. A digressão do The Wall de 80-81foi uma das mais caras de sempre, tendo os produtores desse espectáculo os Floyd, excluindo Rick Wright que estava a soldo, tiveram um prejuízo do caraças. Mas hoje com toda esta tecnologia, bem mais fácil de recriar.
Mas venha o mais pintado dizer que The Wall 09-11, ultrapassa 80-81 quando podiam ver Gilmours a solar no topo do muro. De facto esse momento, tal como o ser humano, é irrepetível, e mais do que este, é inantingível.