domingo, 13 de fevereiro de 2011

UNITOPIA - ARTIFICIAL (2010, INSIDEOUT)

Bem, para muitos leitores, este nome poderá parecer um parafrasear de uma obra de ficção científica ou alguns conceitos dispersos sobre uma nova investida surrealista. Bem, não é bem disto que estes novos australianos na estrada vêm tratar.
Com uma corrente bem jazzística, e com um percepção muito beatlesca do rock progressivo, estes marsupiais seguram com artificial a sua presença nas novas correntes progressivas. E desde cedo percebi, que estão aqui para ser adorados ou odiados.
Tesla foi o nosso primeiro encontro, e após umas setlists compridas, a voz narrativa de Mark Trueack, com um toque carismático próprio, e um traço fisiológico que dá para tudo, menos para frontman, parti para a história futurista dos Unitopia.
Bem, esta versão mais soft da história de Exterminador, explora aquilo que é tema de sobremesa para muitos filósofos: a existência de intelegência artificial. Para nós reucpera em termos líricos aquilo que as melhores bandas progressivas já fizeram, a capacidade de narrar contos. Os exemplos são inúmeros - 2112 dos Rush, The Lamb Lies Down on Broadway dos Genesis - vocês digam-no. As músicas seguindo um fio condutor, desenvolvem-se, como vários capítulos da mesma história, conseguindo dar essa percepção ao ouvinte.
Outro carisma recuperado, é a dissecção dos vários temas. Compreende-se que os Unitopia não são compositores tradicionalmente progressivos. Basta ver que uma das referências do guitarrista é o gigante do blues rock - Mark Knopfler. E quando escutamos Tesla e outros temas mais extensos, é como dissecar um corpo. Partes de música bastante diferentes interagem muito bem entre si, mas o carácter evolutivo, de uma só grande canção não se pode dizer que exista, como por exemplo, seria uma Count of Tuscany, ou um Deliverance.
No entanto os fenómenos de transição entre as várias parte da música funcionam até bastante bem, com baixo pujante, e bem presente, com um groove funk rock, e um execlente trabalho dos saxofonistas.
Já a dicotomia entre as variações de tempo rápidas e mais brandas, designando estados de urgência ou de medo, enquanto se assiste à extinção da raça humana.
Os Unitopia parecem um desabrochar tardio, mas benvindo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

CASINO JACK DE GEORGE HICKENLOOPER (2010, ART TAKES OVER)

Viva companheiros. Há já algum tempo que não vos escrevia e espero que esta hiatus tenha contribuído para novas e mais inspiradas ideias da minha parte.
Em parte, devido ao delírio da febre, fiquei preso às 4 da manhã a ver este «doc-drama».
Muitos não gostam do Kevin Spacey, mas desde que vi Recount, e claro Se7enm Spacey tem estado nos trabalhos mais controversos e no campo do cinema de «intervenção» por assim dizer, demonstrando-se como um dos actores mais prolíficos e com uma queda inata para escolher argumentos. Aliás, isso diz muito dele como produtor.
Passando ao que interessa. O filme faz questão, de frisar, de imediato, que a história se baseia em factos verídicos. E mesmo que nos tenha passado um pouco despercebido (duvido com a influência que o Conan já tem por terras lusitanas). Como é natural, a trama tem que ser bem delineada e orientada para que se perceba um argumento que normalmente envolva crimes de colarinho branco. Especialmente, os de escala federal.
A frase mais controversa, e aquela que mais choca os nossos brandos costumes, é que um lobista, como o nosso amigo Jack Abramoff, judeu republicano convicto, jurista graduado pela Brandeis University, é a profissão e actividade de um lobista está protegida pelo direito de petição (right to petition and adress the government for grievances), isto é, é um modo de exercício de um direito, e portanto tem tutela constitucional. Por consequência é legal. Dúvido que os Pais Fundadores do E.U.A. tenham previsto as implicações da 1ª Emenda, ou que ela pudesse ser vista, como destrutiva do próprio sistema. Comprar alguém, significa peticionar por um determinada peça legislativa?
Bem, o filme começa pelo fim. Jack Abramoff cai no fim de uma ascensão megalómana, finalmente se vê preso na sua própria armadilha, julgado pelos mesmos que fez chegar ao poder. Desvirtuado da razão.
Quem viu Capitalismo - Uma História de Amor, ou mesmo Wall Street - The Money Never Sleeps, sabe que a personagem principal não é em si, uma pessoa real ou fictícia, mas a moral ou o perfil moral do ser humano, aqui em foco a ambição, nem sempre boa, e desmedida, nunca boa.
O foco desta longa metragem cabe no talento de Kevin Spacey, um actor afastado do enfoque das luzes das grandes produções megalómanas, e bem, sempre dedicado ao cinema independente, não só financeiro, como em termos de argumento. Jack é assim caricaturado, como um homem de grande poder nos bastidores em como não podia deixar de ser, um homem cheio de paradoxos, e brilhante nas falsas verdades, e nas frases-chaves da política americana que, inesperadamente, lideram sempre os mesmos à vitória. «E o Povo paga isso?».
E o poder, significa influência, que sempre há-de chegar ao dinheiro que, por sua vez, compra mais poder. Até o ciclo ser interrompido, e aquelas peças de xadrez que foram cuidadosamente colocadas no tabuleiro, se viram contra o jogador. E, mesmo assim, tinha o jogador costas bem quentes, e grandes amiguinhos. Mas, e nisso temos de ser abonatórios dos americanso, uma vez expostos ao público e á justiça, ter amigos não chega.